domingo, 19 de dezembro de 2010

MUSEU DE ARTE POPULAR - MONTAR UMA EXPOSIÇÃO

Este ano termina com o fim e o começo de muitas coisas na minha vida. Terminei, finalmente, de escrever as notas finais da tese de doutoramento, mergulhei, de cabeça, neste processo de reabertura do MAP e tenho a cabeça a fervilhar de ideias para explorar as fotografias que fazem parte da coleção do Museu, direcionando-as para os mais jovens.
Hoje, porque ainda estou esgotada, ficam apenas algumas imagens da montagem da exposição os Construtores do MAP - Um Museu em Construção.






É só para dizer que acabei de escrever a tese. Tirando a paginação, o índice, a chatice da organização dos anexos e o último parágrafo dos agradecimentos está tudo.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

ANTELÓQUIO

Com excepção das filhós, manjar de Natal na casa dos avós maternos, sou incapaz de discorrer sobre a genealogia de qualquer outra comida de festa da minha infância. As filhós são (eram?) das Donas, ali no Fundão. Tinham lugar de nascimento e mesmo que fossem feitas na cozinha da avó Susana em Albergaria-a-Velha, eram feitas a preceito. Por isso, eram das Donas.

As fotografias antigas, que me mostram empoleirada num banco e quase, quase em cima da mesa da cozinha a espreitar por debaixo dos cobertores que aquentavam a massa lêveda e fofinha, ajudam-me a reconstruir recordações.

A avó Susana, na minha cabeça de criança, tinha nome de menina e mãos de velhinha. Invariavelmente, nos dias 22 ou 23 de dezembro, reunia as mãos das filhas, e, mais tarde, das netas, para fazer as filhós. Em cima da mesa da cozinha, juntava os ingredientes, pesava quantidades e mexia a massa nos minutos iniciais. Depois, delegava o trabalho nas mãos da minha tia, que tinha força suficiente para prosseguir a tarefa de amassamento por mais uma boa hora. Quando nós chegávamos lá a casa, já a massa estava a levedar ou a acabar de ser batida. Invariavelmente, a minha tia tinha as mangas arregaçadas e estava cansada. Invariavelmente, a minha mãe declarava que não tinha força suficiente para cumprir a tarefa com a dignidade que a mesma impunha. O tempo que a massa levava a levedar era vivido com grande impaciência. Da minha parte, claro. Chegada a hora de fritar a massa, começava o corre-corre para cortar as filhós, tarefa executada pela avó e pela tia, enquanto à minha mãe cabia virá-las no panelão fumegante de azeite e assegurar que não se queimavam e ficavam exatamente daquela cor que ainda hoje não sei definir muito bem, mas que me parece próxima de uma laranja torrada. Todos os anos, no final do dia, a minha mãe declarava com ar solene que cheirava a fritos. Um Natal decidi quebrar a lógica geracional da sucessão das tarefas. Olhar já não me bastava e reivindiquei o meu lugar na hierarquia da confeção das filhós. Ninguém me autorizou a avançar, mas eu achei que pegar num pedaço de massa, estendê-la com o rolo e dar-lhe duas cortadelas com o carreto, era tão fácil como moldar um pedaço de plasticina. Devo ter aproveitado um momento de distração do mulherio. Recordo um balbuciar de protestos da avó, quando se deu conta do atrevimento da neta mais nova. Mas devo ter feito uma filhó tão perfeitinha que se calaram nesse ano e nos seguintes.

Quando muitos anos mais tarde a minha avó morreu, a minha mãe passou a fazer as filhós com a ajuda da batedora da Kenwood. Protestei, em vão, contra a modernice. Argumentei que as filhós perderiam sabor e textura. Mas a mãe declarou que não tinha força nos braços e pronto. Ofereci os meus. Recusou e eu amuei. Estas filhós de agora já não me sabem ao mesmo. Não sei se é por causa da batedora ou porque já não está o mulherio de volta da mesa. Também não sei se é porque a avó já morreu, porque o avô também já partiu ou porque também o meu pai se foi. Já morreu tanta gente. Já nem existe a casa da avó. E eu já nem me lembro do cheiro da casa da avó. Só me lembro do cheiro das filhós porque as reatualizo anualmente.

Mas são as filhós, ainda que desvirtuadas em sabor e em textura, que me ancoram ao território de alguns dos meus antepassados. Um território a que eu também pertenço, embora seja uma pertença longínqua, apenas lembrada de tempos a tempos. As filhós são das Donas. Eu sei que também são de muitos outros lugares. Mas, para mim, são das Donas. São daquela aldeia onde a minha avó nasceu e que eu visitava de vez em quando nas férias e onde fiz a primeira pesquisa etnográfica sobre comida. Pertencem à infância da minha avó e também devem ter pertencido à infância da avó dela. Como pertenceram à minha.

As filhós e os bolos de azeite, também das Donas, representam a última fronteira antes da total orfandade de lugar. Ao contrário das mulheres protagonistas da minha pesquisa, nos meus dias nomeados tanto me serve o sushi em versão vegan, como um biryani de legumes a recordar-me os Hare Krishna ou uns chicharros com couve segada como aprendi a fazer na aldeia de Barreiros, em Valpaços. A minha comida é de muitos lugares. E eu sinto que não sou de lugar nenhum. Já na adolescência, as comidas das festas de aniversário – rissóis encomendados, bolo de aniversário comprado e sanduíches, bolos, mousses e bolachinhas feitas pela mãe – eram comidas sem história. Assim, à distância de muitos anos, parece que já naquela altura havia uma certa orfandade de lugar na comida que se comia em casa. Eram só comida de casa. Mas parecia que a casa não era de lugar nenhum.

