quarta-feira, 31 de agosto de 2011

FESTIVAL DO CASTANHO

Estou, definitivamente, viciada no terreno. Neste terreno.  As duas últimas semanas foram, contudo, mais sossegadas. E trouxeram com elas uma certa frustração. Porque os informantes estavam ocupados com as visitas das famílias que chegam em agosto, pelos trabalhos agrícolas que, nesta altura, são mais intensos e por outros compromissos que, entretanto, surgiram no âmbito deste projeto.
A próxima semana, no entanto, está já recheada de entrevistas, visitas e filmagens. Ainda bem. Já sentia falta :)
Hoje, também me confortou rever o sr. Manuel Chaves. Sobretudo ver-lhe o sorriso nos olhos quando combinámos, em princípio para sexta-feira, a primeira aula para eu aprender a fazer xailes de micro-pompons. Pena não ter sido possível começar já hoje...

Deixo, a quem me visita, fragmentos de algumas das peças que estão em exposição no Ecomuseu a propósito do Festival do Castanho.

(7 guerreiros galaicos - Xaime Piñeiro)


(O trono da formiga - João Costa Gomes)


(Peça coletiva da Oficina de Cerâmica realizada no decurso do Festival)


(Brow bird try fly - Christina Kalberlah)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O TENDAL

Tenho um lençol de estopa muito antigo que a minha avó Jesuína me deu quando eu era ainda uma adolescente. Nunca o bordei, embora fosse essa a esperança dela.
Quando era ainda muito miúda, talvez com seis anos, passava as minhas tardes na loja do meu pai e na companhia da minha avó a aprender a bordar. Ponto pé de flor e ponto cheio. Terei aprendido outros pontos. Mas é destes dois que ainda guardo a memória técnica.
Foram muitas as tardes a bordar uma almofada para oferecer à minha mãe no Dia da Mãe. Uma almofada da qual ainda hoje me orgulho. Pela simplicidade que só é permitida a uma criança de seis anos. Os lavores de agulha retomei-os mais tarde, no 9º ano, quando nas aulas de Trabalhos Manuais desenvolvemos trabalhos de tecelagem. Em vez de um trabalho obrigatório, fiz cinco. Mas talvez porque tenha tido a inconsciência de dizer a uma das professoras que ela era uma má profissional (pela rudeza com que nos tratava e por não incentivar os que tinham mais dificuldades) fui penalizada na nota e passei muitos anos até voltar a pegar numa agulha.
O lençol de estopa que a minha avó me deu já esteve para ser transformado em muita coisa. Mas permanece, ainda, preservado de intervenções. Gosto da sua textura grossa. E do frio que sentimos nas pontas dos dedos quando lhe tocamos.



Quando a D. Teresa em Paredes do Rio, por ocasião da Malhada, desenrolou o tendal para impedir que os bagos de centeio voassem para fora da eira, lembrei-me do lençol que a minha avó me deu. Um tendal feito de panos tecidos no tear de D. Teresa. Cheio de memórias de muitas malhadas. Os objetos sem as memórias das pessoas parece que ficam sem alma.

Eu só podia tecer o linho no mês de março porque eram os dias mais grandes e não estava muito calor. O tear é muito puxado. Mas é muito bonito. Até criei piolhos quando deixei de tecer. Os piolhos vêm com o desgosto. Deixei de tecer há 5 ou 6 anos. O tear está novinho. Não tem nada, mas está posto, não tem é teia. (D. Teresa)


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MALHO

Não sou, nem de perto nem de longe, uma essencialista em busca de um tempo perdido como se as comunidades tivessem, algum dia, vivido completamente isoladas do resto do mundo que as rodeava e como se fosse possível, ou melhor, desejável, cristalizar essas comunidades num tempo irreal, artificial e pouco dignificante para os indivíduos que as compõem.
Abundam, no entanto, essas estratégias de patrimonialização ancoradas a um histerismo folclorista pouco ou nada atento àquilo que as comunidades pensam de si mesmas. E querem. E o que pensam também nunca foi homogéneo. Muito menos o que querem.
Fazer antropologia é, para mim, e mais do que tudo, escutar as pessoas, independentemente daquilo que me dizem ser mais ou menos adequado ao que as instituições locais esperam que essas pessoas digam.
Se a D. Teresa de Paredes do Rio, que tem 81 anos, me diz que quando morrer o tear morre com ela eu não lhe posso dizer, assim do nada, que o tear tem de ser entregue a uma instituição para ser preservado, porque para ela, a sua finitude é também a finitude de toda a materialidade que a rodeia. E, em última instância, o tear é dela.
Para que a D. Teresa, que tem 81 anos, possa perpetuar-se na memória local, é preciso tempo. É preciso tempo para falar com ela. Para a levar a um museu e para ela sentir que a sua vida, o seu legado e a sua memória podem ser parte desse projeto museológico.
E isso demora tempo. Demora tempo para que as pessoas e as comunidades pensem os museus como espaços onde as suas memórias coletivas e pessoais possam ser dignamente tratadas. Porque a confiança não se constrói a partir de um fugaz encontro entre o poder local e as populações. É preciso tempo.
E, se no final, a D. Teresa não quiser doar o tear ao museu, por mais absurdo, até criminoso que isso possa parecer, eu só tenho de respeitar. A questão é que acredito que o tempo, o diálogo, o respeito, o conhecimento e a confiança irão permitir que a D. Teresa doe, de forma consciente, o seu tear a uma instituição que o preserve. E que preserve, também, as memórias pessoais e coletivas que estão associadas a esse objeto.

