sexta-feira, 31 de maio de 2013

OS SAIOTES VERMELHOS



Explicaram-me, lá em cima, que a cor vermelha dos saiotes tinha uma funcionalidade muito própria. Nos dias em que a mulher estava menstruada, e na ausência de cuecas e de pensos higiénicos, traçando-se a parte da frente com a parte de trás do saiote (o que implicava que este fosse bastante rodado) e prendendo-se a peça com a ajuda de um alfinete de ama, as mulheres protegiam a roupa de manchas indesejáveis. Nesses dias, o saiote era usado por baixo da camisa, uma combinação em estopa, linho ou pano cru. Nos restantes dias invertia-se a ordem: o saiote era colocado por cima da camisa interior, portanto, mais longe da pele.
Para tingir esta meada, que trouxe da Casa da Lã de Bucos, usei tinta que comprei numa drogaria em Cabeceiras de Basto, onde habitualmente as mulheres de Salto se abasteciam deste produto. Desta vez, não foi preciso seguir as indicações da D. Benta, pois a tinta vinha com instruções próprias. Não tem de se ferver a lã como fiz com os líquenes do castanheiro e do carvalho. Foi tudo muito mais rápido...mas menos ecológico!


sexta-feira, 24 de maio de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O CARREIRÃO DAS MEIAS



Estas meias (e a minha mãe a servir de modelo) são um dos cinco modelos que, desta última vez, encomendei à D. Benta para a exposição "Os panos que a casa dá. Trajes de Barroso". Da última vez que lá tinha estado, trouxe três pares de caturnos todos em lã bege. Agora, vieram caturnos em lã meirinha moira (castanha), dois pares de meias e uns miotes.
Pedi-lhe umas meias como as que ela usou em solteira e iguais às que a mãe dela e a avó - a mãezinha - costumavam usar. Perguntou-me se queria que tivessem carreirão. O carreirão, tal como a Rosa explica aqui, é  uma linha vertical, a todo o comprimento do cano, onde cada volta do trabalho se inicia. 
Esta linha permitia saber se a peça estava corretamente calçada. As mulheres avisavam-se mutuamente quando a costura não estava centrada: Olha que tens o carreirão torto! Não havia espelhos e as mulheres eram os espelhos umas das outras!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O CORTIÇO BARRELEIRO

Num dos serões passados em casa da D. Benta (serão à lareira porque estava um frio de rachar!) tive direito à explicação do processo da barrela dos linhos, das estopas e dos tomentos. No fundo do cortiço barreleiro começava por se depositar um liteiro. De seguida, colocava-se a roupa do corpo e da casa bem dobrada de modo a que coubesse o maior número possível de peças. Por cima, um novo liteiro aberto e com as pontas de fora. Sobre este liteiro  peneirava-se a cinza do carvalho. Não podia ser usada outra cinza sob pena de se manchar a roupa. Fechava-se o liteiro dobrando as pontas para o centro de modo a impedir que a cinza saísse. 
Ao lume havia caldeiros com água a ferver que se iam deitando sobre o cortiço. Sabia-se que a barrela estava pronta quando a água em baixo saísse tão quente quanto tinha entrado em cima, ou seja, a ferver.
Depois, no tanque  ou no rio, lavavam-se as peças com o sabão. Era uma lavagem rápida, não apenas para poupar no sabão mas também porque a barrela já tinha retirado a sujidade à roupa. A barrela também tinha a vantagem de matar a bitcharada, piolhos e percevejos, e fazer com que a roupa aguentasse mais tempo com bom cheiro. 

(Foto cedida por à Casa do Capitão - Ecomuseu de Barroso por Maria da Conceição Lopes de Carvalho)

quarta-feira, 15 de maio de 2013

DOMINGOS DO ALTO E AS MADEIRAS


Havia dúvidas quanto à identificação dos tipos de madeira de que são feitas algumas das peças que vão ser emprestadas pela Casa do Capitão - Ecomuseu de Barroso para a exposição "Os panos que a casa dá". Veio, em nosso socorro, o Sr. Domingos do Alto. Isto é carvalho, isto é salgueiro, isto é amieiro, isto é pinho. Assim, sem hesitações, o que só é permitido a quem lidou, desde pequeno, com a matéria. E atrás das respostas às nossas dúvidas vieram outras histórias, outros saberes, outras memórias. Como as das formas dos socos feitas de vidoeiro. As melhores formas, isto é, as mais resistentes, tinham de ser talhadas da base da árvore. Rente ao chão o tronco era duro, duro, duro! O resto do tronco também se aproveitava, mas não dava socos tão bons.


domingo, 12 de maio de 2013

CASA DAS ERVAS SILVESTRES

Em vésperas de voltar ao Barroso para a última recolha destinada à exposição Os panos que a casa dá , passei o fim de semana na Casa das Ervas Silvestres aqui bem perto da Figueira da Foz num curso de Ervas Silvestres Comestíveis. 
Guiados pelo Miguel Boieiro, percorremos os caminhos do lugar de Outeiro da Moura em busca de espécies que não estamos habituados a comer. Das muitas e variadas ervas que o Miguel nos mostrou - indicando aquelas que podem ser usadas na nossa alimentação, as que têm aplicações medicinais e aquelas que, definitivamente, não devemos ingerir - algumas vão passar a fazer parte das comidas cá de casa. E vou passar a olhar para as urtigas do meu quintal com outros olhos...


Fiquei fã das flores de sabugueiro. Usadas para perfumar água, ou noutras preparações mais elaboradas, estas flores passaram à categoria de ambrósia! Já estou a imaginar um gelado de flores de sabugueiro...nham...nham....


A Jutta e a Laura prepararam-nos várias refeições com comidas que incorporaram muitas das ervas silvestres que ficámos a conhecer nestes dois dias. O fim de semana terminou com uma fantástica visita pedagógica à horta da Jutta e, por fim, a Laura fez vários shots de urtigas muito saborosos com ingredientes como a alfarroba, a banana, a laranja, a maçã, as sultanas, o gengibre, entre outros. 


segunda-feira, 6 de maio de 2013

A MARCAR O ESPAÇO


Tanta coisa aconteceu nos últimos dois meses. Tantas empatações. Alguns sustos. E também coisas muito boas. 
E, finalmente, a exposição avança! Lá para finais de junho, o MAP recebe o Barroso :)
Hoje andámos a marcar o espaço com os expositores, tentando encontrar um compromisso entre os materiais e as peças que vamos expor com os suportes que temos disponíveis no MAP. Suportes que não são muitos, que são antigos e que precisam de um extreme makeover para ficarem usáveis. Mas tudo se faz quando há vontade. 

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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