terça-feira, 29 de novembro de 2011

DEBAIXO DA TERRA - CENTRAL HIDROELÉTRICA VENDA NOVA III

Por aqui, tanto se sobe aos baldios de Fafião, como se desce às profundezas da terra. A semana passada fiz uma visita noturna aos túneis da Central Hidroelétrica Venda Nova III. Também se pode etnografar o que se passa debaixo da terra. A memória de uma comunidade não se faz, apenas, com o que sucede à superfície.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A CROÇA IV

À quinta entrevista, esclareci termos. Um dos erros que cometemos no terreno é o da antecipação. Às vezes, não vale a pena perguntar o nome das coisas ou sugerir termos quando nenhum nos é dito. Basta esperar que, de uma forma natural, as pessoas refiram as palavras certas. No tempo certo.

Pano - corresponde ao forro da croça, isto é, aos juncos que estão voltados para o interior da croça
Mechas - conjuntos de juncos que vão sendo incorporados, ponto por ponto, na croça
Medas - conjuntos de juncos acabados de serem colhidos no juncal (e atados com os baraços)
Madas - conjuntos mais pequenos de juncos que são delubados e massados
Tranças - correspondem às cordas de segurança
Tranças horizontais - correspondem às cordas que vão atando as mechas de juncos

Na construção da segunda carreira, a croça aumenta 14 pontos e ganha amplitude. A segunda carreira é construída a oito-nove centímetros de distância da primeira carreira. A técnica é a mesma que é utilizada na construção da primeira carreira: o croceiro usa simultaneamente duas mechas e duas tranças horizontais.

Como mostrei no post anterior, na primeira carreira, de três em três pontos faz-se uma trança. Isto significa que entre duas tranças existem dois pontos.
Nesta segunda carreira é preciso aumentar um ponto por cada dois. Deste modo, entre duas tranças, passam a existir três pontos. Na Imagem 1 pode ver-se, claramente, como na primeira carreira os dois pontos passam a três na segunda carreira.

Imagem 1

Para fazer a segunda carreira é necessário, em cada ponto, separar os juncos que formam o pano da croça daqueles que constituem a sua camada exterior (Imagem 2). Apenas aqueles que formam o pano da croça serão entrançados nas tranças horizontais.

Imagem 2

Vamos considerar uma sequência de uma trança e dois pontos (da primeira carreira). Começa por se separar, num ponto, a trança dos juncos que ficarão voltados para o exterior da croça (Imagem 3).

Imagem 3

De seguida, à corda junta-se uma mecha de juncos, ficando os pés dos juncos voltados para cima e as flores dos juncos para baixo (Imagem 4).
 
Imagem 4

Depois, há que torcer as duas tranças horizontais fazendo-as passar (primeiro a da esquerda e depois a da direita sobre a esquerda) por cima do conjunto de juncos formado pela trança e pela mecha de juncos que se juntou à trança. A Imagem 5 mostra esta operação embora não seja executada no ponto da trança.

Imagem 5

A operação seguinte consiste em passar a mecha do ponto anterior torcendo-a sobre si mesma e por trás da mecha do ponto que se está a trabalhar, fazendo-a descer (Imagem 6 e 7).

Imagem 6

(Imagem 7)

Nos dois pontos seguintes da primeira carreira, separar os juncos que constituem o pano daqueles que formam o exterior da croça. Dos juncos que formam o pano da croça, separar em três conjuntos de forma a obter os três pontos da segunda carreira (Imagem 8).

 
 
(Imagem 8)

No primeiro conjunto, juntar uma mecha de juncos (como se fez com o ponto da trança) e repetir as operações, isto é, torcer as duas tranças horizontais fazendo-as passar (primeiro a da esquerda e depois a da direita sobre a esquerda) por cima do conjunto formado pelos juncos correspondentes ao ponto da primeira carreira e à mecha de juncos que se juntou a esse ponto. Depois, passar a mecha do ponto anterior torcendo-a sobre si mesma e por trás da mecha do ponto que se está a trabalhar, fazendo-a descer. Repetir a operação para os dois conjuntos seguintes (Imagens 9 a 12). Assim se transformam dois pontos em três pontos.