Não sou essencialista. É certo. Mas isso não significa que não me fascinem fragmentos sonoros e visuais que estão ancorados a um passado imaginado.
Como os penteados de algumas mulheres idosas, construídos a partir de longos cabelos aconchegados em tufos mais ou menos elaborados. De uma elegância intemporal. Talvez porque me façam lembrar os longos cabelos brancos da minha avó Jesuína que eu tanto gostava de pentear. Primeiro tirava-lhe os muitos ganchos que prendiam a banana. Depois, fascinada, espalhava aquela manta branca pelas costas e começava a escová-la, cuidadosamente. Finalmente, nunca conseguia reproduzir o penteado original e tinha de ser sempre ela a fazê-lo. Mas era um momento muito nosso. Da avó e da neta mais velha. Ainda que a minha relação com ela, a partir de uma certa altura das nossas vidas, não tenha sido particularmente feliz. 


Teresa de Paredes do Rio

Fascinam-me, também, alguns dos sons que estão ancorados a um passado mais ou menos distante. Mesmo que esses sons sejam resgatados para o presente através do folclorismo fácil. Como o som dos malhos a bater no centeio. Com aquela cadência grave que, combinada com o revolteio do pirtego no ar, parece um bailado na eira.

 
Malhar o centeio na eira - Paredes do Rio

Malhos


Narigota - "cabeça" em cabedal que envolve o cabo ou mangueira

 
Correia de apôr - correia que liga a mangueira, ou cabo, ao malho propriamente dito, também chamado de pirtego


Seguidoiro - "cabeça" em cabedal que envolve o pirtego

 
Brocha - tira em cabedal que envolve o seguidoiro e o pirtego

sábado, 27 de agosto de 2011

ADEUS PATUDO


23-12-1995
27-8-2011
Meu cãozinho lindo

Tenho o coração partido

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

FERRO DA FORJA


Segundo dia do workshop do Joe no Festival do Castanho. Hoje, sem chuva a atrapalhar os trabalhos do mestre e dos aprendizes.
Até ter vindo para Montalegre e conhecido o Joe, a minha curiosidade acerca do trabalho do ferro forjado era mínima. Talvez por ser um domínio masculino onde uma mulher se sente pouco à vontade. Ou, talvez, porque na Escola Comercial da Figueira da Foz, onde andei do 7º ao 9º ano, nunca tenha tido oportunidade de trabalhar com este material. Era algo que estava vedado às raparigas. A nós calhavam os têxteis (encantada da vida) e, na melhor das hipóteses, as madeiras (idem e a mesa continua perfeita como há 26 anos).

Observar o modo como o Joe trabalha o ferro tem-me ajudado a ultrapassar este distanciamento.
Hoje, e como a câmera-woman não está por cá, continuei as filmagens (e as fotografias). Olhar, no processo de registo, para uma imagem em movimento é realmente muito diferente do olhar que se tem para uma imagem congelada.
Quando tiro uma fotografia estou sobretudo concentrada no ângulo, nos conteúdos que ficam dentro do quadrado e no modo como estes se distribuem nessa área, nas cores, na relação entre os diversos elementos.
Ao filmar, reparei que me concentrava, para além do enquadramento, nos movimentos que o Joe ia fazendo. Reparei em gestos que ainda não tive captado.
Como é que o bater do martelo na peça, e que aparentemente parece ser sempre o mesmo gesto, produz resultados tão diferentes? Em que ponto do braço, do cotovelo, ou do pulso se operam as diferenças que originam peças tão distintas?
Só experimentando, não é? :)