A conversão ao vegetarianismo, na adolescência, exacerbou a orfandade de lugar das comidas. Na altura, nem família, nem colegas entenderam a conversão. Mas os pais acabaram por deixar de comer carne e quando as amigas da adolescência se juntam, cozinham-se pizzas de legumes, lasanhas de espinafres, tartes de abobrinhas e devoram-se gelados. Eu prefiro cozinhar caril de lentilhas e pão sem fermento. Chamo-lhe pão árabe para as impressionar. Mas também lhe posso chamar chapati . Na verdade, posso chamar-lhe qualquer coisa. Situo-me numa comunidade global de vegetarianos, às vezes crudívoros. Tenho a mania das comidas sem ‘Es’, de pensar global e fazer de conta que como local, dos alimentos orgânicos, das comidas com pedigree, genuínas, de preferência não embaladas em plástico. Mas não troco receitas na internet, nem me inscrevi em nenhum grupo de gente que come verde. Os fundamentalismos duram-me pouco. Sou uma insurrecta, por natureza. De modo que, produzir uma etnografia da comida, obrigou-me a igualar os níveis da teimosia aos da insurreição.
 
Escrevo, agora, as notas finais desta aventura...até já...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

CITANDO O ORIENTADOR

"EXCELENTE". A referência é ao Capítulo 13. E foi com maiúsculas e tudo. Agora vou ali babar-me e já volto.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A VERDADEIRA HISTÓRIA

Este post já era para ter sido escrito há muito tempo. Na verdade, deveria ter sido escrito como post inaugural, enterrados que estavam os Brincos de Chocolate. Fui adiando, por preguiça, porque não me apetecia justificar a minha mudança radical de vida e porque sim.
Poucas pessoas, mesmo muito poucas pessoas compreenderam a decisão de me despedir do ISCSP, numa altura em que entrava na fase final de doutoramento, quando ainda me restavam dois anos para terminar o prazo para entrega da tese e tendo garantida a contratação como professora auxiliar assim que o grau fosse obtido. O que, na prática, significava passar a ganhar o dobro do que ganho agora. Mais, até.
Ouvi palavras amargas "ainda hei-de estar aqui para ver o teu arrependimento", vi olhares que achavam que a decisão resultava da minha incapacidade em terminar de escrever a tese e adivinhei pensamentos do tipo "está deprimida, coitada...".
Pois, azar. Engaram-se. Na verdade, quem me conhece sabe que eu não deixo as coisas a meio e que a tese, mesmo estando fora da carreira académica, seria para terminar, como aliás, está prestes a acontecer. Quem me conhece sabe, também, que sou uma mula teimosa que demoro a decidir, mas quando decido nunca mais volto atrás. E é bom que não se esqueçam disso, ó gente...
Sim, é verdade que a passagem por Trás-os-Montes me ajudou a tomar uma decisão que ia adiando desde há muito. Também é verdade que o meu orientador, Xerardo Pereiro, me mostrou outras formas de fazer antropologia e que hoje são estruturantes na minha maneira de estar e de ver o mundo e de me relacionar com as outras pessoas e com a investigação. Ele também é devedor desta mudança. Mas suspeito que não faz ideia... :)
Se foi difícil? Foi, pois. Em junho do ano passado já a decisão se tornava inevitável e em setembro, com o início das aulas, eu decidi que chegava. Em dezembro do ano passado entreguei a minha carta de demissão, bai-bai, e em março saía da faculdade.
Poupei durante um ano e privei-me dos luxos a que estava habituada para aguentar o embate. Os últimos meses antes da saída foram de ansiedade continuada. Até achei que andava à beira de uma síncope cardíaca.
Voltei para a Figueira. Em março, a minha casa ainda estava em obras e voltar a viver com a mãe foi difícil, foi sim senhora. Duas galinhas alfa na mesma capoeira não se entendem muito bem :) Mas a minha mãe está sempre ali para mim. E também ela me proporcionou a segurança que necessitava.
Nunca me senti desempregada e nunca disse que estava desempregada. Fechei-me em casa a escrever a tese e o trabalho ajudou-me a esquecer o facto de estar sem rendimentos. Contava, apenas, voltar ao ativo por esta altura, para ter tempo de terminar a tese com calma. Enganei-me. Em julho recebia um convite para ir trabalhar para o Museu de Arte Popular. Já tinha passado por lá há 15 anos, quando saída da faculade, fiz um estágio voluntário.
Ganho muito menos do que ganhava e tenho menos regalias sociais. Paciência. São escolhas. Mas vou todos os dias feliz para o trabalho e não deprimida como sucedia. Adoro o que faço e acredito no projeto, apesar de todas as dificuldades que aí vêm. Creio que com poucos recursos e imaginação se consegue fazer um museu do povo e para o povo. Porque é para isso que os museus existem.
Para aqueles que acharam que eu ia sucumbir, vão à merda, sim? Para os outros que sempre acreditaram em mim, como a minha querida Irene com quem almocei ontem, obrigada.
E agora com licença que vou fechar mais um capítulo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ESTOU CAPAZ

De matar por um chocolate Godiva.

