terça-feira, 31 de maio de 2011

UMA OVELHA NOS MONTES

Cheguei a Montalegre há duas horas para mais uma aventura etnográfica.

domingo, 29 de maio de 2011

CRUDIVORISMO - GELADO DE BANANA E LEITE DE AMÊNDOA

O meu interesse pelo crudivorismo começou, na minha outra vida, com as conversas que tinha com a Susana sobre alimentação paleolítica. Daquilo que comiam os nossos antepassados aos gurus atuais do crudivorismo, foi uma questão de navegação por centenas de páginas da internet e da compra de muitos livros de receitas crudívoras, via Amazon.

Ainda em Chaves, fiz as primeiras experiências crudívoras a partir dessa literatura que tinha acumulado. O problema de alguns destes livros é que usam ingredientes que em Portugal ou não são facilmente acessíveis ou têm preços incomportáveis para que possam ser utilizados numa base diária. Por outro lado, muitas das receitas utilizam equipamentos igualmente caros, como os desidratadores. É verdade que já pensei em construir um desidratador solar mas os meus conhecimentos de carpintaria parecem ter congelado em 1984!

Das experiências crudívoras que fiz, as de sobremesas foram aquelas que me conquistaram mais rapidamente. Aliás, foi através dessas experiências que passei a só comer fruta até à hora do almoço e comecei a rejeitar os doces e os bolos convencionais. Demasiado enjoativos! Mas confesso que o chocolate continua a ser a minha grande debilidade...embora o caso já não seja tão grave como há uns anos!

Já fiz sopas crudívoras (e que boas que são!), uso brotos com regularidade e como vegetariana há mais de 22 anos, as saladas nunca me intimidaram! Mas algumas receitas referentes a preparações mais substanciais ainda não me convenceram. Experimentei fazer uma vez uma receita de sushi com aveia (seria aveia?) demolhada e o sabor era péssimo...

Uma dos melhores livros de comida crudívora que tenho é este da Ani Phyo. Não é apenas um livro de culinária. É um livro sobre um estilo de vida mais saudável e respeitador do ambiente. Uma fonte de inspiração. Ontem, quando estava a consultar o site da Ani, decidi que ia criar uma receita de gelado crudívoro de banana e leite de amêndoa. Ok, eu sei, nada de muito original! Mas como tenho tendência para menosprezar a referência a quantidades exatas nas receitas, a criação foi mais um exercício de disciplina que outra coisa!



Ingredientes
6 bananas pequenas (usei bananas da Madeira) congeladas de véspera
250 grs de amêndoa crua pelada e deixada de molho desde a véspera
1 litro de água mineral
1/2 chávena de agave
1 vagem de baunilha


Preparação
Primeiro, o leite de amêndoa. Num recipiente juntar a amêndoa hidratada e escorrida com um litro de água. Quanto mais água se usar, menos espesso ficará o leite. Triturar com a varinha mágica (bom, quem tem uma Bimby ou um robot de cozinha tem a tarefa simplificada...). Depois, coar num passador calcando a polpa de amêndoa para obter a maior quantidade possível de líquido. Com as quantidades que usei, fiquei com 750ml de leite de amêndoa.



De seguida, num recipiente grande, deitar as bananas partidas ao meio (apesar de congeladas, partem-se com facilidade) e adicionar os restantes ingredientes: o leite de amêndoa, o agave e a vagem de baunilha. Novamente com a varinha mágica triturar esta mistura.



Para utilizar a vagem de baunilha deve-se cortar no sentido longitudinal e, com uma faca, raspar as sementes do seu interior. Vale a pena guardar a vagem pois pode ser usada noutras preparações (crudívoras ou não).


De seguida, deitar na sorveteira e seguir as instruções. Quem não tem sorveteira pode colocar o conteúdo diretamente num recipiente e levar ao congelador. Et voilá!



Se ficou bom? Ficou ótimo! É doce, mas não em demasia, tem uma textura muito suave e mesmo que se coma uma quantidade razoável não enche. É um ótimo gelado-base para partir para receitas mais complexas!







sábado, 28 de maio de 2011

QUEIJADAS DE PEREIRA

Nos anos 80, recordo-me do ritual das sextas-feiras. Ela chegava por volta das 11h com um grande cesto na cabeça, tocava à porta, o Lord disparava pelas escadas abaixo a ladrar como um doido e o pregão era sempre o mesmo: "Minha senhora, queijadas fresquinhas".
O debate em casa era breve. "Compra lá", implorava eu à minha mãe. Por vezes, a mulher das queijadas apanhava o meu pai na rua e vendia-lhe as queijadas a ele em vez de vir cá a casa. Conseguia convencê-lo sem grandes dificuldades.