E obrigada pelo presente :)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

FOGO E VENTO

O tempo frio parece ter chegado (imagino os locais a lerem este começo de frase e a sorrirem da minha ingenuidade em pensar que o frio é isto...).
Apesar da casa ainda estar quente, já não consigo estar sem um casaco de lã, sobretudo quando começa a anoitecer. Suspeito que a lareira vai ser acendida daqui a pouco tempo.
A chuva, que agora cai com mais intensidade, começou hoje à tarde quando o Joe dava o seu workshop de ferro forjado no âmbito do Festival do Castanho.
Como a Dina, a câmara-woman, está de folga, tive de gerir as duas formas de registo que são habituais: o vídeo e a fotografia. Não foi fácil. Primeiro porque não estou habituada a filmar e aqueles tempos de zoom, de carregar o tripé de um lado para o outro, não são nada compatíveis com gestos que se multiplicam uns a seguir aos outros.
Por outro lado, a minha principal objetiva avariou-se e estou limitada a uma objetiva fixa macro que, por melhor que seja, obriga-me a exercícios constantes de recuo e aproximação.

De qualquer forma, é sempre fascinante ver o Joe a trabalhar. No workshop de hoje, ele esteve a ensinar os formandos a fazer algumas das operações básicas que já tínhamos tido oportunidade de registar. O que me permitiu antecipar alguns gestos para os poder filmar/fotografar.


Horas depois, aqui em casa, o meu mais recente vizinho aqui em Penedones, veio fazer-me uma visita e oferecer-me os ingredientes para eu voltar a fazer tsampa. É que fiquei mesmo fã desta finger food tibetana :) Que adoçada com mel de Paradela, ainda fica melhor.
Aproveitei para aprender um pouco mais sobre medicina tradicional tibetana. Tenho a casa a cheirar a oriente :)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

DIABOS IMAGINÁRIOS

O dia de hoje foi exemplar para perceber de que modo os relatos etnográficos que lemos ou que nos chegam de forma indireta podem ser tão distantes da realidade.
A informação era que em Cavez, aqui no concelho de Cabeceiras de Basto, na madrugada em que o diabo anda à solta, a população da aldeia, antes do sol raiar, iria ao rio Tâmega deitar uma peça de roupa interior e tomar banho na fonte sulfurosa que existe numa das margens.
As horas foram passando e nem vestígios de madrugadores a desfazerem-se das peças íntimas no Tâmega nesse ritual de transgressão :) O ritual, ou nunca existiu ou já está esquecido, porque nem as pessoas mais velhas se lembram dele.
O que se facto se continua a fazer é a lavagem, na fonte sulfurosa, das partes do corpo afetadas por doenças dermatológicas .
De seguida, vai-se à capela, na outra margem do rio, e cumpre-se a segunda parte do ritual de proteção. Beija-se a figura de S. Bartolomeu que depois é imposta na cabeça do crente.
Acredita-se que quem se submete a este ritual cura as suas loucuras, mas que quem não sofre de nenhuma patologia do foro psíquico passa, a partir desse momento, a sofre desse mal.
Eu preferi não arriscar :)



O dia ainda me permitiu ir ao Museu de Cabeceiras de Basto e obter alguma informação sobre as mulheres que Bucos que usavam o pisão de Tabuadela, do pai do sr. Francisco, para apiosarem os seus cobertores.
E no sopé da Serra da Cabreira conheci um velho pastor, verdadeiro património vivo, que um dia destes ainda me vai aparelhar um cavalo para eu montar :)
E é capaz de estar ali um informante de exceção para um próximo projeto...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

DO FESTIVAL AO S. BARTOLOMEU

Hoje, estive no Festival do Castanho, aqui em Montalegre. Aprendi, com a Gitta, a fazer um delicioso bolo austríaco. Que tem de esperar dois dias para ser consumido :(
Vinguei-me lambuzando-me com os restos do creme de recheio :)


Sorte a minha que, quando menos esperava, vieram aqui a casa ensinar-me a fazer tsampa. E agora vou arrancar ali para o Baixo Barroso. Consta que o diabo anda à solta esta noite e que está à minha espera ;)


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

DE SALTO À SERRA DA CABREIRA

Já ouvira falar dela várias vezes. D. Lúcia de Beços. Encontrei-a ontem na feira de produtos biológicos em Salto. Deixei os homens a consumir sangria e fui passear pelos poucos stands que tinha o recinto.
Num deles estava a D. Lúcia. Diz que já faz poucas coisas em lã e que agora prefere trabalhar o linho. Cardou a lã à minha frente para me explicar que são precisas oito panadas para fazer um manelo para pôr na roca. Lã que as pessoas deitam fora, disse-me.  Perguntei-lhe por quê. Botam fora. Porque dá muito trabalho fiar. E lavar a lã. E já ninguém quer trabalhar.

