sábado, 29 de outubro de 2011

BOLO DE MEL, BANANA E NOZ

A sobrinha do juiz de paz usava um pingente de jade preso num fio de ouro. E uma saia de linho branco. Atravessava a ponte que dava acesso à sua casa quando foi atraída pelo cheiro adocicado que vinha do outro extremo da aldeia.
Foi até uma casa que tinha a porta aberta e um homem com umas mãos grandes que misturavam ingredientes como se estivessem a fazer magia. Em cima da mesa havia muitos bolos. Dentro do forno coziam mais alguns.
Quando ela chegou ele parou de misturar os ingredientes. Tinha-se cumprido o destino dos dois.


Ingredientes:
3 bananas médias maduras
3 ovos
40 gramas de manteiga derretida
40 gramas de azeite de boa qualidade
180 gramas de mel de eucalipto
180 gramas de farinha de milho
1 colher de sobremesa de fermento Royal
80 gramas de nozes picadas
1 colher de chá de canela em pó
1 pitada de flor de sal


Preparação
1. Esmagar as bananas com um garfo.
2. Bater os ovos e adicionar às bananas.
3. Juntar a manteiga e o azeite e envolver bem.
4. Adicionar o mel, a canela, o sal e, por fim, a farinha de milho misturada com o fermento.
5. Juntar metade das nozes e envolver bem.
6. Deitar numa forma de bolo inglês (como usei uma forma de silicone não foi preciso untar nem polvilhar), polvilhar com o resto das nozes e levar a forno aquecido previamente a 180º por 60 minutos (pode demorar mais um pouco).

A receita é uma adaptação daqui.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

AS MANTAS DE BUCOS

Não tenho nenhuma obsessão por mantas. Mas, a verdade, é que gosto muito de mantas. Talvez haja uma explicação. O meu pai tinha uma loja de atoalhados e as minhas peças preferidas eram as mantas ditas regionais (de fabrico industrial) que eu achava ideais para piqueniques (isto, sim, uma obsessão) ou, simplesmente, para estender no chão e dar o conforto necessário para se brincar.
De modo que ontem, na Casa da Lã, acabei por sucumbir a estas duas mantas da D. Ilídia que já tinha saído no momento em que decidi fazer a compra. A das riscas azuis e vermelhas é como as antigas, disseram-me as outras senhoras.


A segunda, feita de peças desmanchadas ou restos de novelos, tem um certo ar tutifruti. E dá mesmo vontade, neste dia de sol, de fazer gelados, estender a manta no chão e, em boa companhia, fazer um piquenique junto à albufeira.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CASA DA LÃ




Depois de meses de trabalho de campo intensivo, os próximos tempos vão ser ocupados a escrever os textos que hão-de constituir um dos outputs deste projeto. As incursões ao terreno continuarão a ser feitas, agora mais dirigidas e destinadas a recolher dados que permitam completar as grelhas de análise elaboradas para cada um dos temas.
Hoje, viagem pelas serranias que separam Salto de Bucos com o objetivo de conhecer a Casa da Lã e as mulheres que guardam na memória as idas a Tabuadela para apisoarem as mantas.
Já tinha conhecido estas mulheres quando, há umas semanas, fui à Feira de São Miguel em Cabeceiras de Basto.
Voltei para casa com duas mantas, tecidas com lã e urdidas a algodão, feitas pela D. Ilídia e que me encheram os olhos mal entrei na Casa da Lã (fotos para amanhã!). Mas o que eu queria  mesmo era ter trazido uma enorme manta, tecida e urdida com lã, apisoada e feita com três panos. Pena não estar à venda.

sábado, 22 de outubro de 2011

ÚLTIMOS RAIOS DE SOL


Antes da tempestade, para aproveitar os últimos raios de sol, batido de ananás dos Açores, banana da Madeira e leite de côco do Sri Lanka. Amanhã é dia de galochas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CABRITINHOS


Passámos na estrada ao lado do campo onde a Ana Rabuda costuma, no dia em que lhe calha a vezeira, levar os animais a pastar. Lá estavam, também, a Lassie e a Luna, no registo habitual de disputar, entre lambidelas e ladrares de contentamento, as atenções dos humanos.
Horas antes, uma das cabras tinha parido dois cabritinhos. Ainda não tinham conseguido mamar porque os úberes da mãe estavam tão grandes que roçavam no chão. Tentámos ajudar, mas não havia maneira de alimentar os bichinhos.
Melhor sorte estava a ter o cordeirinho, também nascido nessa manhã, que já tinha sido levado para as cortes com a mãe.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SABONETES ARTESANAIS

