domingo, 23 de fevereiro de 2014

WRAPS COM FOLHAS DE PAPEL DE ARROZ

Há muitos anos, pouco tempo depois de ter terminado a licenciatura, decidi fazer umas aulas de olaria na Associação dos Artesãos da Região de Lisboa. Tinha uma imensa vontade de aprender e estava absolutamente convencida que tinha talento para aquela arte. Tenho a certeza que tomei essa decisão no contexto de um surto psicótico que me fez esquecer a qualidade das minhas produções oleiras no Ciclo Preparatório. Porque há pessoas que deviam ser proibidas de mexer em barro. E eu sou uma dessas pessoas. Sou absolutamente incapaz de transformar um pedaço de barro num qualquer objecto, por mais simples que este seja.  As (poucas) aulas foram um tormento. O barro ganhava formas diabólicas nas minhas mãos. Acabei por desistir porque conclui que a minha presença era um insulto aos professores. A paciência que tinham para a minha falta de jeito era louvável. 

Quando hoje decidi fazer wraps com papel de arroz, estava longe de imaginar que teria uma experiência semelhante às minhas aulas de olaria. As folhas de papel de arroz (de acordo com as instruções do pacote) devem ser demolhadas em água bastante quente até amolecerem. Depois, devem ser escorridas e o excesso de água retira-se colocando as folhas sobre um pano de cozinha  Tudo isto implica uma destreza de movimentos para impedir que a folha  se enrole  sobre si mesma e tudo fique colado e parecido com um charuto cubano. A primeira folha que demolhei ficou exactamente assim. Demorei uma eternidade a descolá-la e a estendê-la no prato. Felizmente, percebi que não era imprescindível colocar a folha sobre um pano de cozinha para retirar o excesso de humidade (é a operação assassina do processo) e lá me safei.

A dobragem das folhas de papel de arroz (que são circulares), obedece a uma ordem específica para garantir que o recheio fica selado. Primeiro dobra-se a parte superior sobre o recheio, depois ambos os lados e, finalmente, a parte inferior.


Ingredientes
Folhas de papel de arroz
Arroz basmati 
Folhas de aipo 
Acelgas
Coentros
Cenouras
Ovos 
Cajus
Óleo de coco
Flor de sal

Preparação
Cozer o arroz em água temperada com sal e escorrer. Saltear o arroz em óleo de coco até ficar bastante crocante. Reservar.
Branquear as folhas de acelga em água fervente durante um minuto. Escorrer, cortar em tiras e reservar.
Cortar a cenoura em palitos finos. Reservar.
Separar as folhas de aipo dos talhos, cortar em tiras e reservar.
Cortar os coentros e reservar.
Bater os ovos, fritar em óleo de coco (basta fritar de um dos lados), retirar da frigideira, enrolar e cortar em tiras. Reservar.
Saltear os cajus em óleo de coco e flor de sal até começaram e dourar e reservar.

Preparar as folhas de papel de arroz de acordo com as instruções do pacote (o processo consiste, como referi anteriormente, em mergulhar as folhas, uma a uma, em água muito quente, até as mesmas amolecerem, escorrer e estender). No meio da folha colocar o recheio pretendido e dobrar o círculo. Para tornar o wrap mais consistente, pode repetir-se o processo com uma segunda folha de papel. Usei apenas uma folha por wrap porque iríamos comer de faca e garfo. Mas, para usar os wraps como finger food, será mesmo mais prático usar duas folhas.
O recheio que preparei resultou do que havia em casa e na horta. Tenho uma floresta de aipo e outra floresta de coentros no quintal que atingiram proporções épicas. E aos quais é preciso dar uso. Queria um recheio com uma predominância de elementos crocantes - os cajus, as cenouras, o arroz e o aipo - e que contrastasse com elementos mais brandos como as acelgas e o ovo frito.
Metade dos wraps foram comidos ao natural. Outros, a pedido da minha mãe, foram fritos. Estas duas criaturas aqui de baixo, enquanto tirava as fotografias à porta da cozinha para aproveitar a luz do meio dia, fizeram várias tentativas para surripiarem um wrap. Mas tiveram de se contentar só com uns pedacinhos!