Depois falámos sobre as meias das pernas que tinha visto em casa do sr. Manuel em Gralhas. Por ali, em Salto, faziam-se essas proteções para as pernas, mas em burel. Convenço-me, cada vez mais, que o sr. Manuel tem em casa uma preciosidade. Que merecia uma atenção especial.

À conversa juntaram-se, depois, dois homens que tinham abandonado a sangria. As mulheres usavam as meias para passar a serra, para não picar as pernas nos tojos. Meias sem pés. Todas agasalhadas, mas com os pés descalços. Sabe que os homens olham muito para as pernas das mulheres. Antigamente as pernas tinham outro valor. Porque estavam escondidas. Veneravam-se as pernas das mulheres. Agora estão sempre à mostra!



A feira de Salto tinha, também, stands de alguns participantes do International European Rainbow Gathering 2011. Num dos stands, de uma rapariga vinda de Lugo, reencontrei-me com as minhas memórias dos Hare Krishna. Trouxe turmalinas, jade e quartzo rosa. Escolhe as pedras intuitivamente, li algures. Lembrei e deixei-me levar.



Muito mais tarde, na Serra da Cabreira, às 11h da noite, a violenta tempestade já tinha passado a sua fase mais crítica. E conduzir o jipe, atravessado por farrapos de nevoeiro que imaginei serem os espíritos inquietos da floresta a chamarem por nós, acabou por ser mais relaxante do que imaginei. Muito mais relaxante. Banho de chuva? Fica para a próxima ;)


sábado, 20 de agosto de 2011

DO AMANHECER DE HOJE



A única vantagem de estar, por estes dias, com o bio ritmo a pedir-me poucas horas de sono, reside em ver nascer o sol. E em sentir , abertas as janelas e a porta de casa, aquele friozinho da manhã a envolver-me o corpo morno ainda por espreguiçar.
Loba não usa trela.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

APPLE CRUMBLE DO LAROUCO

Uma adaptação do crumble que fiz há uns dias. Dividi ao meio as quantidades, porque não tinha manteiga suficiente, usei maçãs biológicas de Soutelinho da Raia e acrescentei mel de rosmaninho de Paradela para adoçar ainda mais.
E depois troquei por umas bolinhas tibetanas de cereais que me vieram oferecer aqui a casa ;)

BICAS E FORMAS DE MANTEIGA EM SALTO

D. Rosinha do Jorge. Abriu-me a porta de casa a sorrir como se estivesse a receber uma velha amiga. Passámos por uma imensa divisão em pedra onde cheirava a alfazema, atravessámos a cozinha e fomos conversar para um pequeno jardim silencioso.  Sob uma imensa figueira carregada de frutos maduros, que teimavam em cair a intervalos certos, D. Rosinha do Jorge explicou-me como é que aprendeu a fazer bicas de manteiga com a mãe.
Mas só as começou a fazer quando se casou. A nata, obtida a partir do leite das vacas que tinham em casa, era deitada na bilha e batida à mão. O tempo que demorava o processo dependia da temperatura. Uma temperatura muito elevada ou muito baixa pode arruinar todo o processo.


Hoje, o processo é feito com natas pasteurizadas porque já não há vacas em casa que possam fornecer o leite. As mulheres hoje também não querem aprender a tirar o leite às vacas.

Ao contrário da mãe que vendia a manteiga, D. Rosinha faz para consumo da casa e para oferecer a familiares, amigos e vizinhos. Por vezes, ainda usa a forma para marcar as bicas que faz. E que boa que é aquela manteiga :)

COMIDAS DA MALHADA

Tinha o corpo esguio e movia-se com agilidade silenciosa entre os participantes que, a brincar, já tinham reclamado por comida. Carregava, sobre uma rodilha grossa, um cesto com comida para servir aos que malhavam e a todos os que se achegassem para partilhar do mata-bicho.


Estendeu a toalha branca, destapou o cesto e de lá tirou malgas, copos e travessas compostas de fatias de queijo e de presunto. E das mãos esguias caíram, de uma forma etérea, fatias de pão. Como se ela estivesse a alimentar os filhos e não os estranhos que se achegavam junto da toalha branca.