HÁ DIAS ASSIM

Que começam com o orientador a elogiar o último capítulo. Agora só falta mesmo fazer as últimas correções e escrever as conclusões. E imprimir milhares de páginas...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SFF

Está a chover e a trovejar. Era um pratinho de scones com manteiga e um chocolate quente, sff. Também pode ser um sofá, uma mantinha de caxemira, uma televisão e um bom filme, de preferência que não me faça chorar. E, já agora, umas meias de lã que tenho os nano-pés gelados. Sim, quero o pacote todo.

domingo, 19 de setembro de 2010

FAZ DE CONTA


Que está um sol escaldante. Que depois das lajes que separam os aposentos do hamman a pele vai cheirar a ananás e a cacau e vai ficar ainda mais macia do que estava esta manhã. Faz de conta...

sábado, 18 de setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

REOP À CONCORRÊNCIA

Big Boss, Magalhães, Pé de Chispe e Edelweiss (tudo nomes de código), fizeram uma REOP à concorrência. Que é como quem diz, fomos ver a Exposição Povo no Museu da EDP. A coleção dos bonecos do Tom que integra o acervo do MAP é fantástica, mas também adorei esta.
 

Na fotografia* seguinte pode ver-se Dalila Braga, secretária do SPN/SNI, responsável pela confeção dos trajes regionais dos bonecos de Tom que integraram a exposição do Centro Regional em 1940.




*Hoje quebro a regra de só usar fotografias da minha autoria. Esta, cujo autor ainda desconheço, faz parte das muitas centenas que estamos a começar a tratar para construir a história deste Museu.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

AN OFFICE WITH A VIEW



É aqui mesmo...

domingo, 29 de agosto de 2010

...

Bom, considerando que só trouxe um tacho, um garfo, uma faca, uma colher e um copo e não tenho frigorífico, fica difícil haver comestíveis dignos de serem fotografados.
Depois da odisseia de março, com a mudança de tralha acumulada durante 20 anos, elegi uma máxima: só ter na casa secundária aquilo que conseguir transportar sozinha, que couber no meu carro e, de preferência, apenas numa viagem.
Claro que rompi logo com a norma dois dias depois de ter chegado a Lisboa. Fui ikear e em vez de comprar um tampo de secretária de dimensões reduzidas, encantei-me com um maiorzito, cujo peso ultrapassa os 25 quilos e que me obrigou a desmontar parte do habitáculo do carro para poder trazê-lo para casa. Lindo, lindo, foi ver-me a alombar com o dito desde o carro, que ficou a milhas de distância da prédio, até à porta. Desejei ser Hulk, Pouco faltou, porque fiquei verde de esforço.

sábado, 21 de agosto de 2010

...

Daqui a umas horas volto a viver em Lisboa.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

...

Ando tão cansada, mas tão cansada, que ontem, em vez de abrir a tampa do balde, abri a tampa da sanita e enfiei para lá a roupa suja...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

15

15 horas de trabalho. E sem vestígios de sono. Mas estou com umas olheiras de intimidar o próprio conde Drácula.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

É

É possível trabalhar 11 horas seguidas? É. E ainda não acabei.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

BREAKING NEWS

13º capítulo...escrito!
Ah, e tal, e agora também sou consultora do Museu de Arte Popular.


segunda-feira, 19 de julho de 2010

SUMOS


Para clarificar ideias, centrifugar beterraba, laranja, maçã e cenoura.