Não sei o que foi feito desta mulher, mas ainda há poucos anos, o mesmo ritual de sexta-feira se cumpria. Sempre gostei muito mais destas queijadas do que das Queijadas de Tentúgal que me parecem excessivamente doces. As que eram vendidas à porta de casa dos meus pais eram massudas, coisa que me agradava. Um recheio espesso e uma crosta consistente. Como se tivessem saído das mãos de uma mulher com muita força.



Na Queijadinha, em Pereira, que eu já tinha descoberto na internet há uns meses, as Queijadas de Pereira atingiram o grau de perfeição. Não são excessivamente rústicas como as queijadas que eram vendidas porta a porta por aquela mulher que chegava de comboio à Figueira da Foz, mas mantêm, ainda, uma certa simplicidade que nos remetem para comidas feitas em casa com amor.



Mesmo que eu esteja a caminhar para o crudivorismo, estas Queijadas de Pereira vão sempre fazer parte das minhas memórias. Gustativas e não só :)


terça-feira, 24 de maio de 2011

terça-feira, 17 de maio de 2011

FOTOGRAFIAS DA COLEÇÃO DO MAP - PARES FEMININOS

São recorrentes, na coleção de fotografias do MAP, imagens de pares femininos. Jovens mulheres pousando com os trajes locais e participando em performances para o júri do Concurso da aldeia mais portuguesa de Portugal. A primeira imagem pertence a Carrazedo de Bucos, aldeia de Cabeceiras de Basto, e mostra duas raparigas vestindo a capucha.



A segunda fotografia foi captada em Cambra, pertencente ao concelho de Vouzela. Ao contrário da primeira imagem, facilmente identificada no filme O Concurso da Aldeia mais portuguesa de Portugal, só consegui identificar a fotografia seguinte depois de várias visualizações do referido filme. Estas duas raparigas (irmãs?, gémeas?) aparecem, pela primeira vez no filme, diluídas num cortejo de moças. Depois, são novamente filmadas no alpendre de uma casa. Não sei se esta imagem pertence a uma das partes do filme que não foi aproveitada na montagem final ou se a pose foi para uma câmara fotográfica.



A última imagem pertence a Vila Chã. As raparigas, fiando, faziam parte de uma performance em torno do ciclo do linho para os membros do júri nacional.


sexta-feira, 13 de maio de 2011

PÃO E ROSAS

Assim à primeira leitura, poderia parecer a versão contemporânea do Milagre das Rosas. Mas não é. Não houve transformação do pão em rosas no meu regaço. 
De qualquer forma, esta história também nunca me convenceu. Além de que o temor manifestado pela Isabel ao Dinis sempre me pareceu um caso de violência doméstica encoberto. Dá pão aos pobres e mantém as massas pacificadas e o tipo ainda resmunga?!




É certo que as rosas no meu quintal cheiram divinamente. Mas o pão que fiz estava igualmente divino.

 


Misturei farinha branca (muito mais) e farinha integral (muito menos) com fermento seco previamente dissolvido em água morna e juntamente com um pouco de açúcar. Depois adicionei uma mistura de manteiga derretida em água com azeite e sal. A massa ficou bastante húmida e foi amassada largos minutos. Depois foi deixar crescer por uma hora, colocar num tabuleiro untado com azeite e deixar levedar mais um pouco enquanto o forno aquecia. Cozeu numa meia hora.



Digamos que ficou exatamente como eu queria. Muito fofo por dentro, como se a cada dentada se desmanchasse na boca, e crocante por fora. Estava tão amanteigado que a melhor forma de o comer foi mesmo assim: simples. E aos pedaços.

