sexta-feira, 30 de setembro de 2011

VINDIMAS

Incursão a Valpaços para as vindimas de uma família barrosã. Habituada às paisagens do Douro, estranho a forma destas vinhas que parecem ter sido plantadas num areal. Há castas diversas. São como os beijos. As mais doces, a gente quer que se demorem na boca.


A hora do calor dificultou o trabalho da vindima. Homens e uma mulher ainda fingiram os cantos de antigamente para enganar o esforço físico.


A merenda fez-se de pão, queijo, fumeiro e vinho. Ainda que os mais novos tenham preferido refrigerantes.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

VEZEIRAS DE FAFIÃO

Voltámos, pela segunda vez, aos baldios de Fafião para ver a descida do boi do povo. A prática é fazer descer a vezeira no dia 29 de setembro, dia de São Miguel. Contudo, como o tempo tem estado de feição, apenas se fez descer o boi e uma vaca com um bezerro. As restantes vacas ficarão na serra enquanto não vier o mau tempo. Por outro lado, quanto mais tempo ficar o gado na serra, mais tempo têm as pessoas, na aldeia, para fazer os trabalhos agrícolas desta época, como a vindima e a plantação das ervas que irão permitir alimentar o gado nas cortes.
Subimos, mais uma vez, na companhia do Alcides, embora desta vez estivesse um outro pastor na serra, o sr. Manuel Custódio, encarregado de apartar os três animais da restante vezeira. Vieram, entretanto, mais dois homens ajudar, já que os animais, quando separados dos outros, resistem a descer da serra.
O sr. Manuel Custódio conhece bem a serra. Quando era criança já ia com o pai e o irmão mais velho. E foram as memórias da vida na serra que lhe permitiram aquietar o coração quando esteve na Guerra do Ultramar, em Angola.
Desta vez, a Laranja, uma das vacas barrosãs que gosta de estar perto dos humanos à hora das refeições (e que come massa com carne) acabou, depois de alguma insistência, por vir comer à minha mão.

 Boi do povo


 A Laranja

 Sr. Manuel Custódio e o cão Pastor

Mas hoje era, também, o dia da descida da vezeira das cabras. Cerca de 500 animais que, a certa altura começaram a descer as pedras e se juntaram a nós na malhada da Pousada. Foi um dia com muitos pastores na serra. Daqui por umas semanas, voltaremos para acompanhar a descida das vacas.

 Na última imagem, o Alcides a comandar o percurso de volta à aldeia da vezeira das cabras

terça-feira, 27 de setembro de 2011

DAWN :: SUNSET

É provável que haja uma relação direta entre o modo como dormimos na noite anterior e aquilo que nos acontece no dia seguinte. Pelo menos para quem crê em premonições. Demorei-me a adormecer e acordei ainda era noite. Inquieta e cansada. A albufeira dos Pisões, de madrugada, estava ainda mais vazia do que é habitual. E absolutamente silenciosa. Um silêncio que, por vezes, ajuda a pensar e a tomar decisões.


O cansaço e as inquietações foram-se acumulando ao longo do dia. Para aliviar, vou experimentar balnoterapia tibetana (dul tsi nga lum). Cinco Néctares dentro deste saquinho devem conseguir sossegar-me.

sábado, 24 de setembro de 2011

LAVAGEM DA LÃ

Primeira sessão. Porque sem tanque público aqui por perto, isto vai ser demorado :)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

COMIDAS DE MINEIRO

Há um universo por explorar nas Minas da Borralha, em Salto. Uma das dimensões mais fascinantes é a que se reporta às práticas alimentares dos homens e das mulheres que lá trabalharam. Mas também as rotas alimentares que cruzavam o Baixo Barroso e que revelam articulações complexas de escalas locais e globais.
Na primeira incursão ao interior dos edifícios das Minas, descobrem-se vestígios de vidas passadas e objetos que faziam parte do quotidiano dos trabalhadores. E imaginam-se histórias pessoais e coletivas com enredos complexos....