sábado, 17 de julho de 2010

OS CSIPETKE DE GEORGINA

Georgina foi uma das doze mulheres que entrevistei lá em cima. Uma mulher diferente de todas as outras.
Filha e neta de húngaros, Georgina é, ainda hoje, uma mulher dividida entre duas culturas. O pai, jogador de futebol na Hungria, viajou em 1926 com a sua equipa até à Madeira. A convite do Nacional ficou a jogar no clube e, um ano depois, passa a integrar o Marítimo. Em 1925 tinha já nascido na Hungria o irmão mais velho de Georgina. A mulher e o filho, juntam-se-lhe na Madeira e, em 1929, já com a dupla função de treinador-jogador do Futebol Clube do Porto, nasce a irmã mais velha de Georgina, na invicta.
Mas esta criança não ficaria a viver em Portugal por muito tempo. A mãe decide levá-la para viver com os avós maternos pois estes, com a vinda da filha para Portugal, tinham ficado muito sozinhos. Durante um ano, a mãe de Georgina habituou a filha mais velha ao convívio com os avós e, depois, regressa a Portugal. Seria uma decisão trágica que exporia, anos mais tarde, a já adolescente rapariga aos horrores da II Grande Guerra.
Em 1932, na freguesia de Paranhos, nascia Georgina. A família não ficaria para sempre na cidade do Porto. Em 1935, o pai irá treinar o Braga. Soutelo, em Vila Verde, é a localidade que desperta as memórias alimentares mais remotas de Georgina. Em casa, só se comia comida húngara. Dois anos depois, com o convite para treinar o Sporting, o pai de Georgina traz a mulher e os três filhos ficando a família a viver em Paço de Arcos até 1944. Em 1938, nascia o irmão mais novo de Georgina.
Paço de Arcos representa, nas memórias de Georgina, o lugar mítico onde a mãe ensina aos filhos um modo de vida profundamente influenciado por Sebastian Kneipp, o padre bávaro criador da naturopatia e defensor da hidroterapia. Georgina era uma criança franzina e muito doente e acredita ter sido a alimentação natural, aliada a intenso exercício físico que incluía longas e diárias caminhadas de Cascais ao Guincho, juntamente com a prática da hidroterapia que lhe permitiriam sobreviver a uma infância que estava, também ela, condicionada ao racionamento alimentar da II Guerra Mundial.
A mãe recorria aos ensinamentos de Kneipp para tratar não apenas as frequentes amigdalites da filha, como também para cuidar de toda a prole quando as doenças infantis chegavam. Ultrapassadas as fragilidades da saúde na infância, Georgina torna-se campeã nacional de ténis na adolescência. A prática desportiva era naturalmente influência do pai e da mãe a qual nadava nas praias da Linha de Cascais, no Tejo e em redor das Berlengas. A família regressaria ao Porto em 1945, depois do nascimento, no mesmo ano, da irmã mais nova de Georgina. A Portugal regressaria, também, a irmã mais velha de Georgina, profundamente traumatizada pela II Guerra Mundial.
Posteriormente, iriam viver para o Algarve, onde o pai treinaria mais duas equipas de futebol. As viagens constantes do treinador dificultaram a consolidação de relações de amizade com os colegas da escola. Georgina queixa-se de um desenraizamento que continua a sentir, afirmando que não pertence a nenhum lugar. O casal e os cinco filhos viviam uns para os outros e em casa só se falava húngaro. O pai é recordado como um homem autoritário, íntegro e puro e a mãe como uma fada. Ambos proporcionaram aos filhos o que Georgina define como numa infância felicíssima.
De volta a Soutelo, novamente para o pai treinar o Braga, Georgina inicia o seu curso no Magistério Primário. É também em Soutelo que conhece aquele que viria a ser o seu marido. Recorda o momento como um acontecimento mágico e romântico. Casam-se em 1953.
O casal teve dois filhos; uma rapariga e um rapaz, ambos nascidos em Braga. Com o casamento, Georgina começa a comer, pela primeira vez, comida portuguesa confecionada pelas criadas lá de casa. É também somente após o casamento que Georgina prova álcool. As mudanças na dieta levaram-na à cama e só lhe valeu uma cura feita nas termas de Chaves no ano de 1954. Da mãe pouco aprendeu a cozinhar porque ela preferia que a filha se dedicasse aos estudos e não às aprendizagens culinárias. É o marido que, após o casamento, lhe foi ensinando algumas receitas portuguesas.
Mantém uma relação funcional com a comida, referindo que come para comer e não vive para comer, rejeita as comidas excessivamente gordurosas e açucaradas e não aprecia o que é normalmente caraterizado como comida transmontana. Refere-se, frequentemente, à comida dos transmontanos como a comida deles e à comida húngara como a nossa comida. Atualmente, Georgina, que enviuvou em 1997, vive sozinha na sua quinta. E os filhos e os netos vivem na zona do Porto. Dos irmãos, apenas estão vivas as duas irmãs que vivem em Vancouver. Georgina viaja com muita frequência. Conhece quase toda a Europa e gosta de provar a comida dos lugares que visita. Diz que as viagens sempre fizeram parte da sua vida mas que continua a sentir-se desenraizada onde quer que esteja. Na Hungria, numa viagem feita há sete anos, já não conseguiu encontrar ninguém da sua família.

Hoje lembrei-me dela. Desta mulher que espelha uma infinita serenidade. Falou-me um dia dos csipetke que a mãe colocava nas sopas e de como tinha saudades dessas comidas.
 
Em casa dos meus pais comia-se sopa, aquelas sopas de natas, e com um prato daquela sopa também fica uma pessoa saciada. Muitas vezes era só a sopa com a massa que ela fazia. As sopas húngaras são autênticas refeições: tem batata, tomate, pimento, aqueles lençóis de massa, nata, tem tudo. E depois frango. Comíamos pouco peixe, porque na Hungria também não há peixe, a não ser peixe do lago. Eram mais aves que comíamos, ovos, cogumelos, mas pão não se comia à refeição. Fruta à sobremesa ou então ela fazia bolos tão bons e nós comíamos logo tudo.
 
E hoje decidi fazer csipetke. Bom, não serão os verdadeiros csipetke, mas um bocadinho de criatividade não faz mal a ninguém:)
Juntei 200 gramas de farinha a 2 gemas de ovos, salsa e alho bem picadinhos, uma pitada de flor de sal e água qb para fazer uma massa elástica. Amassa-se bem, faz-se um rolo e cortam-se pedacinhos bem pequenos.
Entretanto, tem-se ao lume uma panela com água a ferver e vão-se deitando os csipetke para cozer. No máximo uns dez minutos. Atenção que se ferverem pouco tempo, a massa não coze no interior. E aumentam bastante de tamanho.
Retirar com uma escumadeira e deitar logo num recipiente onde já se tem um pouco de azeite e sumo de limão. Juntei feijocas cozidas e um pouco de requeijão.
 
 
Também fiz uma salada. Não posso dizer para acompanhamento, porque segundo as teorias do Dr. Bircher-Benner, todas as refeições devem começar com um prato de vegetais crus, para se evitar a leucocitose digestiva. Assim fiz. Neste caso juntei alface, cenoura, cebola e sementes de abóbora.
 

sexta-feira, 16 de julho de 2010

NO QUINTAL DA OVELHA

Há feijões (apinhados de piolhagem) que plantei...