Forças retemperadas com vinho, pão, queijo e presunto, voltou-se a ouvir o som dos malhos a cair sobre o centeio. Não se cantou. Mas, na véspera, já D. Teresa me tinha ensinado a letra:

Vamos para a eira malhar
Bater com o malho no chão
Temos que bater bem duro
Senão, não sai o grão
Nós andamos a malhar
Malhamos às carreirinhas
Temos que voltar atrás
Para malhar as carreirinhas
Espalha o colmo, espalha o colmo
Espanha o colmo espalhadinho
Lá vem o colmador
Para ir colmar o moinho


MEIAS DAS PERNAS





Enquanto faço uma pausa no infindável trabalho de transcrição das entrevistas - trabalho acumulado devido aos problemas no pc - sento-me nas escadas, a esta hora aquecidas pelo sol em trajeto descendente, e contemplo as cinco pequenas agulhas. A sexta está enfiada no trabalho de crochet e a substituir a agulha de metal e plástico.
As escadas aqui de casa são um bom lugar para reflexões. Serenas ou vulcânicas. Imagino, a partir das histórias que me vão contando, como seria há muito tempo. Pares de mãos de meninas, raparigas, mulheres e velhas a fazerem muitas meias de lã ou de algodão com estas agulhas. Em silêncio, sentadas em escadas aquecidas pelo sol, como estas aqui de casa, ou tagarelando umas com as outras.
Na quarta-feira fui a casa do sr. Manuel Chaves, de Gralhas, para agendar as filmagens para o dia seguinte. Na altura, mostrou-me um par  de agulhas (um par tanto podem ser duas como seis) para fazer meias. Umas, já envernizadas, vieram logo comigo. No dia seguinte, ontem, e na companhia da Rosa, esperavam-nos novas surpresas em casa dele.

As agulhas feitas de propósito para nós são de urze. Urze que ele recolhe ou na Serra da Lagoa ou na Serra do Larouco: Para onde vou e que às vezes veja que me agrada, já trago.
Mas as primeiras agulhas que fez na vida não foram de madeira, mas sim de metal, feitas a partir das varetas dos guarda-chuvas, quando estava emigrado em França: As primeiras que fiz foi as de metal, que a minha senhora lhe mostrou ontem. Já fiz aqui na aldeia, para muitas raparigas, elas conhecem-se, são todas amarelinhas. De madeira só fiz agora. De madeira nunca tinha feito. As meias aqui é tudo feito com as de metal

E como falar de agulhas é falar de meias, o sr. Manuel lembrou-se de nos mostrar aquilo que ele chama as meias das pernas, feitas para livrar a água das pernas. Estas, que foram feitas pela mãe há mais de 50 anos, vestia-as a gente aqui na perna, uma em cada perna, claro, e punha-lhes umas botas. Ou uns socos, havia uns socos, não eram botas, eram socos.Antes de virem as galochas usávamos isto. Depois vieram as galochas e já não andava tanto com isto.  Atava com um cordão ou baraça que estão aqui.  Este era para a gente prender aqui em cima na presilha ou no cinto e este era aqui de volta da perna. Era por fora das calças que se punham. E depois botava a gente uma croça. E depois punha a gente uma capa por cima. Eu tenho capa e croça. Era para não entrar a água aqui nos ombros. Os invernos eram muito grandes, eram medonhos. Tínhamos aqui neve uns meses diária.

E é isto que o terreno tem de bom. Cada dia, cada casa, cada pessoa tem sempre alguma coisa de novo para nós aprendermos. E tenho aprendido tanto por aqui :)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Afinal, era só cotão dentro do pc. O blogue segue dentro de momentos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

CRASH TECNOLÓGICO

Devido a um já previsível crash tecnológico, o blogue vai estar parado nos próximos dias. Até já.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

MALHADAS




A propósito da segada e da malhada realizadas em Paredes do Rio,  tinha planeado aproveitar o post de hoje para falar sobre a folclorização da cultura. E também sobre as turistificações do património. E da falta de estratégia que reside em pensar-se que o croceiro não vende croças porque ninguém apoia o croceiro. Na verdade, o croceiro não vende croças porque as croças deixaram de se usar. É o que dá concentrar as atenções no produto em vez de valorizar as pessoas, o saber-fazer e o valor acrescentado que resulta da adaptação dos materiais e das técnicas tradicionais a novos conceitos de design.
Mas como o meu programa de tratamento de imagem ACDSee bloqueou (e o meu pc agora passa o tempo a desligar-se) e estou aqui às voltas com o Olympus Master, que é tão intuitivo como uma nave espacial para um Cro-Magnon, desisti e vou passar a ferro.

sábado, 13 de agosto de 2011

NÉCTAR VITAL



Uma beterraba, duas laranjas, um quarto de uma melancia pequena e mel de rosmaninho oferecido ontem pelo Amadeu. Para celebrar a vida, num dia marcado pela memória da morte.

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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