sexta-feira, 29 de julho de 2011

BICHOS

(Da vila)


(Da serra)
Daqui a pouco arranco para Fafião para ir ouvir da vezeira das vacas.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

FILHÓS DE MILHO MIÚDO

(Sarapatel para untar a sertã com azeite para fazer as filhós)

Passei todo o dia  na freguesia de Salto. Comecei com o tema as filhoses em casa da D. Irene, passei pelo acampamento hippie ao entardecer e terminei com um chá no restaurante da Maria, Borda D'Água, já noite bem avançada.

Este milho vem de um familiar de Agra. Foi uma tradição do avô do meu sogro que ficava com aquelas amizades, porque o avô era de Agra e nós mandamos-lhes broa centeia que se benze no São Sebastião e eles mandam-nos um quarto de milho-miúdo. E dá muito bom paladar. Nós não pomos só o milho-miúdo, pomos farinha milha, farinha branca de neve e farinha de milho miúdo e tem que se moer como o centeio. Depois bota-se conforme a quantidade que se quiser fazer. Antigamente  fazia-se na sertã ao lume. Depois fazia-se um sarapatel. É uma toalhinha velha, ata-se este fiozinho e vira-se assim e passa-se num tachinho com azeite porque o óleo é muito falso, ou então banha de porco. Este sarapatel guarda-se de ano para ano (D. Irene, aldeia de Paredes, Salto).

quarta-feira, 27 de julho de 2011

TOURÉM III - CHOCALHOS

Chocalhos e campainhas do Pardalinho de Alcáçovas. São dezanove tamanhos distintos de chocalhos que o Paulo tem à venda na sua loja em Tourém. Vende às pessoas da terra, aos emigrantes que têm fazendas no Brasil e que todos os anos voltam à terra e levam recordações, criando, deste modo, circuitos globais de objetos que transportam os sons da terra até muitos milhares de quilómetros de distância.

Estamos a falar de 400 cabeças de gado e  ainda as vão adornando com isto, e com as correias, ainda se vai gastando. O tamanho que se gasta mais aqui, estes dois, o 16 e o 14. Aqui não se nota, mas se o puser a tocar naquele alto, sente-se aqui. Quanto maior for o chocalho, mais se sente. Isto é claro que antes vendia-se muito mais do que agora, antes era o dobro. E depois há as chocalhinhas. Que seria para a fazenda miúda, para as cabras, para as ovelhas e há quem os utilize em cães. O que era imprescindível era que o gato tivesse um pequenito. Gato que se prezasse tinha um chocalho pequeno.




Depois ainda fomos fotografar algum do gado que estava na aldeia e revisitámos a horta mágica da D. Maria e o museu privado do sr. José. Para a semana, voltaremos.

terça-feira, 26 de julho de 2011

DE VOLTA

Assuntos resolvidos lá em baixo e estou de volta a Montalegre. Depois da noite do trator canino, compensei-me no silêncio do meu quarto da Figueira. Não quer dizer que nesta altura do ano as noites sejam silenciosas por lá. As gaivotas pequeninas estão prontas para os primeiros voos e as mães chamam por elas toda a noite. Mas eu adormeço embalada pelas falas delas. A janela aberta com as persianas a deixar entrar o ar frio da noite por entre as frestas. Mesmo no inverno. Mas o que eu gostava mesmo era de ter uma janela no teto e adormecer a olhar para as estrelas.
Comi as framboesas do pé que plantei há um ano e os physalis plantados há uns meses. E depois esfreguei as mãos no alecrim/rosmaninho(???) porque gosto de sentir nas pontas dos dedos os perfumes das ervas.
Estou de volta. Que bom :)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O trator foi para o quarto dos donos. E eu vou ver se durmo.
Deprimente, deprimente é estar acordada a esta hora porque a cadela ressona como um trator.

UMA OVELHA EM VIAGEM

A ovelha veio à cidade grande encerrar assuntos pendentes. Há um ano, quando fechou a porta da cidade grande, disse que "nunca mais". Mas depois voltou. E houve coisas boas e más nessa volta. Experiência de vida, sobretudo.
Agora, voltou a fechar a porta. Já não precisou de dizer "nunca mais". Os ares lá de cima deram-lhe a tranquilidade necessária para tornar desnecessária a promessa do definitivo. A ovelha fez as pazes com ela, com o passado e com a vida.



