sexta-feira, 30 de julho de 2010

BREAKING NEWS

13º capítulo...escrito!
Ah, e tal, e agora também sou consultora do Museu de Arte Popular.


segunda-feira, 19 de julho de 2010

SUMOS


Para clarificar ideias, centrifugar beterraba, laranja, maçã e cenoura.

sábado, 17 de julho de 2010

OS CSIPETKE DE GEORGINA

Georgina foi uma das doze mulheres que entrevistei lá em cima. Uma mulher diferente de todas as outras.
Filha e neta de húngaros, Georgina é, ainda hoje, uma mulher dividida entre duas culturas. O pai, jogador de futebol na Hungria, viajou em 1926 com a sua equipa até à Madeira. A convite do Nacional ficou a jogar no clube e, um ano depois, passa a integrar o Marítimo. Em 1925 tinha já nascido na Hungria o irmão mais velho de Georgina. A mulher e o filho, juntam-se-lhe na Madeira e, em 1929, já com a dupla função de treinador-jogador do Futebol Clube do Porto, nasce a irmã mais velha de Georgina, na invicta.
Mas esta criança não ficaria a viver em Portugal por muito tempo. A mãe decide levá-la para viver com os avós maternos pois estes, com a vinda da filha para Portugal, tinham ficado muito sozinhos. Durante um ano, a mãe de Georgina habituou a filha mais velha ao convívio com os avós e, depois, regressa a Portugal. Seria uma decisão trágica que exporia, anos mais tarde, a já adolescente rapariga aos horrores da II Grande Guerra.
Em 1932, na freguesia de Paranhos, nascia Georgina. A família não ficaria para sempre na cidade do Porto. Em 1935, o pai irá treinar o Braga. Soutelo, em Vila Verde, é a localidade que desperta as memórias alimentares mais remotas de Georgina. Em casa, só se comia comida húngara. Dois anos depois, com o convite para treinar o Sporting, o pai de Georgina traz a mulher e os três filhos ficando a família a viver em Paço de Arcos até 1944. Em 1938, nascia o irmão mais novo de Georgina.
Paço de Arcos representa, nas memórias de Georgina, o lugar mítico onde a mãe ensina aos filhos um modo de vida profundamente influenciado por Sebastian Kneipp, o padre bávaro criador da naturopatia e defensor da hidroterapia. Georgina era uma criança franzina e muito doente e acredita ter sido a alimentação natural, aliada a intenso exercício físico que incluía longas e diárias caminhadas de Cascais ao Guincho, juntamente com a prática da hidroterapia que lhe permitiriam sobreviver a uma infância que estava, também ela, condicionada ao racionamento alimentar da II Guerra Mundial.
A mãe recorria aos ensinamentos de Kneipp para tratar não apenas as frequentes amigdalites da filha, como também para cuidar de toda a prole quando as doenças infantis chegavam. Ultrapassadas as fragilidades da saúde na infância, Georgina torna-se campeã nacional de ténis na adolescência. A prática desportiva era naturalmente influência do pai e da mãe a qual nadava nas praias da Linha de Cascais, no Tejo e em redor das Berlengas. A família regressaria ao Porto em 1945, depois do nascimento, no mesmo ano, da irmã mais nova de Georgina. A Portugal regressaria, também, a irmã mais velha de Georgina, profundamente traumatizada pela II Guerra Mundial.
Posteriormente, iriam viver para o Algarve, onde o pai treinaria mais duas equipas de futebol. As viagens constantes do treinador dificultaram a consolidação de relações de amizade com os colegas da escola. Georgina queixa-se de um desenraizamento que continua a sentir, afirmando que não pertence a nenhum lugar. O casal e os cinco filhos viviam uns para os outros e em casa só se falava húngaro. O pai é recordado como um homem autoritário, íntegro e puro e a mãe como uma fada. Ambos proporcionaram aos filhos o que Georgina define como numa infância felicíssima.
De volta a Soutelo, novamente para o pai treinar o Braga, Georgina inicia o seu curso no Magistério Primário. É também em Soutelo que conhece aquele que viria a ser o seu marido. Recorda o momento como um acontecimento mágico e romântico. Casam-se em 1953.
O casal teve dois filhos; uma rapariga e um rapaz, ambos nascidos em Braga. Com o casamento, Georgina começa a comer, pela primeira vez, comida portuguesa confecionada pelas criadas lá de casa. É também somente após o casamento que Georgina prova álcool. As mudanças na dieta levaram-na à cama e só lhe valeu uma cura feita nas termas de Chaves no ano de 1954. Da mãe pouco aprendeu a cozinhar porque ela preferia que a filha se dedicasse aos estudos e não às aprendizagens culinárias. É o marido que, após o casamento, lhe foi ensinando algumas receitas portuguesas.
Mantém uma relação funcional com a comida, referindo que come para comer e não vive para comer, rejeita as comidas excessivamente gordurosas e açucaradas e não aprecia o que é normalmente caraterizado como comida transmontana. Refere-se, frequentemente, à comida dos transmontanos como a comida deles e à comida húngara como a nossa comida. Atualmente, Georgina, que enviuvou em 1997, vive sozinha na sua quinta. E os filhos e os netos vivem na zona do Porto. Dos irmãos, apenas estão vivas as duas irmãs que vivem em Vancouver. Georgina viaja com muita frequência. Conhece quase toda a Europa e gosta de provar a comida dos lugares que visita. Diz que as viagens sempre fizeram parte da sua vida mas que continua a sentir-se desenraizada onde quer que esteja. Na Hungria, numa viagem feita há sete anos, já não conseguiu encontrar ninguém da sua família.