Imagem 9

Imagem 10

Imagem 11
 
Imagem 12


sábado, 26 de novembro de 2011

MARMELADA DE FRASCO

A Maria de Salto pediu-me para eu fazer marmelada. A lasanha de espinafres e mozzarella que cozinhei no restaurante dela deve-a ter impressionado. Juntamente com as bolachinhas de manteiga e os brigadeiros de chocolate e amêndoa. E a promessa de um jantar árabe lá no Borda d'Água.
A questão é que eu nunca tinha feito marmelada. Definitivamente, não é dos meus doces favoritos. De modo que tive de combinar telefonemas para a mãe para saber da receita da avó Susana com alguma pesquisa online.
Tinha tantos marmelos para cozer que tive de ir comprar uma panela nova :) Lave-os e cozi-os com casca até ficarem bem moles. Deixei arrefecer, pelei os marmelos e retirei os caroços. 4470 gramas de polme que foram triturados na Bimby.
Depois, fiz a calda com 2682 gramas de açúcar e com 1/3 do peso de açúcar em água, ou seja, 894 gramas. A ideia era atingir o ponto de rebuçado. Nunca me entendi com os pontos de açúcar. Só descobri que o pesa xaropes, que o meu pai me tinha oferecido muitos anos antes, não media a temperatura da calda mas sim a sua densidade quando frequentei um dos muitos cursos livres que fiz na ESHTE.
De modo que perdi a paciência ao fim de meia hora à espera do ponto. Incorporei o polme e estive outra meia hora a mexer a marmelada. Borbulhou tanto que colecionei queimaduras nas mãos. É certo que não ficou com aquela textura que dá para cortar à faca. Mas é a melhor que provei até hoje. Sem desprimor para a da avó Susana. Agora segue toda para a Maria e companhia ;)
A esta marmelada de frasco é melhor mesmo chamá-la de compota de marmelo.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A CROÇA III

As cordas da croça permitem manter a estabilidade da peça. Na primeira carreira (Imagem 1) as cordas são feitas de três em três pontos. 

Imagem 1

Em cada ponto onde se faz uma corda, esta é executada com os juncos que estão voltados para o interior da croça, ou seja, com aqueles que formam o forro da peça. Como já foi explicado anteriormente, em cada ponto, os juncos são dobrados ao meio: a base do junco fica para o exterior da croça; a parte superior do junco fica voltada para o interior da croça. Na Imagem 2 podem ver-se os juncos correspondentes ao ponto onde se fez a corda: os que estão entrançados (forro da peça) e os que não estão entrançados (exterior da peça). Isto significa que as cordas nunca são visíveis no exterior da croça.

Imagem 2

Na Imagem 3 podem ver-se as extremidades dos juncos no ponto onde se fez uma corda: do lado esquerdo da imagem as extremidades inferiores dos juncos (que foram delubadas e massadas); do lado direito, as extremidades superiores dos juncos (algumas ainda contendo flores).

Imagem 3

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

XAILES COM MICRO-POMPONS - PARTE I

alguém, neste momento, a comprar um bilhete de autocarro para Montalegre :) Três meses depois, lá conseguimos conciliar agendas para ele me ensinar a fazer os xailes (ou o que se quiser) de micro-pompons. 

Imagem 1

A estrutura, pequena mas suficiente para aprender, já estava feita. Quatro ripas de madeira com pregos à distância de um centímetro uns dos outros. O tutorial fica para depois, que esta foi só primeira sessão. Mas já ficam aqui algumas indicações.
Em Gralhas há duas pessoas que dominam esta técnica. O sr. Manuel e o sobrinho. Este último aprendeu em Angola e, depois, ensinou ao tio quando ambos trabalhavam em França. Agora, preciso de falar com o sobrinho para perceber com quem é que ele aprendeu. Que viagens terá feito esta técnica?