11 comentários:

  1. Adoro misturar arroz a castanhas, elas acrescentam uma nova dimensão à textura. Gosto muito, também, de misturar vermicelli frito ao arroz, mas isto vem da minha loucura por hidratos de carbono, às vezes frito a massa com o arroz, cozinho, escorro e depois acrescento amêndoas tostadas na frigideira. Ideia anotada, se bem que os meus dons manuais neste caso dos wraps também perigam ser um tanto duvidosos :-). São duas meninas, a Pipoca e a(o)...? Lindas criaturas! Beijinhos!

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    1. Olá Dani :)
      Quando referes castanhas, são as castanhas do Maranhão? Uso-as mais ou para fazer leite ou como complemento no pequeno almoço, mas a ideia de as adicionar a arroz agrada-me. Uso amêndoas com mais frequência, porque são infinitamente mais baratas cá em Portugal. Em relação ao vermicelli de arroz, também costumo fritar! Cozo, escorro e depois frito em óleo de coco ou azeite até ficar muito crocante. Tem de se fazer pouca quantidade de cada vez, numa frigideira anti-aderente e em lume brando durante bastante tempo (e muitas vezes cola no fundo da frigideira).
      Sim, são duas meninas :) A Pipoca é podenga e a Seara é vira lata. A minha mãe diz que ficaram muito favorecidas na fotografia :)
      Beijinhos

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  2. Bom dia, Ni :-) Como se diz no Brasil, "saíram bem na foto"! Pois, as castanhas às quais me referi são as castanhas de caju - o que vocês chamam de "cajus" para nós é uma denominação apenas da fruta. E castanhas do Maranhão nós chamamos de castanhas do Pará :-) (em inglês, as "Brazil nuts", o que sempre dá pano para piadinhas). A tia de um amigo meu usa as castanhas do Pará trituradas quase todos os dias como acompanhamento de saladas. Ela tem apenas um dos rins a funcionar, e a uma capacidade de 15% (!!!!), nunca fez hemodiálise nos quase 35 anos de enfermidade, usa apenas a alimentação vegetariana e sem alimentos processados como tratamento (acompanhada de saunas seguidas de banhos gelados, ela instalou uma de madeira na casa de banho) e tem se mantido saudável (não sei se já mencionei isso aqui, se sim, deve ter sido há muito tempo, estou perdoada!). Beijinhos!

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    1. Olá Dani :)
      As Brazil nuts são muito apreciadas cá em casa! Sobretudo nos pequenos almoços misturadas com fruta fresca. Só ainda não fiz leite com elas (e com as castanhas de caju) por causa do preço elevadíssimo. No Brasil devem ser infinitamente mais baratas, não? Essa tua referência aos banhos e saunas (acho que nunca mencionaste antes essa história, mas a minha memória é fraquíssima) fez-me lembrar um dos livros que o meu pai me deixou: "A saúde pelos tratamentos naturais". Li o livro (na verdade são dois volumes) ainda na adolescência e o capítulo que mais me fascinava era precisamente o da cura das doenças pela água e dos ensinamentos do Kneipp. Mas confesso-te que, sendo eu apreciadora de duches com água praticamente a ferver, dificilmente conseguiria aguentar "mergulhos" em água gelada!
      beijinhos!

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    2. Olá :-) Acho que estar num país tropical ajuda a lidar com os banhos gelados :-) São duches rápidas, como um tratamento de choque. Sim, as castanhas costumavam ser baratas no Brasil, vinham em sacos grandes, mas hoje em dia não sei, pois não moro lá há muitos anos. As de caju, porém, sempre foram caras. Aqui é tudo um pouco caro, com exceção dos amendoins (que não me são recomendados), mas é uma questão de consumir com moderação. Gosto muito de macadâmias, mas essas sim são caras. Mas é que têm uma textura tão maravilhosa... Beijinhos!

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    3. Ah...macadâmias...provei-as, em tempos, mas na versão fritas em óleos insultuosos e salgadas (o que, creio, deve ser um atentado à natureza das mesmas e a essa textura fantástica). Naturais nunca as encontrei à venda por cá. Beijinhos!

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  5. ~ Sinceramente, preferia preparar, com os ingredientes indicados, uma saborosa salada de arroz semi integral, apenas descascado. Temperaria com um molho preparado à base de um bom óleo, rico em ómega 3, com sumo de limão.
    ~ Além da praticabilidade, o aspeto visual da refeição, resulta muito mais atraente.
    ~ Com muita simpatia.

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  6. Não quero deixar de a cumprimentar pelos seus belos animais.
    É uma felicidade ter um lar, com condições para os manter.

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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