Espera-me mais uma semana alucinante. As entrevistas dos últimos dias lá em cima vieram comigo e estão a ser transcritas antes da nova safra. Voltarei a Tourém, a Salto e irei a Fafião e Pincães.
Desta vez, a ovelha sobe aos montes devidamente apetrechada com o equipamento necessário para cozinhar dignamente. É que isto de viver em modo de acampamento dentro de casa já me começava a cansar :)


sexta-feira, 22 de julho de 2011

DAS MEIGUICES

O sr. Francisco de Tabuadela tem o mar dentro dos olhos. Quando se chega ao pé dele parece até que se ouvem as ondas. É um homem tranquilo com a inteligência que assiste àqueles que estão sempre dispostos a questionarem as suas certezas. Ontem cruzei-me com ele nas ruas da aldeia da Reboreda. Ele a subir num trator que teimava em engasgar e eu a descer de carro depois de ter deixado o pão em casa dele.
Sempre que lá vou entrevistá-lo, a mulher traz-nos um tabuleiro com café e biscoitos. E eu, depois de tantos anos no terreno, continuo a sentir-me constrangida em aceitar (mais) estes gestos de boa vontade.
Talvez por acreditar que as pessoas que deixam que eu invada as suas vidas de uma forma tão íntima, já me estão a dar tanto que aceitar qualquer extra, como uma simples chávena de café, é (mais) um peso para mim. Não será, certamente, para elas. Mas eu sinto-me sempre em dívida. Uma dívida que permanece para além do término do terreno.
Depois também é o problema do coração a disparar de cada vez que bebo café, mas como faço? :) Digo-lhes que fico feliz se me derem uma peça de fruta? :)



É que eu chego do nada. Mesmo que haja sempre quem tenha a generosidade, como ontem, de me apresentar às pessoas que vou entrevistar, eu chego do nada. Não me fazem aquela pergunta tão bonita que costumam fazer à Dina, a câmara-woman que me acompanha no terreno e que é daqui: A quem pertence?
Porque eu não tenho pertença aqui. Embora, estranhamente, me sinta como se os céus, as terras e as águas daqui estivessem sempre estado à minha espera e eu à espera de os (re)encontrar.



Por isso, retribuo como posso e sei e gosto. Com meiguices em forma de comida. Mas também, para o conseguir fazer, tenho de ultrapassar os meus receios que residem na antecipação dos possíveis constrangimentos que vou causar nos outros. Ultrapassados os receios iniciais, bom, aí não há volta a dar :)



Tenho o frigorífico cheio de dádivas recebidas dos colegas aqui do museu e de pessoas com quem me vou cruzando no meu dia a dia e que nada têm a ver com a minha investigação. Já nem sei o que faça com tantas couves :)



quinta-feira, 21 de julho de 2011

MIMOS COM MANTEIGA

Aproveitei a viagem destinada a estabelecer dois novos contactos e hoje à tarde fui a Salto dar mimos de pão. Bom, eu gosto de fazer a comida que ofereço. Estando desprovida (por enquanto, por dias...) dos equipamentos necessários à confeção da mais saborosa tarte de frutos silvestres e do melhor arroz doce do mundo, tenho de me contentar em ofertar comida feita por mãos alheias.

E como a produção artesanal de manteiga é um dos temas do projeto, aproveitei para fotografar, desta vez com calma e detalhe, o respetivo acervo  que há no Pólo de Salto do Ecomuseu. Às formas que se usavam para marcar as bicas de manteiga, Benta chama-lhes cornas. Vamos ver que nomes lhes dão as outras mulheres que irei entrevistar.


(Formas para marcar as bicas de manteiga)

Não ia com o objetivo de entrevistar D. Benta sobre o tema. Apenas fazer-lhe uma visita, ofertar o pão e saber dela. Mas como em casa da mãe se fazia manteiga, a conversa acabou por surgir naturalmente.

Começa por se deitar o leite num panelo de barro e pô-lo num sítio quente para que o leite comece a coalhar o que normalmente sucede de um dia para o outro. Tira-se a coroa do leite, e que é a nata, e deita-se essa nata num outro panelo e deixa-se aí a repousar. Havendo leite suficiente, em dois ou três dias é possível juntar a nata para fazer uma ou duas bicas de manteiga.  De seguida, bate-se a manteiga com a mão que tem que ser fechada por conta de não romper as unhas porque se rompe as unhas fica sangue no fundo do panelo. À medida que se vai batendo, vão-se formando uns esgadeirinhos. O tempo que demora a formar-se a manteiga varia de pessoa para pessoa.  Depende, conforme os nervos da pessoa e o jeito da pessoa. Mas é processo para durar entre uma hora e uma hora e meia. Lentamente, começa-se a formar uma bola de manteiga que se retira, ficando no panelo o leite massado.
Antigamente, para pesar a manteiga, havia quem usasse dois fios postos em cruz a envolver a bola de manteiga e uma balança de ganchos.
A operação seguinte consiste em amassar essa bola no prato de madeira. A gente faz a bolinha redondinha e depois pega na manteiga e tum, tum, tum, no próprio prato. Bota-se um bocadinho de água fresca que é para a manteiga bicar. Bicar, como uma bica. Sabe como é a bica de pão, compridinha? Ela faz uma barriguinha assim para ali e ali assim também. Primeiro bate-se assim  e fica mais larguinha. Depois bate-se do outro lado e fica larga também. E depois pega-se na manteiga, com as mãos muito lavadinhas, e bica-se assim, bate-se assim de bico e depois bate-se do outro lado e fica mais aguçadinha.
Depois, marcava-se a bica com a corna, punha-se num prato mais largo para não entortar, cobria-se com um pano de linho e guardava-se num sítio fresco. Para vender ou consumir em casa.