Imagem 2

Primeiro passo. Vamos considerar a imagem 2 e a estrutura de madeira na posição em que é retratada nessa imagem. Prender, com dois ou três nós, um dos fios de lã no prego situado no canto superior esquerdo. Dar seis voltas (podem ser as que se quiserem; quantas mais voltas, mais fofinhos (tradução: farfalhudos!) ficarão os pompons) passando o fio entre os dois pregos que se encontram - na ripa superior e na ripa inferior - em posições correspondentes. À sexta volta, na ripa superior, passar o fio para o prego situado à direita e voltar a repetir a operação até finalizarem os pregos. Voltar a prender com dois ou três nós no último prego situado no canto superior direito.

Imagem 3

De seguida, voltar a repetir esta operação (Imagem 3), com uma lá de cor diferente (ou não), nos pregos das duas outras ripas (começando sempre no canto superior esquerdo tendo a estrutura de madeira virada para nós).
Nas Imagens 4 e 5 pode ver-se o resultado final desta primeira etapa. O sr. Manuel chama a estas duas camadas de fios sobrepostos, o tecido. Veem-se, também,  as agulhas de plástico feitas pelo sr. Manuel e indispensáveis para a etapa seguinte.

 

Imagem 4

Imagem 5

Agora, a etapa seguinte (cuja explicação detalhada ficará para o tutorial, por ser mais complexa e obrigar a um maior número de imagens). Com um fio de algodão, trabalhando na diagonal do tecido, atar com um nó cada cruzamento das duas camadas de fios de lã. Repetir a operação na diagonal oposta (Imagem 6 e Imagem 7). Esta etapa tem uma série de truques que parecem muito complexos, à partida, mas que, depois de compreendida a lógica, se tornam muito fáceis de executar.

Imagem 6


Imagem 7

A próxima etapa consiste em cortar todos os fios de lã com uma lâmina ou uma tesoura pequenina. Como se vê na última imagem (Imagem 8), cada quadrado formado pela sobreposição dos fios de lã é cortado nos quatro lados. Isto significa que é a teia formada pelos fios de algodão (através dos nós) que irá segurar o conjunto dos pompons. E temos xaile :)
Tutorial para a semana!

Imagem 8

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A CROÇA II

Na construção do cabeção da croça, os dedos do sr. Constantino lidam, simultaneamente, com quatro conjuntos de juncos. Dois são mais delgados; os outros dois mais grossos. Os mais delgados são os juncos que originaram o botão da croça e que, no entrançar dos dois conjuntos mais grossos, funcionam como as cordas que os prendem. Os conjuntos mais grossos, aos quais chamarei medas, vão sendo entrançados nas cordas e formarão a primeira camada ou carreira da croça; aquela que é mais longa e que deverá proteger os ombros de quem a usa.

Os dedos sábios do sr. Constantino, neste processo de articulação entre as duas cordas e as duas medas, torcem, apertam e entrançam juncos do botão até à casa.

Se foi difícil colocar por palavras os gestos inerentes ao moldar do botão da croça, desta vez, o desafio é ainda maior! É preciso rever e rever as mais de 300 fotografias que tirei em pouco mais de uma hora. E há muitas dúvidas que subsistem, apesar do sr. Constantino me ter permitido fazer algumas operações. Acho que vou ter de fazer várias experiências até interiorizar todo o processo.

As duas cordas de junco, logo após o botão ter sido formado, recebem a primeira meda de juncos. O sr. Constantino tem as mãos treinadas. Não conta os juncos de cada vez que introduz uma nova meda no entrançado das cordas. Nas pontas dos dedos, sente que aquela é a grossura adequada. Não vale a pena contá-los, pois há juncos mais grossos e juncos mais finos.