Às vezes, nos lugares do passado, encontra-se o futuro.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

TOSQUIA NA REBOREDA

Depois de termos passado a manhã a conhecer o interior de alguns dos edifícios das Minas da Borralha que irão ser musealizados, iniciámos a tarde em casa da D. Benta para ver a tosquia das ovelhas.

Em maio os últimos, em setembro os primeiros. A tosquia no mês de maio deve ser feita nos últimos dias e a de setembro nos primeiros. Já vamos no dia 21, mas as obras em casa da D. Benta impediram que o trabalho se fizesse nos primeiros dias.

Em maio para urdume, em setembro para teçumeA tosquia do São Miguel é para tecer e a do maio para urdir. Fica o burel mais tapadinho. Esta lã é mais curtinha, é para o teçume. A outra é mais comprida, é para o urdume. Prende melhor e esta enche melhor porque a gente fia mais grossa para tapar o pano, fica mais grossinha. Para tosquiar, fiar, tecer e levar ao pisão era dia e noite a trabalhar.

Ajudámos, à falta de homens na casa, a pôr as ovelhas mais pesadas em cima da mesa e a tirá-las quando o trabalho estava terminado. Havia sempre dois homens. Os homens ajudavam a tirar o gado, a tosquiar a lã no peito das ovelhas, mas quem fazia o trabalho eram as mulheres.
A lã no peito das ovelhas é cortada antes de se atarem as patas dos animais. É uma lã que não se aproveita por ser demasiado áspera e tem de ser cortada bem rente porque quando faz muito calor a ovelha tem tendência a esfregar-se no chão para arrefecer e suja-se e fere-se com mais facilidade.
A tesoura usada tem mais de 20 anos. Foi trazida da França por um velho amigo criado em casa dos pais de D. Benta. Uma tesoura multiusos que serve também para a costura. Unta-se de azeite quando começa a ficar cheia de ludro e a prender na lã.

Não há rabos para tosquiar. O rabo cortado tem toda a vantagem. De inverno o rabo comprido, quando chove muito e neva, até congela, a lã está cheia de água e está gelada e bate nas pernas das ovelhas e elas chegam à corte a sangrar e os bitchos não se sentem bem, elas de rabo não prestam para nada. Com o rabo curto, de inverno, as ovelhas tornam-se mais fortes, andam mais limpas porque fazem pelo rabo abaixo. Corta-se o rabo e elas medram que eu sei lá. No verão andam mais frescas. Corto o rabo a todas. Com três meses, em sendo tenras pequeninas, nem chegam a botar sangue, meto um baraço, corto com a tesoura da poda. Medram que eu sei lá. E enquanto se tosquia o rabo, tosquia-se o resto da ovelha. Demora muito tempo. A bitcarada do chão sobe pelo rabo. É uma lã cheia de porcaria e não se aproveita.


Terminado o trabalho, tem que se lavar as mãos na mesma bacia por que se diz que por conta de não se lavar as mãos na mesma bacia que as ovelhas que se desvendam. Cada uma irá para seu lado. Uma forma de garantir que nem as ovelhas, nem as pessoas que trabalharam em conjunto se separem. É improvável que venha a acontecer connosco :)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

SCONES SEM GLÚTEN

A casa onde vivo não tem alpendre. Se tivesse, haveria dois cadeirões velhos de couro gasto que eu cobriria com duas mantelas de trapos, uma pequena mesa que eu pintaria de verde e enfeitaria com muitas garrafas de vidro cheias de flores que, todas as manhãs, apanharia no campo.
E, no final daqueles dias passados a transcrever entrevistas, eu iria para o alpendre, sentar-me-ia num dos cadeirões e ficaria a olhar o pôr do sol. Na mesa pintada de verde, para além das muitas garrafas de vidro coloridas com flores, eu teria uma taça com scones acabados de sair do forno e uma chávena grande com uma infusão de funcho.