E mais feijões dos quais se esperam feijocas daqui por uma semana...


Tagetes para afastar as pragas...(agora fiquei na dúvida se lhes chame marigolds...)...


Acelgas plantadas à sombra que pouco se desenvolveram e aguardam transplante para área mais ensolarada...


E muitas, muitas, muitas ameixas...

terça-feira, 6 de julho de 2010

DOCE ARROZ DOCE


Um dia destes acordei e tive o meu momento epifânico: "Ah! Vou inventar o melhor arroz doce do mundo!". Consultada a grande especialista,  minha prima Xandinha, que se auto-intitula uma "snob do arroz doce", foi-me transmitido que o arroz doce deve ser feito com gemas e ter uma textura cremosa.
Ei-lo. Claro que depois tive uma crise de fígado. E só usei 6 das 24 gemas que fui comprar ao mercado.
A experiência permitiu-me ultrapassar reticências de longa data em relação ao mesmo. E percebê-las. É que sempre me deram arroz doce sem gemas e/ou demasiado seco. Mamãe argumentou: "Mas o meu é assim igualzinho a este, só não leva gemas!". Sim, sim, e eu sou uma pitonisa pós-moderna.

Estou seriamente a pensar comercializar o dito, embora depois do biryani de lentilhas, cajus e coentros que produzi ontem à noite tenha voltado a ficar soterrada em dúvidas existenciais. Também considero a hipótese, lá para outubro, de fazer como o Bill Buford fez em Nova Iorque e oferecer-me para trabalhar à borla no restaurante do Yotam. Agora que ele editou um livro sobre vegetais, sou capaz de lhe perdoar as almôndegas de borrego.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O PÃO MILLET E OS ANTEPASSADOS

Embora tenha uma máquina de fazer pão cá em casa, presente de umas das minhas informantes flavienses, o pão, pão, faz-se à mão. Não há cá medidas pipi, não se usa a balança e a única preocupação é amornar a água para animar o fermento.
A lógica é sempre a mesma: juntar os ingredientes secos na taça  - desta vez foi farinha branca e integral, flor de sal  e um pouco de millet - e depois adicionar os líquidos, ou seja, o fermento dissolvido em água e um pouco de açúcar e o azeite.
É conveniente, e isto aprendi com um cozinheiro Krishna lá no Templo da Estefânia em Lisboa, juntar água a mais no início, e depois ir juntando a farinha necessária, do que poupar na água e ter que tornar a vertê-la. Deve haver ums explicação científica. Que eu desconheço...
Desta vez, deixei a massa mais húmida para o millet ter água suficiente para poder inchar.
Amassa-se qb e depois de crescer para aí 1 a 2 horas, volta a dar-se umas amassadelas rápidas, e vai ao forno. Uso sempre a minha placa de terracota porque absorve a humidade excessiva e o pão fica delicioso.
Este, ficou com uma textura crocante devido ao millet.



Mal ficou pronto, e era um senhor pão, foi logo cortado e degustado com uma camadinha, contida, de manteiga de vaca feliz dos Açores.
No dia seguinte, serviu para aconchegar um repasto ovo-vegetariano. Grão com cebola picada, coentros e salsa e uma generosa salada de cenoura, cebola, tomate, alface e maçã.



Não é que alguma vez a minha avó Susana tenha feito pão millet. A onda dela era mais as filhós e o bolo de azeite. Mas a épica malga onde depositei o singelo ágape, despertou-me memórias. E fui caçar fotografias antigas.


Vovó Susana e vovô Ventura são o casal da direita. Ao lado da vovó está a sua irmã Marquinhas, madrinha da minha mãe, e seu respetivo marido. Olhando para ela assim vestida, acho que lhe herdei o gosto pelos chapéus :)

sábado, 26 de junho de 2010

INSPIRAÇÕES DIÁFANAS

O cenário já tem uma semana. A visita dos primos Pedro, Tucha e Pedro X, o herdeiro pimpolho, originou um ágape oriental e uma casa florida.

Flores e mais flores. Vindas do quintal e combinadas sem muitos porquês.


Mas as flores mais bonitas, em detalhe em baixo, chegaram com as visitas. Lindas!




quarta-feira, 16 de junho de 2010

BURFIS APRESSADOS

Como era previsível, não consegui esperar até ao final da semana para resgatar os livros do Kurma, como este, este e este que estão nas estantes da cozinha, e fazer os burfis apressados. Eu acho que estes que fiz, burfis de alfarroba e avelãs, são uma versão fajuta e preguiçosa dos verdadeiros burfis, ou seja, daqueles que demoram uma eternidade até o leite que está ao lume reduzir e condensar.

Na verdade, depois de os provar, para além de ter tido assim uma experiência à la Madalenas de Proust e de achar que estava outra vez no Templo de Lisboa dos Hare Krishna a tomar notas para o meu mestrado, conclui que Lévi-Strauss estava certo: partilhamos todos as mesmas estruturas mentais. É que se os indianos inventaram os burfis (foi mesmo?), os brasileiros inventaram os primos que são os brigadeiros (foi?).


Comer um burfi de alfarroba e  avelã é assim como comer um brigadeiro de alfarroba e avelã, tal e qual como aqueles que eu fazia para oferecer no Templo. Foi oferecido a Krishna?, perguntavam-me sempre os devotos. Ainda não, mas respeitei todas as interdições, que é como quem diz, não provei nada enquanto preparava os docinhos.