Cada meda é dobrada ao meio e o centro é marcado pelas duas cordas que vão torcendo uma sobre a outra e sobre cada meda. Uma parte de cada meda fica para dentro; formará o forro da croça e não será penteada. A outra a parte, a que fica para fora da croça, é aquela que será penteada quando já todas as camadas tiverem sido montadas.

A extremidade de cada meda que corresponde à base do junco, é aquela que fica voltada para o exterior. A outra extremidade, a que corresponde à flor do junco, fica voltada para o interior.

 Imagem 1

Na segunda imagem pode ver-se o sr. Constantino apontando com o indicador da mão direita para a última meda que acrescentou. Sobre esta meda está já torcida uma das duas cordas (em frente ao polegar da mão esquerda está essa corda). E ao lado do polegar está a meda que foi presa anteriormente.

 Imagem 2

Qual é, então, a sequência de gestos e de cordas e medas? Coloca-se uma meda nova medindo o comprimento que a mesma deve ter na parte exterior da croça com a ajuda da meda que foi entrançada no ponto anterior (Imagem 3). De seguida, retiram-se as cascas que alguns dos juncos possam ainda ter na sua base. 


Imagem 3

Ao se colocar uma nova meda, passam-se as duas cordas sobre a mesma. Primeiro a corda da esquerda e, sobre esta, a corda da direita, torcendo-se as cordas nesse movimento. De seguida, puxa-se a meda anterior para baixo, pasando-a por cima da última meda a ser incluída, e torcendo-a sobre as duas cordas. E assim sucessivamente. Dito assim, parece fácil. Mas quando se vê pela primeira vez e não se experimenta parece tudo muito complicado.
Na imagem seguinte (Imagem 4) veem-se claramente as duas cordas de juncos: correspondem aos dois conjuntos de juncos que se situam mais à esquerda da fotografia. No meio de ambos está a meda que acabou de ser torcida para baixo. O gesto seguinte será o de adicionar uma nova meda. E a próxima meda a ser torcida para baixo será a que se vê nesta mesma imagem, com os diversos juncos direcionados para o canto superior direito.

 Imagem 4

O cabeção tem de ter um número ímpar de pontos. A contagem (Imagem 5) é feita com regularidade para se ir confirmando o número de pontos já feitos. Estas croças que estão a ser feitas pelo sr. Constantino têm 51 pontos. Não é obrigatório, contudo, que tenham esse número de pontos. Apenas que seja um número ímpar. Deste modo, para cada lado ficarão 25 pontos e o ponto 26, achado a partir de cada extremidade, é o ponto que marca o meio. É essencial para depois se colocar a tira que funcionará como o cabide da croça.
 
 Imagem 5

Quando os 51 pontos estão feitos, então, torcem-se as duas cordas sobre si mesmas e uma sobre a outra (Imagem 6) um número de vezes suficiente para se poder fazer a casa para o botão da croça. Refira-se, igualmente, que à medida que os juncos que formam as cordas se vão esgotando, há que juntar novos juncos. Faz-se esse acrescento deixando sempre uma ponta de fora que, terminado o trabalho, se cortará.

 Imagem 6

A casa do botão faz-se torcendo a corda, formada pelas duas cordas, sobre si mesma. De seguida, as duas cordas vão começar a entrançar-se sobre as medas que foram colocadas anteriormente. 
O objetivo é que cada meda fique no meio das duas cordas, tal como se pode ver nas duas imagens seguintes (Imagem 7 e Imagem 8). Em cada meda, faz-se passar a corda da direita por cima e, por cima desta, a corda da esquerda, torcendo-se cada corda sobre si mesma. A meda seguinte passa por cima da última corda que foi utilizada. E assim sucessivamente por cada meda que se vai apanhando.

 Imagem 7

 Imagem 8

O próximo passo será perceber como se fazem as tranças que constituem a segurança da croça. E como se acrescentam pontos de carreira para carreira de modo a que a croça ganhe amplitude.