Conheci a Sara quando, o ano passado, trabalhava no Museu de Arte Popular. Na altura, entre outros projetos, a Sara desenvolveu uma linha de sabonetes para o MAP.
Sou fã destes sabonetes feitos com azeite. Bom, eu sou declaradamente fã de sabonetes artesanais. Sem ingredientes nocivos para a pele e com embalagens muito mais ecológicas.




quarta-feira, 19 de outubro de 2011

DA VACA ALINHEIRA

Nem todas as vacas dão leite que sirva para fazer manteiga. Na Casa do Tomás, na Reboreda, havia sempre uma vaca alinheira que dava um leite mais gordo e, por essa razão, era a escolhida para depois se fazer a manteiga.
Como em muitas outras casas, a confeção tradicional da manteiga deixou de ser uma prática e passou a ser uma memória.
Embora fosse com o intuito de aprender a mungir, a barrosã era bravia e foi preciso segurar-lhe os cornos para ela se deixar ordenhar, enquanto o bezerro mamava. Foi assim uma ordenha de fugida. Horas antes, em Paredes, uma senhora sabendo o que eu ia fazer explicou-me que o truque está na pressão que se faz com o dedo mindinho no fim do movimento descendente exercido na teta.
Claro que tinha imaginado uma vaca pacífica a comer feno enquanto eu, sentada num banquinho de madeira, a ordenhava com mestria. Mas uns coices prévios fizeram-me adiar o exercício.
Vou esperar, pacientemente, que duas das outras vacas que estão quase a parir me permitam a experiência.
Mungida a vaca, D. Ana coou o leite morno e depois mostrou-me o prato e a belíssima forma de manteiga que era usada para marcar as bicas.


sábado, 15 de outubro de 2011

NÃO SE APANHAM MOSCAS COM VINAGRE

E, por vezes, nem com açúcar. Mas tenta-se. A receita original deste livro, refere açúcar, água e xarope em partes iguais. Como não consegui encontrar xarope à venda usei apenas açúcar e água.


Depois, cortam-se tiras de papel pardo (aproveitei a papel das encomendas que me vão chegando da Figueira da Foz) e mergulham-se essas tiras no xarope, deixando que as mesmas fiquem bem embebidas. Deixa-se apenas uma pequena parte de fora, onde se faz um furo, para depois passar o fio.



Agora é aguardar. Ainda nenhuma lá foi. Têm preferido rodear-me. Talvez seja do azeite de rosas...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A BARRACA DA AMÉRICA

América Pereira tem 81 anos e foi testemunha direta de um pedaço da história das Minas da Borralha. Trabalhou como farrista aos 12 anos (apanhava volfrâmio sem licença), ia com as ovelhas para o monte quando ainda era miúda, criou 12 filhos e cozia pão para os mineiros.
O pai era marchante, vendia carne. Comprava vitelas, matava-as e vendia-as. Tinha uns ganchos muito grandes de pendurar as vitelas. Eu tenho memórias de ver ali as vitelas dependuradas, pela garganta, outras vezes por baixo para o sangue sair.
A mãe fazia comidas em grandes potes de ferro e servia-as aos trabalhadores das Minas. A maré dela era fazer sopa e arroz de feijão e sardinhas e vender aos mineiros. Homens, que a Barraca era um espaço masculino. Os potes de ferro já desapareceram. O forno de cozer o pão, dentro de casa, também foi destruído. Mas América guarda ainda as badejas que usava para moldar o pão e a pá do forno.

 
(De cima para baixo: detalhe da fachada da Barraca, badejas, América e a pá do forno e detalhe da pá)
 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

MINAS DA BORRALHA - DO PÃO

Uma das estruturas de fornecimento de comida nas Minas da Borralha era a padaria que funcionava nas instalações da empresa. Não se podia comprar o pão que se quisesse. Cada família tinha direito a um número certo de pães e, para os adquirir, tinham de comprar previamente as senhas do pão.