Ontem, em ambiente profano, mal despejei a massa fumegante na travessa, lambuzei-me com a colher de pau, mais a espátula e ainda lambi os dedos. Pena estar sem sari...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

TARTE DE REQUEIJÃO E PESTO DE COENTROS

Tenho tido gastro-epifanias atrás de gastro-epifanias. As melhores, bom, as doces, estão guardadas para o final da semana. Digamos que, para essas, recuperei Krishna do disco rígido.
Se o PHD está na reta final, em relação à massa das tartes eu já tenho uns 5 pós-docs. Apesar do recheio ser fundamental e a principal fonte de sabor, pode dizer-se que uma tarte só fica bem feita quando a massa não se transforma numa base mole e empapada.
Como é habitual, fiz a massa intuitivamente, misturando farinha branca e integral, manteiga, azeite, água e flor de sal. É fundamental que fique com uma consistência elástica. Forrei a forma desmontável e levei ao forno uns 10 minutos. Mas sem aquelas cenas pipis do papel vegetal e dos feijões por cima, porque não há pachorra para estar estragar 100 gramas de leguminosas só porque se teme que a massa enfole enquanto coze.
Quanto ao recheio foi só misturar leite (talvez uns 2,5 dl), 4 gemas, meio molho de coentros e flor de sal e triturar tudo com a varinha mágica.
Na massa já semi-cozinhada desfiz um requeijão e meio e depois deitei por cima a mistela de coentros. Claro que é um pesto pobre, ou seja, sem pinhões. Mas também não precisou. Esteve no forno até ficar firme e começar a dourar por cima. A massa ficou fina e estaladiça e o recheio, vá, momento narcísico, perfeito.
Estou a pensar comercializar estes piquenos tesouros artísticos a partir de outubro. Mas sem salvas de prata.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

HAMBURGOS DE LENTILHAS CORAL

Na versão original chamam-se Lentil rissoles. O livro tem uma receita que incorpora outros ingredientes que me faltavam em casa e obriga a uma fritura final. Eu, que não possuo fritadeira (nem sequer uma frigideira...) e não aprecio fritos (bom...ok...aprecio tempura...), optei por assar os Lentil rissoles e chamar-lhes outra coisa.
Mas ficam ótimos. Embora sejam muito mais adequados para servir com uma salada de alface, rúcula e outras coisas cruas e frescas, do que aconchegados num pão à laia de hamburgos. Lá vai a receita.






Ingredientes
azeite suficiente para cobrir o fundo de uma panela (no livro só fala numa colher de sopa o que é manifestamente insuficiente e completamente desadequado às práticas alimentares caraterísticas do sul da Europa)
1 cebola picada
2 dentes de alho picados
2 colheres de sobremesa de cominhos em pó
1 colher de sobremesa de coentros em pó
e eu acrescentei, como faço sempre, uma pitada de açafrão
sal q.b.
1 cenoura picada
250 gramas de lentilhas coral (bem lavadinhas em água corrente...esta parte do lavadinhas não vem no livro...)
120 gramas de pão ralado na hora
60 gramas de avelãs picadas
90 gramas de ervilhas congeladas (não tinha mas também ninguém se queixou)
3 colheres de sopa de salsa (idem...)


Preparação
Deitar o azeite numa panela e as especiarias. Levar a lume baixo para as especiarias libertarem os seus aromas (esta parte da aromaterapia não faz parte da receita que diz para enfiar temperos, cebola e alho ao mesmo tempo, mas eu, que possuo um treino iluminado em cozinha de Krishna, juro a pés juntos que, sem a libertação prévia dos aromas, a comida perde metade da piada).
Juntar a cebola e o alho e deixar cozinhar até a cebola ficar translúcida. Juntar a cenoura picada e as lentilhas e, novamente, deixar que as leguminosas incorporem os aromas das especiarias. Só depois, juntar a água. Quanto? Meio litro.
Aumentar o lume e deixar atingir o ponto de ebulição. Depois, tapar, baixar o lume para o mínimo e deixar cozinhar 25 a 30 minutos, sendo os últimos dez sem o testo posto para que toda a água se evapore.
Deitar numa taça e deixar arrefecer uns 10 minutos. Juntar o pão ralado e as avelãs (e as ervilhas e salsa se houver). Moldar discos do tamanho de hamburgos (ok, hambúrguers). Para fritar, convém deixar descansar no frigorífico durante 30 minutos e depois passar por pão ralado antes de enfiar na frigideira...ou fritadeira.
Como assei no forno, não tive de esperar tanto tempo. Foi moldar e levar ao forno. Não me perguntem quanto tempo. Mas o suficiente para começar a ganhar crosta.

 

domingo, 6 de junho de 2010

FOLAR DE TENTÚGAL



É um vício. Não me refiro ao da gula que se exercita sempre que contemplo a parte superior dos folares de Tentúgal. Aquela protuberância faz-me sempre lembrar a grande explosão lateral do Monte Santa Helena em 1980. Pois, é um bocado piroclástico...mas dá vontade de sacanear o folar e extrair-lhe o pedaço de massa amarela, fofa e ligeiramente húmida e devorá-lo sem etiqueta.
Sim, o vício. É o das perguntas. E este, como é que lhe chamam? Ainda bem que a dona do Afonso lá estava atrás do balcão a atender outras pessoas. Ouviu-me as perguntas e veio com as respostas que eu procurava. Filha do fundador da casa, o Afonso, despejou-me em cinco minutos um manancial de informação que eu degustei à exaustão.
Pertence à  Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal que tem desenvolvido um trabalho riquíssimo de preservação da memória local  e de rentabilização do património alimentar. Exemplo a seguir.

