Este post já era para ter sido escrito há muito tempo. Na verdade, deveria ter sido escrito como post inaugural, enterrados que estavam os Brincos de Chocolate. Fui adiando, por preguiça, porque não me apetecia justificar a minha mudança radical de vida e porque sim.
Poucas pessoas, mesmo muito poucas pessoas compreenderam a decisão de me despedir do ISCSP, numa altura em que entrava na fase final de doutoramento, quando ainda me restavam dois anos para terminar o prazo para entrega da tese e tendo garantida a contratação como professora auxiliar assim que o grau fosse obtido. O que, na prática, significava passar a ganhar o dobro do que ganho agora. Mais, até.
Ouvi palavras amargas "ainda hei-de estar aqui para ver o teu arrependimento", vi olhares que achavam que a decisão resultava da minha incapacidade em terminar de escrever a tese e adivinhei pensamentos do tipo "está deprimida, coitada...".
Pois, azar. Engaram-se. Na verdade, quem me conhece sabe que eu não deixo as coisas a meio e que a tese, mesmo estando fora da carreira académica, seria para terminar, como aliás, está prestes a acontecer. Quem me conhece sabe, também, que sou uma mula teimosa que demoro a decidir, mas quando decido nunca mais volto atrás. E é bom que não se esqueçam disso, ó gente...
Sim, é verdade que a passagem por Trás-os-Montes me ajudou a tomar uma decisão que ia adiando desde há muito. Também é verdade que o meu orientador, Xerardo Pereiro, me mostrou outras formas de fazer antropologia e que hoje são estruturantes na minha maneira de estar e de ver o mundo e de me relacionar com as outras pessoas e com a investigação. Ele também é devedor desta mudança. Mas suspeito que não faz ideia... :)
Se foi difícil? Foi, pois. Em junho do ano passado já a decisão se tornava inevitável e em setembro, com o início das aulas, eu decidi que chegava. Em dezembro do ano passado entreguei a minha carta de demissão, bai-bai, e em março saía da faculdade.
Poupei durante um ano e privei-me dos luxos a que estava habituada para aguentar o embate. Os últimos meses antes da saída foram de ansiedade continuada. Até achei que andava à beira de uma síncope cardíaca.
Voltei para a Figueira. Em março, a minha casa ainda estava em obras e voltar a viver com a mãe foi difícil, foi sim senhora. Duas galinhas alfa na mesma capoeira não se entendem muito bem :) Mas a minha mãe está sempre ali para mim. E também ela me proporcionou a segurança que necessitava.
Nunca me senti desempregada e nunca disse que estava desempregada. Fechei-me em casa a escrever a tese e o trabalho ajudou-me a esquecer o facto de estar sem rendimentos. Contava, apenas, voltar ao ativo por esta altura, para ter tempo de terminar a tese com calma. Enganei-me. Em julho recebia um convite para ir trabalhar para o Museu de Arte Popular. Já tinha passado por lá há 15 anos, quando saída da faculade, fiz um estágio voluntário.
Ganho muito menos do que ganhava e tenho menos regalias sociais. Paciência. São escolhas. Mas vou todos os dias feliz para o trabalho e não deprimida como sucedia. Adoro o que faço e acredito no projeto, apesar de todas as dificuldades que aí vêm. Creio que com poucos recursos e imaginação se consegue fazer um museu do povo e para o povo. Porque é para isso que os museus existem.
Para aqueles que acharam que eu ia sucumbir, vão à merda, sim? Para os outros que sempre acreditaram em mim, como a minha querida Irene com quem almocei ontem, obrigada.
E agora com licença que vou fechar mais um capítulo.
E assim mesmo!
ResponderEliminarMas ficas a dever-me o almoço, porque sim, já o tínhamos combinado e, também, porque estou na condição de ser umas das poucas que sempre acreditei!!!
Força para o que falta (a tese).
E minha querida faz o favor de ser feliz, fazendo o que realmente gostas!
beijinhos,
Filipa
Parabéns, Ni! Custa-me acreditar que haja pessoas que, quando tomamos certas decisões, decisões que nos são dificéis e envolvem uma série de fatores, ainda vêm tentar dizer que não vai dar certo. A verdade é que às vezes erramos, sim, mas mesmo assim, decisões grandes como a tua têm a ver com tantas coisas, tantas que às vezes a pequenez de tais indivíduos não é capaz de alcançar.
ResponderEliminarAzar o deles, que escolhem viver nas suas gaiolas de medo. Percorrer o caminho do que mais amamos e queremos nem sempre é fácil, a tal felicidade vem, por vezes, permeada por sacrifícios, escolhas radicais, mudanças que não imaginávamos fazer.
Mas por tudo que fizeste, veio a recompensa! E agora é essa tese, cujo fim se avizinha e, tenho certeza, virá embalada na paixão que sentes pela vida.
Um beijo!
Parabéns pela decisão Professora! Será sempre uma pessoa marcante na vida dos seus ex-alunos, e um exemplo de força e coragem.
ResponderEliminarQue esta nova etapa seja repleta de sucesso e de reconhecimentos merecidos!
Um beijinho,
Mara Velez
Assim se fala!!!
ResponderEliminarAs decisões difíceis são para os valentes, não qualquer um consegue.
Sorte na tua nova etapa e uma rolha para cada um dos que não acreditavam em ti.
Obrigada, Lipa. Eu sei que tu foste sempre uma das pessoas que acreditou ;) E obrigada pela email :) Quanto ao almocinho, venha ele! Quando queres vir ter a Belém? Bj
ResponderEliminarOlá Dani :) A tua expressão "gaiolas de medo" define na perfeição esses críticos da mudança! Na verdade, cada vez estou mais convencida que a mudança só nos faz é bem! Bj
Mara, minha querida ex-aluna :) Obrigada! E faz favor de me enviar um mail que quero saber o que anda a fazer! Bj
Adriana :) Bota rolha nesses molengões! Já agora aproveito para te informar que dei o teu contacto a uma empresária que anda em busca de novos artesãos para a loja do Museu ;) Bj