A receita foi adaptada daqui. Misturei de farinha de arroz, farinha de milho e maizena. Também substitui o açúcar por mel de rosmaninho do Amadeu. Como a farinha de milho e de arroz demora mais tempo a absorver o líquido, convém esperar um pouco antes de concluir que é necessário adicionar mais farinha.

DE SIRVOZELO ÀS MARGENS DA BARRAGEM DO ALTO CÁVADO

Estive em Sirvozelo no sábado e descobri uma das mais belas aldeias de Montalegre. Não é daqueles lugares que são bons apenas para passar uns dias. É um pedaço de paraíso onde apetece viver. Hoje, voltei lá e fiquei ainda mais encantada. Se cá ficasse a viver seria uma das aldeias a considerar. Um dos lugares mágicos fica a cerca de 200 metros do centro da aldeia. Um pasto em frente às escarpas do Gerês. Como se fosse uma plateia para a natureza em estado bruto.


De volta à vila, as árvores de fogo a anunciarem o outono, num dia que amanheceu frio e que já pede lã no corpo.

sábado, 17 de setembro de 2011

LODEIRO DE ARQUE

DA SEARA ÀS MEMÓRIAS DA BORRALHA

O terreno raramente é aquilo que nós planeamos. Ontem, tínhamos programado filmar a D. Benta a tosquiar as ovelhas, mas poucas horas antes de o fazermos ela teve de desmarcar. Continuámos, então, a recolha de imagens pela freguesia de Salto visitando algumas aldeias pela primeira vez e revisitando alguns dos lugares onde já tínhamos estado.
À Seara já tínhamos ido uma vez, a  convite do sr. Francisco de Tabuadela. Era um dia de algum nevoeiro e aquele lugar revelou-se mágico. Voltámos lá ontem e reencontrámos duas das pessoas com quem já tínhamos estado à conversa: D. Cândida e o seu filho Fernando. Estava sol, mas a aldeia manteve o seu encanto. Fomos com os dois botar as vacas noutro terreno e, na conversa, D. Cândida acabou por me dizer que tinha vivido um ano nas Minas da Borralha acompanhando o marido que lá trabalhava. Não gostou de lá ter estado.
Nas Minas, as mulheres chamavam curtas e compridas umas às outras e tinham de pagar multa na GNR e gastavam o dinheiro que os homens andavam a ganhar lá em baixo! O ordenado eram 4 contos e meio. Ó p... toca, canta e dança que o corno está na França!
Nas Minas preparava a merenda para o marido comer lá em baixo. Bacalhau frito num pão. Era o bocadilho. O almoço tomava sempre em casa. Quando entrava à 1h já estava almoçado.
Não tem saudades desse tempo, longe da natureza idílica da aldeia. Mesmo que na aldeia, há muitos anos, apenas ganhasse 12 escudos por mês a plantar pinheiros na serra. E só ganhasse uma broa quando amassava o pão para quem tinha forno. Uma broa é muito pouco.



No pólo de Salto do Ecomuseu de Barroso guardam-se algumas das memórias das Minas da Borralha. Como as senhas que os trabalhadores usavam para tomar as refeições e a travessa utilizada para servir bacalhau numa pensão que lá existia . Mas há ainda um mundo de recordações e de objetos a resgatar. Para que a comunidade não perca mais uma memória.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

BORRALHA

Acordar às 6.35h. Assim tenho tempo, antes de arrancar para Salto, para ir até à barragem dar o meu passeio matinal. Aqui, para se chegar até à água, basta descer o caminho pejado de castanheiros. E silvas que estão carregadinhas de amoras. Hoje, não valia a pena apanhá-las pois ontem, dos campos do sr. Jaime, trouxe quase 1/2 quilo delas.
Sumo de cenoura e laranja e uma taça com amoras, pólen, mel e mascarpone. Porque o dia ia ser longo.