 Imagem 9

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SABÃO DAS DORES PARA CURAR A PELE

Malvas, maravilhas, milfolhos e folhas de nogueira. Passaram-se muitos anos desde que Maria das Dores de Vilar de Perdizes fez as primeiras experiências caseiras de produção de sabão. Talvez mais de quarenta anos. Na altura, com pouco mais de vinte anos, Maria das Dores, aprendeu com outras mulheres da aldeia a fazer sabão para lavar a roupa. Juntavam-se as gorduras que sobravam da cozinha, como o azeite queimado e, quando se tinha a quantidade necessária, adicionavam-se à água e à soda cáustica, detergentes, como o OMO, ou champôs. Quando se pretendia que o sabão tivesse cor, ia-se a Espanha comprar corantes.
Os anos passaram e este saber fazer parecia ter ficado esquecido. Contudo, há cerca de quinze anos, com a participação num curso de formação profissional promovido pelo Centro de Emprego, organizado pelo Padre Fontes e direcionado para chás medicinais, Maria das Dores resgatou essa memória de fazer sabão de lavar roupa. Houve, no entanto, a preocupação de não adicionar gorduras usadas:
“Eu não tinha noção das quantidades. Nós fizemos o sabão porque uma das formandas sabia fazer sabão para lavar a roupa. Mas não aproveitávamos nada de gorduras disto, daquilo. Nós fizemos só com banha de porco natural. Depois pusemos champô, aqueles detergentes mais cheirosos e a gente lavava e aquilo lavava mesmo bem”
Mas à medida que a formação decorria foi deixando de fazer sentido utilizar detergentes e champôs na preparação do sabão. As ervas medicinais viriam a substitui-los. Estava encontrado o princípio do sabão medicinal que Maria das Dores viria a produzir mais tarde: soda cáustica, água, banha de porco e uma combinação de quatro ervas medicinais.
“Foi um curso de um ano. Primeiro identificá-las, semear, crescer, apanhar, transplantar, regar. Fizemos a experiência e pensámos: e se nós, nesse sabão, em vez de pormos o champô ou o detergente, pusermos as ervas? Então fizemos ali uma mistura de ervas.”
A banha de porco é obtida na altura das matanças. Dos seus porcos, consegue parte da quantidade necessária. A outra é-lhe dada pelas pessoas amigas que lhe cedem a gordura. Não usa outro tipo de gordura animal: “Não pode ser de borrego nem de vitela”.
Crê que é a banha de porco que dá ao sabão uma textura característica: “Fica tipo cremoso, é mais macio, faz pouca espuma”.
Até ter feito a formação em chás medicinais, Maria das Dores não conhecia as propriedades das ervas que colhia no campo para alimentar a fazenda.
“Depois quando fui fazer a formação dos chás, nem imaginava que estas ervas que eu botava às vacas eram dos chás. O mais importante é diferenciar o verdadeiro do falso. Com a formação que tivemos, sabemos identificar a altura de se apanhar e a verdadeira da falsa. O mais importante é saber identificar a verdadeira e saber aproveitar na altura certa e saber secar na altura certa. Temos que ter certezas do que estamos a fazer. Ir ao monte apanhar um braçado não custa muito. O pior é chegar a casa e saber selecionar. Tirar o que não presta, saber pôr no lugar certo para não se estragar. Secar. Se faz um molhe, ficam muitas por fora, mas ficam estragadas por dentro. Algumas ervas tem que se ir ao monte. Na aldeia, poucas há. Há algumas nos quintais. Eu antigamente tinha e agora dão-me. Não gastam e depois dão-me a mim. Não tenho quintal. Às vezes vou ao Larouco. A gente de uns anos para os outros já sabe onde estão e vamos lá. Não há grande dificuldade em se ir procurar”
Foi também essa formação que lhe permitiu contactar de mais perto com aquela que se considera a fundadora da genealogia das mulheres da aldeia que hoje fazem chás, licores e sabonetes com as ervas medicinais:
“A tia Aninha Pitinha era uma velhota que tinha saberes populares dela, dos chás. Antigamente ela já apanhava e vendia aos molhinhos, mas não empacotava. Naquela altura da formação ela já tinha 70 e tal anos. Ela nem sabia ler. Ela também nos foi dar formação, dizer o que sabia de boca e nós escrevíamos. Depois ficou tudo escrito num livro”.
Das ervas disponíveis no território, Maria das Dores utiliza aquelas que a experiência e a formação realizada lhe relevaram serem as mais adequadas para o tratamento de problemas dermatológicos.
“Para fazer o sabão uso quatro ervas: malvas, folha da nogueira, os milfolhos e as maravilhas. Experimentámos: se as folhas da nogueira são boas para as infeções, as malvas são boas para fazer lavagens, os de milfolho para as varizes…fizemos ali uma seleção. Aproveitámos as ervas que são contra alergias, feridas. A folha de nogueira apanhamos já ali. As malvas vamos a uma horta qualquer. No monte só os milfolhos. Mas às vezes até há nesses lumedeiros, cantinhos”
Maria das Dores produz apenas um tipo de sabão. Umas vezes fica mais escuro; outras mais claro: “Tem duas cores. Tenho de explicar. A planta que mais escuro faz o sabão é a folha da nogueira e basta estar mais atempada a folha, nem que seja a mesma quantidade. Se for a folha da nogueira mais atempada, mais dura, mais rija, fica mais escura. É só essa a diferença, mais nada”



