sábado, 30 de abril de 2011

FESTIVAL DA MÁSCARA IBÉRICA

Fazer baby-sitting a partir das 8h da manhã a duas crianças, sem saber onde está o termómetro, sem ter o telefone do pai, com a mãe a trabalhar num sítio sem rede e um dos putos a ficar com a testa quente, quente, quente é de me desaustinar.
Corri os buracos todos da casa até que me lembrei que o São Tomás de Vila Nova foste bispo e arcebispo, pelas sete chaves de Nosso Senhor Jesus Cristo faça com que apareça a porra do termómetro, funciona sempre.
39,1º. Passei-me. Ligo para a mãe, mando sms e nada.  Ao puto, de quase 6 anos, enfiei-lhe água e chá, anda, bebe para não desidratares. Toca de pôr uma toalha molhada na cabeça da criatura, ai, não, não, que não gosto de coisas molhadas na testa, e anda lá que ficas melhor e pronto, lá o convenci, enquanto a irmã, de 2 anos, saltava em cima do sofá, sou a Branca de Neve, sou uma princesa, sou a Cinderela e fiz muito cocó, não fiz?. Olho para o Ben-u-ron e sei lá se aquilo se dá aos putos. É este ou o outro frasco que está ao lado que agora já não me recordo o nome? E qual é o raio daquele número de telefone Doi Doi Trim Trim, ou Trim Trim Doi Doi?!
Lá me telefona a mãe e afinal era mesmo o Ben-u-ron e toma lá duas colheres e 10 minutos depois chega o pai sem saber de nada e mete o puto na banheira que naquele momento, já bem disposto, botava discurso sobre os presentes que espera receber daqui a uns dias no aniversário. Chiça!

Bom, toca de ir a casa mudar de roupa a correr e passar da versão baby-sitter desenxabida para a versão sexy, pecaminosa e poderosa de saltos altos e jeans que ao fim de 3 anos me voltaram a servir (os jeans, claro, que os pés continuam micro) e correr para Lisboa para o almoço no Restaurante Terraço do Tivoli oferecido pelo Gobierno da Cantabria a propósito do Festival da Máscara Ibérica.

Uma vegetariana abre o menú -Anchovas de Santoña con mantequilla de algas, Cocido benaniego actualizado, Lubina asada com salteado de verdura y salsa de ostras, Sorbete de limón Novales (para limpar o palato, claro), Solomillo con setas y Treviso, Sobao caramelizado com helado mantecao e Tabla de quesos de Cantabria - e pensa: vou comer o pão e os acompanhamentos e vingo-me na sobremesa.

Não consegui. Perante a rejeição das anchovas já tinha dois garçons a tentarem resolver o assunto e eu, querida como sempre, ai, não, não é preciso, e a pensar que um chef que vem da Cantábria de propósito para servir comida de lá aos tugas de cá ainda se vai ofender de ter de cozinhar um prato diferente para uma alternativa. Mas foi tão querido :)


Quando ingenuamente esperava uma saladinha clássica, chegou à mesa este pratinho de legumes (ervilhas de quebrar, espargos verdes, pimento amarelo e tomate cereja) assados. E com uns brotos de enfeite. Lindo! E saborosíssimo.


Depois, quando eu já não esperava mais nada, foi-me servido este risotto de legumes assados. Muy bueno! Um almoço destes é memorável. Ainda mais porque a companhia era excelente e a conversa foi feita de confidências e confissões com muita gargalhada à mistura.

Depois foi descer a Avenida da Liberdade até ao Rossio para ver a atuação dos grupos no Festival da Máscara Ibérica. Pena foi a chuvada que estragou a festa. Esperemos que amanhã haja sol.


Irónico, irónico é ser o Governo da Cantábria a financiar este festival. O que raio anda a fazer o Turismo de Portugal...


sexta-feira, 29 de abril de 2011

TRANSIÇÃO


Uma das coleções mais fascinantes do MAP é a das fotografias que integravam a museografia original do Museu. Algumas dessas fotografias são fotogramas do filme A Aldeia mais portuguesa de Portugal, realizado por António de Menezes em 1938. É o caso da fotografia que aparece à direta da imagem e que mostra uma mulher a espadelar o linho numa das aldeias a concurso: Boassas, que faz parte da freguesia de Oliveira do Douro e pertence ao concelho de Cinfães. Segundo as palavras de Augusto Pinto, ditas por Estêvão Amarante no referido filme, esta aldeia "É um povoadinho de presépio colocado nos contrafortes da Serra de Montemuro".


Coincidência, ou não, um dos grupos que atuou por ocasião do Mercado da Primavera no MAP foi o Rancho Tradicional de Cinfães (cujos elementos residem em Lisboa).
A performance não incluia apenas dançar. Algumas das fases do ciclo do linho foram também representadas.


Se tudo se concretizar estarei em breve no terreno a recolher dados associados a este e a vários outros saberes. À semelhança do que tem acontecido com as minhas pesquisas em torno da comida, não pretendo apenas ficar-me pelo registo distanciado. Porque sempre considerei que a aprendizagem dos saberes passava pela real experiência dos mesmos.


Foi com esse espírito, aliás, que acumulei um capital culinário que mistura folares de Chaves, com bolos de azeite das Donas e burfis dos Hare Krishna.
Agora, o desafio é muito maior. Acredito que também mais fascinante.


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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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