terça-feira, 10 de maio de 2011

BIO-AMANHECER



Uma das vantagens em se ter um quintal é poder colher alfaces logo pela fresca e fazer uma bela salada para o almoço.
É um quintal que tem, sobretudo, árvores de fruto. Mas, de vez em quando, plantamos algumas verduras, como estas alfaces que vingaram, ou como o feijão que teve tanto sucesso o ano passado.
Há uns bons anos, um amigo ofereceu-me este livro. Uma verdadeira bíblia anglo-saxónica para plantar, com sucesso, árvores de fruto, vegetais e ervas aromáticas. Muito útil e detalhado, tendo a vantagem de incluir algumas receitas deliciosas.
O que eu estou a ler, ainda em modo de preguiça na foto, é este outro. Não tão completo como o primeiro, e mais abrangente em termos de assuntos, constitui uma boa introdução para freaks, como eu, que querem ter uma vida mais eco-cool :)



sábado, 7 de maio de 2011

SOPA BIOLÓGICA

Arrastada, por uma família apreciadora de junk food, para o drive-in do McDonald's de Oeiras, foi-me depositada no colo uma sopa desse grande gigante da comida rápida.
Pronto, come-se se uma pessoa tiver muita fome e não existirem outras alternativas a dois minutos de carro. É tipo sopa de cantina escolar. Sopa de restaurante rasquinho, vá. Não é, de todo, uma sopa em que se possa dizer Sabe-me pela vida!.
Uma sopa Sabe-me pela vida! é uma sopa que enche a boca, não uma aguadilha como esta que comi hoje, e conforta a alma. É uma sopa aromática, com texturas distintas mas complementares, encorpada, envolvente que pode constituir, por si só, uma refeição.
Fiz uma dessas sopas há uns dias. Uma sopa confecionada apenas com ingredientes biológicos e que, num desses dias frios que tem havido, me soube pela vida. Aqui fica a receita. Esclareço é que não ligo nenhuma a quantidades nem a tempos de preparação. As coisas ficam-me sempre bem porque nasci com esta inestimável intuição para a cozinha.

 


Ingredientes para uma sopa biológica Sabe-me pela vida!
Água mineral
Cenoura
Cebola
Lentilhas laranja (descascadas)
Couve
Tomate
Azeite
Óleo de linhaça
Cominhos
Açafrão
Sal

Preparação
Levar a água ao lume com os cominhos e o açafrão até ferver. Deitar as cenouras e as cebolas cortadas em pedaços e as lentilhas. Juntar sal.
Quando estes primeiros ingredientes estiverem quase prontos, juntar a couve (usei as folhas inteiras) e os tomates cortados em quatro e sem sementes e deixar ferver mais um pouco.
Já no prato juntar o azeite e um pouco de óleo de linhaça (é ótimo para a pele e cabelos e permite-me ter feito ontem 41 anos e ainda ser chamada de menina...ok, o sumo de cenoura todos os dias também ajuda...).
Servir com este pão épico de millet e sementes de papoila que compro na Biosábio em Oeiras.
É garantido que sabe pela vida....

sexta-feira, 6 de maio de 2011

quinta-feira, 5 de maio de 2011

MONSANTO, 1938

Já identifiquei, no âmbito da coleção das fotografias que integravam a museografia original do MAP, três exemplares que são relativos à aldeia de Monsanto, vencedora do Concurso da aldeia mais portuguesa de Portugal. As duas primeiras que aqui são mostradas, já estão devidamente digitalizadas pela DDF.
São, à semelhança das fotografias que tenho vindo a mostrar, fotogramas do fime o Concurso da aldeia mais portuguesa de Portugal (ou de passagens que depois não foram aproveitadas na montagem final).


A segunda imagem pertence a uma parte do filme que ilustra a saída da missa, na qual, as mulheres são protagonistas. Muitas dessas mulheres trajam com mantilha de pano preto, de lã ou seda, armada com cartão na parte superior, tal como a rapariga que aparece nesta imagem.


É, aliás, um dos trajes que foi ilustrado por Carlos Botelho no Mural da Sala das Beiras no Museu de Arte Popular. Em baixo, detalhe do referido mural onde se podem ver duas mulheres, junto à Torre de Lucano de Monsanto, envergando o referido traje.


No detalhe do Mural de Carlos Botelho é também possível ver-se, à esquerda e junto das ramos da árvore, uma ilustração das celebrações da Festa da Nossa Senhora do Castelo (Festa da Nossa Senhora das Cruzes).
Segundo as palavras de Augusto Pinto, ditas por Estêvão Amarante no filme do Concurso da Aldeia mais portuguesa de Portugal:
"Também não há palavras para descrever a Romaria da Santa Cruz no terreiro do castelo quando bailam as virgens de Lusa, um velho bailado helénico, toucadas de rosas brancas".


