Olho para isto e já sei quem é banhista. Há sítios
do penedo que não interessam nada e outros que interessam muito. As pessoas que estão colocadas junto às beiras importantes são os pescadores daqui (João, 23-7-2012)
O banhista anda de fato de banho, pede emprestado um balde de plástico colorido aos filhos, pisa hesitante as reentrâncias das rochas e convence-se que conseguirá apanhar um polvo para o almoço. Dificilmente. Os daqui levam o arsenal tecnológico rudimentar mas eficiente que guardam em casa: o bicheiro, a cana da Índia, o raifol, o cofe, a nassa, a arrilhada e a picadeira, os iscos e mais o que acharem necessário. Calções de ganga, tronco descoberto, alguns de bota-calça. Os mais novos, e mais afoitos, adotaram o equipamento dos surfistas e arriscam-se, com barbatanas, mar adentro, nas rochas mais distantes da pancada do mar onde o mexilhão grande se encontra.
Já é assim há muitos anos: os banhistas produzem considerações estéticas sobre a paisagem marítima e os pescadores equacionam, sustentados na experiência, essa paisagem enquanto exercício de pesca. Enquanto uns veem águas calmas para se banharem, outros procuram pitronglas, barbachos, safios, robalos, mexilhão, camarão, caranguejo, polvo, percebes, ouriços e minhocas. Diferentes modalidades de apreciação da paisagem.
Cruzam-se uns e outros no penedo, de Buarcos à praia da Murtinheira, os banhistas de olhos postos nos pescadores, os pescadores de olhos postos nas beiras. E há também os pescadores que vêm de fora e que são híbridos na relação com o mar e com o penedo: banham-se e pescam.
No penedo, esse território fluído, por força das marés que ora o alagam, ora o descobrem. Que ganhou nomes de terra, como as Pombas, porção de rochas que foi buscar a designação a um casal agrícola situado em terra.