Há muitos anos, pouco tempo depois de ter terminado a licenciatura, decidi fazer umas aulas de olaria na Associação dos Artesãos da Região de Lisboa. Tinha uma imensa vontade de aprender e estava absolutamente convencida que tinha talento para aquela arte. Tenho a certeza que tomei essa decisão no contexto de um surto psicótico que me fez esquecer a qualidade das minhas produções oleiras no Ciclo Preparatório. Porque há pessoas que deviam ser proibidas de mexer em barro. E eu sou uma dessas pessoas. Sou absolutamente incapaz de transformar um pedaço de barro num qualquer objecto, por mais simples que este seja. As (poucas) aulas foram um tormento. O barro ganhava formas diabólicas nas minhas mãos. Acabei por desistir porque conclui que a minha presença era um insulto aos professores. A paciência que tinham para a minha falta de jeito era louvável.
Quando hoje decidi fazer wraps com papel de arroz, estava longe de imaginar que teria uma experiência semelhante às minhas aulas de olaria. As folhas de papel de arroz (de acordo com as instruções do pacote) devem ser demolhadas em água bastante quente até amolecerem. Depois, devem ser escorridas e o excesso de água retira-se colocando as folhas sobre um pano de cozinha Tudo isto implica uma destreza de movimentos para impedir que a folha se enrole sobre si mesma e tudo fique colado e parecido com um charuto cubano. A primeira folha que demolhei ficou exactamente assim. Demorei uma eternidade a descolá-la e a estendê-la no prato. Felizmente, percebi que não era imprescindível colocar a folha sobre um pano de cozinha para retirar o excesso de humidade (é a operação assassina do processo) e lá me safei.
A dobragem das folhas de papel de arroz (que são circulares), obedece a uma ordem específica para garantir que o recheio fica selado. Primeiro dobra-se a parte superior sobre o recheio, depois ambos os lados e, finalmente, a parte inferior.
Ingredientes
Folhas de papel de arroz
Arroz basmati
Folhas de aipo
Acelgas
Coentros
Cenouras
Ovos
Cajus
Óleo de coco
Flor de sal
Preparação
Cozer o arroz em água temperada com sal e escorrer. Saltear o arroz em óleo de coco até ficar bastante crocante. Reservar.
Branquear as folhas de acelga em água fervente durante um minuto. Escorrer, cortar em tiras e reservar.
Cortar a cenoura em palitos finos. Reservar.
Separar as folhas de aipo dos talhos, cortar em tiras e reservar.
Cortar os coentros e reservar.
Bater os ovos, fritar em óleo de coco (basta fritar de um dos lados), retirar da frigideira, enrolar e cortar em tiras. Reservar.
Saltear os cajus em óleo de coco e flor de sal até começaram e dourar e reservar.
Preparar as folhas de papel de arroz de acordo com as instruções do pacote (o processo consiste, como referi anteriormente, em mergulhar as folhas, uma a uma, em água muito quente, até as mesmas amolecerem, escorrer e estender). No meio da folha colocar o recheio pretendido e dobrar o círculo. Para tornar o wrap mais consistente, pode repetir-se o processo com uma segunda folha de papel. Usei apenas uma folha por wrap porque iríamos comer de faca e garfo. Mas, para usar os wraps como finger food, será mesmo mais prático usar duas folhas.
O recheio que preparei resultou do que havia em casa e na horta. Tenho uma floresta de aipo e outra floresta de coentros no quintal que atingiram proporções épicas. E aos quais é preciso dar uso. Queria um recheio com uma predominância de elementos crocantes - os cajus, as cenouras, o arroz e o aipo - e que contrastasse com elementos mais brandos como as acelgas e o ovo frito.
Metade dos wraps foram comidos ao natural. Outros, a pedido da minha mãe, foram fritos. Estas duas criaturas aqui de baixo, enquanto tirava as fotografias à porta da cozinha para aproveitar a luz do meio dia, fizeram várias tentativas para surripiarem um wrap. Mas tiveram de se contentar só com uns pedacinhos!