NOTA - A Confraria promove visitas guiadas pelo património cultural, gastronómico e arquitectónico de Tentúgal. Contactos: 963609742/ descobrirtentugal@gmail.com

sexta-feira, 28 de maio de 2010

TOCHAS DE TENTÚGAL


Há comidas que só compro para ter o prazer de as fotografar. Mas, depois, também as como...

terça-feira, 25 de maio de 2010

SENHORA DA SAÚDE LÁ EM CIMA




Foi repentino. Havia que subir até lá acima para registar as merendas das festas da Senhora da Saúde em São Pedro de Agostém, Chaves. No passado, as merendas que se levavam de casa para as festas  não tinham uma estrutura rígida nem obrigavam a uma comida principal, embora as carnes assadas, o fumeiro e o pão fossem elementos constantes.

Íamos à Senhora da Saúde em São Pedro. O meu pai adorava, não sei porquê, mas ele tinha uma ligação grande àquela terra. Levava-se uma grande merenda. Levavam-se toalhas, estendiam-se as toalhas. Era muita gente. Levava-se salpicões, linguiças, frango assado, galo, peru, o que havia. Carnes, sobretudo carnes e pão para acompanhar. Era comida de dedos. (Zita, 8-1-2008)

Merendar nas festas da Senhora da Saúde implicava, à semelhança do que acontecia nas outras romarias, partilhar se não a comida pelo menos a proximidade espacial com conhecidos e amigos que se encontravam por acaso ou quem se tinha combinado o encontro dias antes.

A minha sogra ia à Senhora da Saúde porque é a santa padroeira da aldeia dela. Íamos lá comer. Toda a gente leva merendas. Levávamos quase sempre carne assada, fazia-se folar, os bolos, vinho, jeropiga, mas não se usavam talheres. Mas como o meu sogro era tão conhecido, às vezes nem a merenda tirávamos do carro, porque nos chamavam para comer com eles. (Natália, 1-5-2007)

Partilhava-se, isso sim, e ainda se partilha, a expetativa do temporal. De facto, diz-se que não há Senhora da Saúde sem uma fortíssima trovoada seguida de uma intensa chuvada. Espera-se, contudo, que o temporal não suceda nem na noite de domingo, enquanto se faz a procissão das velas, nem no dia seguinte, quando saem os andores em procissão pela aldeia e, depois, enquanto se tomam as merendas.

As merendas do passado, que se preparavam e se traziam de casa, parecem ter sido substituídas parcialmente por comidas de barraca. Junto à igreja da Nossa Senhora da Saúde, dias antes da festa, vão chegando camionetas, roulotes e atrelados de comidas e bebidas. A oferta inclui frangos assados, bifanas, polvo, pipocas e algodão doce, cachorros quentes, gelados, pão, queijo, cerejas e bolos. Mas também há camionetas de atoalhados que se vendem quando a voz do padre Ladislau termina o sermão. Nessa altura, os vendedores ambulantes pegam nos megafones e iniciam a venda da mercadoria substituindo os sons sagrados pelos sons profanos.

Alguns dos comerciantes vêm à festa há já muitos anos. Não somente à Senhora da Saúde. Voltam, também, por ocasião do São Caetano e dos Santos. Dona Ana vem com o marido todos os anos a estas três festas desde há muito tempo. Vêm de Lousada e carregam a camioneta com os bolos que a família já faz há quatro gerações. Trazem, entre muita variedade, as regueifas doces. Têm clientes que lhes compram os bolos ano após ano e que já são tratados pelo nome próprio. Mas há quem prefira sentar-se nas tendas onde se assam os frangos e se coze o polvo que depois é servido em pratos de madeira. São sobretudo os homens que o fazem, transformando as tendas em territórios masculinos. Alguns aguardam as mulheres que estão dentro da igreja a assistir à missa. Depois, reunir-se-ão ao resto da família e partilharão uma manta estendida no chão do pinhal ali ao lado e comidas trazidas de casa e compradas na festa.





Foi repentino. Mas há sempre tempo para visitar os amigos que lá se deixaram. Na bagagem vieram acelgas, framboesas e groselhas que já plantei hoje de manhã enquanto o calor não apertava. Também vieram comidas lá de cima. Perguntou-me a Lila, da Pastelaria Maria: Porque não faz lá na Figueira o folar de Chaves? Fartava-se de ganhar dinheiro...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

RITUAL


Gosto de passar pelo quintal e roubar uma rosa para perfumar a minha casa. Além de que as rosas combinam bem com as pulseiras da Adriana :)



domingo, 16 de maio de 2010

SAPATEIRA

Não tenho tido muito tempo para fazer comidas. Os dias começam muito cedo. Tenho um quintal cheio de árvores de fruta e muitas ervas daninhas no chão. Há que usar a motosserra para cortar os ramos mais grossos de árvores que cresceram sem norte e cavar, cavar, cavar para limpar o terreno e poder começar, dentro de um par de semanas, a plantar alguns legumes. Depois, ainda da parte da manhã, há móveis para restaurar. É toda uma rotina que inclui lixar e pintar e que parece não ter fim.