Era muita gente, davam dois a cada pessoa. Não davam mais que dois pães. A gente entregava a senha para dois pães. Mas a gente pagava a senha. No meu tempo metia-me ali nas levadas e estava ali e depois a minha mãe vinha estocar-me e bater-me por eu não ir pelo pão. Porque eu punha-me ali horas e horas.   Davam umas broinhas assim, pequeninas. Era um senhor que vendia as senhas, no sítio onde se comprava o pão. No meu tempo. Já tenho 65 anos. Era miudita.  Nasci em 46. (Adília)

Mas o pão que havia disponível não era apenas o que era fornecido pela padaria das Minas. Havia mulheres que vinham de longe ou de perto vender pão. Algumas atravessavam a serra da Cabreira, vindas de Agra, com cestas de pão à cabeça. Outras vinham da vila.

Havia mulheres que vinham de Salto com as canastras à cabeça, mas o pão não dava para toda a gente. Vinha uma senhora com o pão, que já morreu. Vinha a senhora Natália que chegava ali a Caniçó, pousava a canastra e os meninos reuniam-se à volta dela e ela repartia pão aos bocadinhos, dividia para todos os meninos. Dava pão às crianças. Pegava no pão e partia para todas as crianças. Às criancinhas dividia o pãozinho. Naquele tempo também não era muita fartura. Não é como agora a gente...(Adília)

Depois, surgiram padarias particulares e havia quem moesse a farinha e a vendesse para quem quisesse fazer pão. Para tal, foram construídos vários fornos comunitários que eram usados pelas famílias dos trabalhadores das Minas da Borralha.



(Um dos fornos das Minas da Borralha)

Outra das estruturas relacionadas com o fornecimento de comida e bebida das Minas era o bar do grupo desportivo. Hoje em ruínas, tal como a maioria dos edifícios do complexo, está incluído no projeto de musealização que agora se inicia. Há todo um mundo para explorar. Ainda que o mesmo esteja na memória das pessoas...

(Bar do grupo desportivo da Borralha)

sábado, 8 de outubro de 2011

PÃO DE SÊMOLA DE MILHO

Por hábito, quando faço pão não sigo nenhuma receita. Por norma, sai-me sempre bem. Este pão foi feito com sêmola de milho, farinha de trigo, açúcar, fermento de padeiro (desidratado), azeite, sal e água.
Como a sêmola de milho precisa de bastante água para cozer (um volume 3 vezes superior), deixei a massa do pão bastante líquida. Por essa razão, e ao contrário do que é habitual, usei uma forma retangular e não a placa de barro para cozer.
Come-se quente ou frio. Na verdade, dá vontade de comer de qualquer maneira...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

DA CAPA DE BUREL AO MILHO

Depois de quatro meses de terreno intenso, entrei agora numa nova fase do projeto. Rever as centenas de páginas de entrevistas transcritas, apurar a grelha de análise para cada tema, voltar ao terreno para completar o que falta para cada tema e iniciar os temas que ainda não tinha sido possível desenvolver.
Hoje, no Pólo de Salto do Ecomuseu, a Dina e eu dedicámo-nos a fazer o molde de uma das capas de burel que integra o acervo. Não tendo qualquer experiência de costura, o que dificultou a tarefa e, sem equipamento adequado, houve que improvisar. Amanhã continua-se.
Já não existem alfaiates que talhem estas capas. Morreram e mesmo quem trabalhou com eles durante longos anos (mas que não talhava) afirma não ter conhecimentos para o fazer. Contudo, o sr. Francisco da Tabuadela, que chegou a ser, ainda que por muito pouco tempo, aprendiz de alfaiate diz que talvez seja capaz de talhar uma capa a partir de uma outra capa.
Esta que aparece nas imagens é composta por quatro partes. Não tem, ao contrário de uma outra capa que por lá existe, remendos. As costuras que unem os dois panos inferiores são bastante visíveis (ao contrário, por exemplo, da capa que a D. Benta já me mostrou).



A Tânia posou com a capa para que fosse possível fotografar com maior detalhe a forma triangular do carapuço. O lado da frente do carapuço é debruado com tecido preto e esse debrum prolonga-se até ao nível do peito.


Em baixo, detalhe do debrum (frente e verso) da parte inferior da capa de burel.


Partimos, depois, na companhia do João Azenha, o diretor do Pólo de Salto, para a Cerdeira para a fantástica casa do sr. Domingos e da D. Rosa da Casa de Juandré. Acabámos por ficar a ajudar na desfolhada de um carro carregado de milho.


O canastro, que se vê na imagem inferior, tem ainda muito espaço vago até ficar cheio. Mas estava um pouco mais completo quando de lá saímos :)


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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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