Esta última fotografia mostra, precisamente, um dos aspetos da Romaria de Santa Cruz. Na parte que não está irremediavelmente danificada (em baixo, centro-esquerda da imagem), pode ver-se um grupo de homens e de meninas, vestidos de branco, que terão servido de inspiração para Carlos Botelho pintar este detalhe no Mural da Sala das Beiras.
Para memória futura: esta fotografia, que ainda não seguiu para a DDF para ser digitalizada, foi descoberta no edifício quando a atual equipa começou a trabalhar no MAP. Sossega-me, apesar de tudo, o facto de ser possível reproduzir esta imagem a partir do filme. Mas inquieta-me a forma como se continua a tratar o património neste país.

terça-feira, 3 de maio de 2011

PERFORMANCE EM VILA CHÃ


As performances das aldeias finalistas ao Concurso da Aldeia mais portuguesa de Portugal não se esgotaram na exibição dos dançares e dos cantares locais para os membros do júri .
Para as câmaras representaram-se tempos de trabalho em que os trajes do quotidiano eram substituídos pelas roupas de festa. A jovem da imagem, com o ouro posto ao peito, que aparece sorridente no filme conduzindo a junta de bois e lavrando a terra, é uma das protagonistas na construção de uma imagem idílica de um Portugal rural.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

OURIVESARIA TRADICIONAL PORTUGUESA

Se há universos que devem ter fascinado o António de Menezes quando em 1938 recolhia imagens do Concurso da aldeia mais portuguesa de Portugal, a ourivesaria tradicional portuguesa deve ter sido um deles. 
Abundam os planos de raparigas com o colo coberto de cordões, corações e medalhas. Numa clara performance para as câmaras, jovens descalças conduzindo a junta de bois, exibem o ouro que, habitualmente, só usariam em dias de festa.

A Manhouce (primeira fotografia) e a Vila Chã (segunda fotografia) pertencem estas duas imagens. Se no primeiro caso é possível perceber quem é a rapariga através das outras fotografias da coleção (veja-se o post anterior e atente-se na rapariga do centro da segunda imagem), no segundo caso, só a visualização do filme permitiu conhecer a jovem. Sorrindo envergonhada para a câmara :)




O Coração de Viana, em prata dourada, à esquerda da imagem, é a peça  mais antiga que tenho. Herdei-a da minha avó paterna, filha de ourives, que a usou apenas como complemento do traje de minhota que vestiu com 6 anos de idade. Os brincos à Rainha e a pregadeira são peças muito mais recentes e (ainda) sem história.

domingo, 1 de maio de 2011

MANHOUCE, 1938

Poucos dias depois de ter chegado ao Museu de Arte Popular (em agosto do ano passado), mostraram-me, em suporte digital, a coleção das fotografias que integravam a museografia original do MAP. Lembrava-me, vagamente, de algumas das imagens, quando há 15 anos, estagiei no MAP. Mas destas quatro não tinha qualquer memória.



A pergunta imediata foi: vamos vamos fazer uma exposição sobre esta coleção? Na altura, com o processo de reabertura do Museu, foi impossível concretizar o projeto, mas mantive sempre a esperança que as 138 fotografias já digitalizadas pela DDF pudessem ser trabalhadas no contexto de uma exposição que integrasse, igualmente, parte do acervo do MAP.


Como referi no post de há dois dias, algumas das fotografias são fotogramas do filme A Aldeia mais portuguesa de Portugal, realizado por António de Menezes em 1938. Ou, pelo menos, de passagens que depois não foram aproveitadas na montagem. Só a visualização de todo esse material me permitiria tirar conclusões mais precisas.
De qualquer forma, é desafiante estar a visualizar o filme e ir descobrindo algumas das personagens  destas fotografias em movimento, dançando, correndo, sorrindo, trabalhando...ou, como se suspeita, representando tarefas para as câmaras. E poder situá-las espacialmente, o que dá uma terrível vontade de ir em busca destes lugares e dos descendentes destas pessoas.


Mesmo que esteja de saída do MAP, este projeto vai comigo. Às vezes descobrem-se olhares muito ternos nas imagens do filme e nas fotografias. Outras vezes são olhares de profunda tristeza, ainda que os contextos registados sejam sobretudo de festa. Mas também há sorrisos enormes. Como a própria vida...


Estas quatro fotografias pertencem a Manhouce, uma das aldeias a concurso. Dá vontade de lá ir e saber quem foram estas mulheres, não dá?

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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