Já recuperei duas mesas de apoio (fotos para breve!) e este armário que transformei em sapateira. Não foi nada complicado. Lixou-se toda a superfície (o interior também!), aplicou-se o primário e depois foi pintar e lixar entre cada demão...e foram umas quatro demãos! Como não tenho jeitinho nenhum para a costura, a almofada foi feita numa loja aqui na Figueira. Hoje fui a Coimbra e comprei os puxadores. Estou muito satisfeita com o resultado final...mas ainda falta recuperar tantos móveis!


Não sei se este não será o móvel menos simpático da casa...é que acho muito adequada aquela prática cultural que vigora, por exemplo, na Dinamarca e que sugere que se tirem os sapatos quando se entra em casa :) A minha viagem a Copeganha em 2008 tinha de dar frutos! Agora só me falta comprar os chinelos para as visitas!
Tantas horas matinais dedicadas aos trabalhos agrícolas e ao restauro podiam cansar-me para o resto do dia. Mas não! Enquanto ando entretida, penso nos problemas teóricos que a tese me suscita e ganho energias para dedicar as tardes à escrita. Doze capítulos já foram escritos e revistos e agora entro, finalmente, na última parte da tese: a que é dedicada ao património alimentar :)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

MIGAS DE BROA DE MILHO, FEIJÃO MANTEIGA E COUVE


Uma broa de milho amarelo comprada ontem em Montemor-o-Velho. Algumas folhas das couves do quintal. Feijão manteiga posto de molho durante a noite. Haverá comida mais simples de preparar?
Coze-se o feijão e reserva-se. Esfarela-se um pedaço de broa em pedaços grossos. Pica-se a couve em tiras fininhas e levam-se a cozer em muito pouca água com sal uns breves minutos. Para ficarem ligeiramente crocantes.
Depois, cobre-se o fundo de uma panela com azeite, picam-se alguns dentes de alho e leva-se ao lume para estalar. Junta-se a couve escorrida, o feijão, um pouco da água de cozer o feijão e, por último, a broa esfarelada. Apuram-se os temperos, aumenta-se o lume e vai-se mexendo até todo o líquido ser absorvido. Não demora mais do que uns minutos.
Finalmente, polvilha-se com cebolinho picado. É reconfortante...mas dá uma moleza pós prandial que é uma desgraça :)

71

Ontem, mamãe fez 71 anos. Mal se levantou e abandonou seus aposentos, já eu a esperava com o presente. Uma foto tirada no Dia da Mãe. Depois dos beijinhos habituais ("ai, minha rica filha que é tão esgroviada"), ainda fui ao quintal caçar flores para lhe oferecer.



Ao final do dia, depois de um almoço nos Patinhos, em Montemor-o-Velho (gosto tanto quando o empregado de mesa percebe as minhas opções alimentares e me presenteia com uma salada verdadeiramente digna de constar na lista dos melhores restaurantes vegetarianos), mamãe pediu mais fotos...é tão vaidosa!

sábado, 8 de maio de 2010

GELADO DE KEFIR COM FRUTOS SILVESTRES

De todos os brancos, o branco cor de nata é, seguramente, o meu preferido. É uma cor que apetece acariciar, que parece combinar a dose certa de transgressão e sensualidade com uma timidez difícil de ultrapassar e que me faz logo pensar numa sobremesa refrescante tomada à sombra de uma nogueira em flor.

Quando há dias interrompi a hibernação do kefir, já sabia que era com natas, e não com leite, que queria fazer novas experiências. Testar texturas e sabores sem ser excessivamente minuciosa nas quantidades. Seguir o instinto…


Misturei o kefir com 600 ml de natas frescas e 200 ml de leite gordo e reservei num recipiente de plástico deixando a tampa ligeiramente destapada*. Ao fim de 48 horas, escorri o kefir e misturei cerca de 250 grs. de açúcar e cerca de 300 grs. de frutos silvestres congelados. Envolvi suavemente, coloquei num recipiente hermético e levei ao congelador.

Hoje, depois de um creme de favas com croutons caseiros, ovo escalfado e coentros picados, apeteceu-me uma sobremesa refrescante tomada à sombra de uma nogueira em flor...infelizmente, chovia torrencialmente! E, no meu quintal, também não há nogueiras!

Mas desfrutei, enroscada no sofá, um gelado branco cor de natas tingido de amoras, framboesas e mirtilos pecaminosos…hum...delicioso...



* Segui os procedimentos habituais para fazer kefir: juntar o kefir ao líquido, não usar recipientes nem utensílios de metal, deixar a tampa do recipiente ligeiramente destapada e abanar suavemente o recipiente de vez em quando.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

40


Pedi uma cabra anã e um ganso bebé, mas claro, nunca ninguém me leva a sério...




Para além das rosas que, juntamente com as camélias, são das minhas flores favoritas (não é à toa que sou fã do óleo de rosas), também tive direito a bolo e gelado da Emanha. Já tinha provado, o ano passado, o gelado de kefir. A questão é que, entretanto, ressuscitei o meu kefir que estava a hibernar no frigorífico desde que voltei para a Figueira, há mais de um mês. Estou em fase de produção de um gelado de kefir com frutos silvestres. E preciso de fazer comparações :)



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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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