(Pote de bater a manteiga e prato de amassar a manteiga)

Não se punha sal, ela já vem com o tempero. Já vem do próprio leite. Porque há vacas que dão leite bom, mais gordo. Nem todas as vacas servem para fazer manteiga. A gente tinha uma vaca que dava manteiga para a casa toda e para vender e tínhamos as outras todas que nenhuma delas dava manteiga. Era o leite mais gordo. Porque aquilo é a gordura do leite. Era um amarelinho canário, uma maravilha. Não é a que se compra.

(Frasco de bater manteiga. Solução mecânica que veio substituir a operação manual)

Agora é esperar para ouvir o que me vai contar a D. Rosinha sobre a manteiga.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

MEL, DOCE MEL - PARADELA

Uau :) Foi o dia mais radical desde que cheguei a Montalegre! De manhã, a viagem por Ferral, Cabril e S. Ene. Em S. Ene uma boa entrevista e a identificação de potenciais informantes em Pincães e Fafião que ficam para a semana porque já era hora de almoço e havia que ir em direção a Paradela. Pelo mel.


Quando o Sol está mais a pique, as abelhas estão a pastar. Ou seja, estão entretidas com as urzes, as silvas, os castanheiros, os carvalhos e também com o tomilho. Na prática, significa que há menos abelhas nas colmeias, logo, é a melhor hora para ir fazer uma visita às mesmas.


Antes de partirmos para o terreno, vestimos os fatos de proteção. Quando chegámos lá acima, e com apiário a poucos metros do caminho, colocámos a máscara e as luvas. Não é fácil acertar os parâmetros da máquina fotográfica com luvas tão grossas! E controlar a ansiedade. Bom, o medo :)


Há um certo romantismo na cadência suave dos gestos silenciosos do apicultor. Como se essa suavidade permitisse a convivência pacífica com a agressividade latente das abelhas naquele breve período de tempo. E com uma sabedoria contida em cada um desses gestos, o Amadeu tornou tudo tão simples de entender.
 

Já de volta ao café do Amadeu, gravámos uma longa entrevista. A primeira de várias, porque já temos agendada nova visita ao apiário na segunda semana de agosto para acompanhar a extração do mel.


Fiquei aguada depois da conversa com o Amadeu :) Passei no Ecomuseu e voltei para casa com esta gota. Mel de urze. Aprovadíssimo. Não admira que a empresa tenha ganho o primeiro prémio no Concurso Nacional de Mel Modo de Produção Biológico,  no âmbito da 48ª Edição da Feira Nacional de Agricultura e da 58ª Feira do Ribatejo que decorreu de 4 a 12 de Junho, no Centro Nacional de Exposições (CNEMA) em  Santarém .


Barros & Fortunas LDA
Rua da Estrada, nº17
253010484

terça-feira, 19 de julho de 2011

PREGOS

A parte da manhã dedicada a transcrever as gravações e a organizar as muitas dezenas de registos visuais de ontem. A tarde dedicada a fazer marcações de entrevistas para os próximos três dias. Amanhã de manhã vamos para Ferral, Fafião, Cabril, S. Ene. A vezeira, a rega e os lagares de azeite são os temas a explorar. À tarde, em Paradela, vamos falar com um produtor de mel que acaba de ganhar um prémio nacional.
Na quinta-feira volto a Salto por causa das filhoses e da manteiga.  E, na sexta, revisito Gralhas para começar a preparar com a comunidade a reconstituição das carvoadas.

Deixo-vos mais algumas imagens do trabalho do Joe. Desta vez, pregos. É uma peça muito vulgar mas bastante trabalhosa: um prego forjado à mão. Antigamente, um ferreiro estava treinado para fazer mais de 100 pregos por hora. Por vezes, as pessoas, para certo tipo de decoração, querem peças forjadas com pregos antigos. E tem de se fazer (Joe, 18-7-2011)


segunda-feira, 18 de julho de 2011

FERRO

Tal como tínhamos combinado na última sexta-feira, voltámos hoje à Oficina para fazermos as primeiras filmagens do trabalho do Joe. Levámos companhia e chegámos ao início da tarde para acompanhar uma jornada de trabalho na forja.



Mas, graças à gentileza do Joe, acabámos por ter o privilégio de assistir a uma demonstração das diversas operações básicas do trabalho do ferro. Com direito a explicações detalhadas que tornaram esta experiência ainda mais interessante.



Apesar da modernidade de alguns equipamentos, assistir ao trabalho do Joe acabou por nos fazer viajar no tempo e, de alguma maneira, cada um de nós imaginou-se em tempos passados povoados de ritos e crenças secretos e mágicos.

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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