terça-feira, 15 de novembro de 2011

A MANTEIGA DA D. ROSINHA

A temperatura ambiente e da água que se utiliza para lavar a manteiga é a variável mais difícil de controlar. Em casa da D. Eufrásia, a D. Rosinha combinou os saberes herdados da mãe com a tecnologia e a matéria prima atuais.
Com natas compradas, usou-se a varinha mágica até apartar a gordura do soro. Juntou-se água da fonte e terminou-se esta operação de bater a manteiga usando a mão em gestos precisos.



Depois, para fazer a bica, bateu-se a bola de manteiga, primeiro na bacia e depois no prato. Bate-se de maneira a formar quatro lados. Aguçam-se, de seguida, as extremidades da bica.


Finalmente, com a forma de madeira molhada, para não se agarrar à manteiga, marca-se a bica fazendo pressão nas extremidades. Pode comer-se assim. Mas se for polvilhada com uns grãos de flor de sal também fica boa.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

CESTEIRO JOAQUIM

Foi uma visita não programada. Um por acaso ao princípio da noite que durou o tempo de uma boa conversa enquanto chovia e arrefecia.
O sr. Joaquim tinha o cesto ideal para eu fazer piqueniques. Entrei na oficina, pedi-lhe permissão para ir até lá ao fundo e escolhi-o. Perguntou-me se não queria ver outros. Não, não vale a pena. Eu gosto deste.
Respondeu-me que o amor também é assim: quando se encontra a pessoa certa não vale a pena procurar mais.
Depois, ainda nos contou muitas histórias da vida e mostrou-nos o livro das encomendas. Ainda há cá cesteiros. Ao contrário do que nos contam nas lojas das cidades enquanto nos tentam convencer que ficamos melhor servidos com cestos orientais.

sábado, 12 de novembro de 2011

HOME MADE

Não sou prendada. Aprendi o básico do mais básico do crochet a partir deste livro. Se os miúdos conseguiam, eu também havia de conseguir. O suficiente, contudo, para substituir algumas coisas que se compram. Como as esponjas (naturais ou artificiais) para tomar banho.
A ideia não tem nada de original e a lã foi comprada aqui há uns dois anos.
Montei 40 pontos e depois fui tricotando até ter um quadrado. Podem ser só 20 pontos. A vantagem dos 40 é que permite amarfanhar o pano criando maior volume. A lã peruana é suave e sabe bem na pele.

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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