quarta-feira, 20 de março de 2013

E TINGIU-SE A LÃ



Primeiro, lava-se a lã com sabão rosa. No fundo do pote de ferro ou do caldeiro de cobre ou de folha devem colocar-se alguns trochinhos de urze em duas camadas perpendiculares. Este procedimento destina-se a evitar que as meadas de lã assapem, isto é, que fiquem agarradas ao fundo do recipiente e, por essa razão, se queimem. De seguida, coloca-se uma camada do líquen ou de entre casca de nozes e, por cima, a meada. No meio da meada é colocada uma segunda camada de líquen ou de entre casca de nozes, dobrando-se a meada sobre esta segunda camada. Finalmente, coloca-se uma terceira camada do corante vegetal. Havendo várias meadas a tingir, repetem-se os passos, sendo a última camada, obrigatoriamente, de líquenes ou de entre casca de nozes.
O pote ou o caldeiro é depois cheio com água e colocado ao lume. Para fixar a cor, de modo a garantir a sua durabilidade, conferindo mais resistência às lavagens e à exposição ao sol, era prática usar-se o sal. Uma mão mal cheia é suficiente e deve ser deitada no pote ou no caldeiro antes deste ser tapado e da fervura se iniciar.
Depois, a água deve ferver por duas a três horas. Quanto mais tempo estiverem as meadas ao lume, mais escura ficará a cor.
De seguida, as meadas são retiradas do pote ou do caldeiro e devem ser lavadas em água corrente, novamente com sabão rosa, para retirar os restos dos líquenes ou das entre cascas das nozes. Por fim, colocam-se as meadas a secar à sombra.


Os líquenes usados na fotografia foram recolhidos nos castanheiros da Reboreda, em Salto, Montalegre. A meada é da Casa da Lã, de Bucos. A receita é da D. Benta. E, roubando a expressão ao Tiago Pereira, vale a pena ouvir as velhinhas. A bem do nosso património imaterial, que não se regista a partir de um gabinete. 


segunda-feira, 11 de março de 2013

MUITAS CAPAS


Muitas capas de burel, muitas formas de as talhar. Muitos buréis apisoados de modos distintos. As fotografias pertencem a Benjamin Pereira e fazem parte do acervo fotográfico   que pode ser visto na Casa do Capitão (Ecomuseu de Barroso) em Salto, Montalegre.
A fotografia de cima foi tirada em Travassos do Rio e, a de baixo, na Reboreda, a terra dos alfaiates, como é ainda hoje chamada pelos seus habitantes. 
Diz a D. Benta que para se fazer uma capa de burel são precisas três ovelhas bravas castanhas. Diz o sr. Francisco de Tabuadela, filho do último pisoeiro da aldeia, que para se fazer uma capa de burel são necessárias três varas de burel. 
Três ovelhas e três varas nas contas que se faziam para tapar o corpo do frio.


quinta-feira, 7 de março de 2013

TRAJE DE NOIVA



Esta é a fotografia do casamento dos avós paternos da D. Benta. Ouvi falar dela há ano e meio, vi-a em casa de uma das irmãs da D. Benta mas, na altura, não me foi possível fotografá-la. Porque para fotografar uma fotografia destas é preciso tempo para conversar. E para tirar a fotografia da moldura e poder fotografá-la sem os reflexos do vidro a atrapalharem.
Desta última vez em Barroso, houve tempo. E a habitual generosidade dos familiares da D. Benta que me ajudam sempre que preciso. A fotografia é de 1905. Irene Gonçalves Pereira Capelo tinha só 17 anos. Manuel Tomás Dias Pereira era 20 anos mais velho. D. Irene criou filhos e muitos netos. Foi ela que ensinou D. Benta e demais netas a fazer meia e a tingir os fios de lã com aquilo que a natureza dava. 
O traje de noiva perdeu-se no tempo e dele, hoje, só restam as memórias uma e outra vez resgatadas de cada vez que as netas e os netos falam na mãezinha

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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