O sr. Rita foi o químico das Minas da Borralha, em Salto. Tem 75 anos e um sentido de justiça e de memória que são raros de encontrar. Estive quase 4h à conversa com ele. Com direito a uma visita ao seu museu privado. Onde guarda objetos e documentos únicos.
Já tinha tido, com o sr. Manuel Baqueiro, algumas informações sobre o que os mineiros levavam para o interior das minas para comer, mas ontem fiquei a saber muito mais.

Por exemplo, que a primeira estrutura de fornecimento de comida que surgiu nas Minas foi a padaria (eventualmente, em 1912) que recebia também farinha vinda de Paris e onde se vendiam os bijus, as bicas, as sêmeas e, mais tarde, os cacetes. Os operários compravam o pão com senhas, como as que aparecem numa das imagens.
Em 1938 formavam-se bichas para receber o pão, eu tenho ali senhas. O pão servia para os operários e contavam quantos filhos tinham para receberem as senhas. Também se podia comprar. Eu cheguei a levar pão para uns senhores alentejanos que trabalhavam aqui na barragem. Mas os lavradores daqui coziam pão milho e pão centeio nos fornos em pedra. Mas não se falava em trigo nesse tempo. Trigo só na padaria.

Mais tarde, instala-se uma mercearia onde os trabalhadores das Minas se podiam abastecer. Não havia mercearias aqui em Salto. Não havia nada. Vinham coisas de Paris e tudo. Tinha batata, tinha feijão, bacalhau, tinha carnes.

Será no início dos anos 1948/49 que o refeitório começa a funcionar. Para todos os funcionários e suas famílias.  Chamavam a pensão, que era de pensar o pessoal.
Ao pequeno-almoço os encarregados das Minas comiam leite com cevada e pão com manteiga. As bicas de manteiga trazidas em cestos e toalhas de linho branco. Os operários comiam o que se chamava água quente ou água de cebola, uma sopa que era feita com água, cebola, sal e azeite e comia-se com trigo. Servida em pratos de alumínio.
Os almoços servidos no refeitório foi pouco tempo. Foi enquanto não havia alternativas para os trabalhadores. E porque havia muitos homens solteiros. Uma sopa com massa de terceira. Tinha legumes, aqui havia muita coisa. E azeite. No princípio era só a sopa. Era bom. Depois é que era uma sopa e um prato. Para dentro das Minas levavam frango, sardinha, arroz ou massa porque a batata ficava ensebada e a comida que sabe melhor em frio é a massa e o arroz. A batata é boa quente.  Para dentro das minhas levavam presunto, chouriço, uma garrafa pequenina de vinho, de cerveja. À noite eram os capatazes que comiam na pensão.



E, no final do dia, ainda deu para rever o sr. Manuel Baqueiro, o Jaca e um vitelinho nascido umas horas antes.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

APANHA DA FRUTA

Ontem voltei a casa do sr. Jaime de Solveira. Morreu-lhe a mulher há umas semanas. Estava a construir um semeador de batatas quando chegámos. A esforçar-se, nos seus 83 anos, por se manter ocupado, para não estar sempre a pensar na sua santa. Chorou, desabafou e acalmou-se. E depois foi mostrar um burrinho, ainda sem nome, que recolheu há poucos dias. Estava abandonado junto à estrada e ou foi atropelado ou levou uma tremenda pancada no focinho, pois tem os maxilares desalinhados e aquilo que parecem ser dois grandes calos resultantes de duas fraturas mal consolidadas. É um doce. Com um olhar infinitamente triste.
Hoje, a convite do sr. Jaime, voltámos a Solveira para apanhar fruta. Aproveitei para levar umas cenouras para o bichinho e para a égua Rola.
Havia muitas maçãs para apanhar. Mas eu perdi-me foi com as amoras :) Que boas, acabadas de colher das silvas!


Claro que aproveitei uma pequena parte delas para a minha salada do almoço. Tomate, pepino, endívias e amoras. E um molho, que sempre faço e fica sempre bem, com azeite, sumo de limão, mel de rosmaninho e flor de sal. E à tarde fui entrevistar uma cozinheira de mão cheia :)

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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