Hoje lembrei-me dela. Desta mulher que espelha uma infinita serenidade. Falou-me um dia dos csipetke que a mãe colocava nas sopas e de como tinha saudades dessas comidas.
 
Em casa dos meus pais comia-se sopa, aquelas sopas de natas, e com um prato daquela sopa também fica uma pessoa saciada. Muitas vezes era só a sopa com a massa que ela fazia. As sopas húngaras são autênticas refeições: tem batata, tomate, pimento, aqueles lençóis de massa, nata, tem tudo. E depois frango. Comíamos pouco peixe, porque na Hungria também não há peixe, a não ser peixe do lago. Eram mais aves que comíamos, ovos, cogumelos, mas pão não se comia à refeição. Fruta à sobremesa ou então ela fazia bolos tão bons e nós comíamos logo tudo.
 
E hoje decidi fazer csipetke. Bom, não serão os verdadeiros csipetke, mas um bocadinho de criatividade não faz mal a ninguém:)
Juntei 200 gramas de farinha a 2 gemas de ovos, salsa e alho bem picadinhos, uma pitada de flor de sal e água qb para fazer uma massa elástica. Amassa-se bem, faz-se um rolo e cortam-se pedacinhos bem pequenos.
Entretanto, tem-se ao lume uma panela com água a ferver e vão-se deitando os csipetke para cozer. No máximo uns dez minutos. Atenção que se ferverem pouco tempo, a massa não coze no interior. E aumentam bastante de tamanho.
Retirar com uma escumadeira e deitar logo num recipiente onde já se tem um pouco de azeite e sumo de limão. Juntei feijocas cozidas e um pouco de requeijão.
 
 
Também fiz uma salada. Não posso dizer para acompanhamento, porque segundo as teorias do Dr. Bircher-Benner, todas as refeições devem começar com um prato de vegetais crus, para se evitar a leucocitose digestiva. Assim fiz. Neste caso juntei alface, cenoura, cebola e sementes de abóbora.
 

sexta-feira, 16 de julho de 2010

NO QUINTAL DA OVELHA

Há feijões (apinhados de piolhagem) que plantei...


E mais feijões dos quais se esperam feijocas daqui por uma semana...


Tagetes para afastar as pragas...(agora fiquei na dúvida se lhes chame marigolds...)...


Acelgas plantadas à sombra que pouco se desenvolveram e aguardam transplante para área mais ensolarada...


E muitas, muitas, muitas ameixas...

terça-feira, 6 de julho de 2010

DOCE ARROZ DOCE


Um dia destes acordei e tive o meu momento epifânico: "Ah! Vou inventar o melhor arroz doce do mundo!". Consultada a grande especialista,  minha prima Xandinha, que se auto-intitula uma "snob do arroz doce", foi-me transmitido que o arroz doce deve ser feito com gemas e ter uma textura cremosa.
Ei-lo. Claro que depois tive uma crise de fígado. E só usei 6 das 24 gemas que fui comprar ao mercado.
A experiência permitiu-me ultrapassar reticências de longa data em relação ao mesmo. E percebê-las. É que sempre me deram arroz doce sem gemas e/ou demasiado seco. Mamãe argumentou: "Mas o meu é assim igualzinho a este, só não leva gemas!". Sim, sim, e eu sou uma pitonisa pós-moderna.

Estou seriamente a pensar comercializar o dito, embora depois do biryani de lentilhas, cajus e coentros que produzi ontem à noite tenha voltado a ficar soterrada em dúvidas existenciais. Também considero a hipótese, lá para outubro, de fazer como o Bill Buford fez em Nova Iorque e oferecer-me para trabalhar à borla no restaurante do Yotam. Agora que ele editou um livro sobre vegetais, sou capaz de lhe perdoar as almôndegas de borrego.

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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