sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A CROÇA I

A croça nasce deste botão. Bom, na verdade, a croça nasce deste botão e das mãos sábias do sr. Constantino. Tudo começa com este botão. Bom, na verdade, tudo começou com a apanha dos juncos. Passaram-se os meses, os juncos secaram, veio o tempo molhado e começaram-se a fazer as croças. Já não são para os pastores que agora são poucos e usam oleados. São para ranchos ou para compor a decoração de restaurantes típicos. Estas, que agora se estão a fazer, até são todas para levar para Espanha.
Pegam-se nuns quantos juncos (estes que se mostram na primeira imagem foram apenas para exemplificar; são mais que a trança quer-se grossa) e colocam-se lado a lado.
Depois, com os dedos indicadores e polegares de ambas as mãos o mais juntos possível, torcem-se os juncos em direções opostas a partir de um ponto central e o mais apertado que se conseguir.
Bastam apenas algumas voltas. As suficientes para se prender, com os dentes, os juncos já torcidos, nesse ponto central, e começar a torcer os dois lados um sobre o outro, ao mesmo tempo que se continua a torcer cada lado sobre si mesmo.
Esta explicação é clara? Eu tive que pedir ao sr. Constantino para repetir a operação porque não percebi os gestos logo à primeira...
Depois, ele também me explicou como se iam entrançando novos juncos na trança quando algum se partia ou era preciso aumentar o comprimento.
Na ponta onde se iniciou o torcimento, dá-se depois um nó. Esse nó é o botão da croça que vai permitir mantê-la fechada. Na outra ponta está a casa onde entra o botão. Mas ainda não cheguei aí!

Botão da croça

Há quatro instrumentos/equipamentos que são indispensáveis para se construir uma croça (para além da mascota que é usada para bater os juncos no dia em que são colhidos): os pentes, a fita métrica, a tesoura e a tábua de tabopan.
O sr. Contantino tem dois pentes para pentear a croça que foram feitos por ele. Um com os pregos mais espaçados; o outro com uma maior densidade de pregos. Aquele que tem os pregos mais espaçados é usado nas primeiras penteadelas; o outro é usado depois para um acabamento mais fino. Vai-os consertando à medida que os pregos se degradam.


A tábua de tabopan facilita o trabalho de escovagem e de medição das diferentes camadas que compõem uma croça.


Cada camada tem diferentes comprimentos o que resulta de uma lógica que eu ainda não descortinei completamente.  
Mais, de carreira para carreira, de camada para camada, o número de juncos que se entrançam também aumenta o que permite, naturalmente, que a capa ganhe amplitude.
A capa tem, também, os juncos de fora, que são os que se penteiam e os juncos de dentro, o forro, que estão presos uns aos outros e que não são penteados.
No interior da capa veem-se as tranças da croça (são as verticais, embora na imagem seguinte apareçam na horizontal) a que ele chama a segurança da croça pois permitem que a peça não fique desengonçada. 

Interior da croça


O sr. Constantino diz que eu consigo aprender tudo em 15 minutos. É um otimista. Fazer uma croça parece-me bastante complexo. Não é, apenas, a gestualidade, inerente a cada operação. É toda a lógica de camadas, tranças e comprimentos. Esta foi só a primeira lição.

9 comentários:

  1. Daniela, de post em post, o teu blog é cada vez mais o meu preferido!

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  2. que vontade de descobrir a matemática dessa croça. Depois vejo pelos teus posts, mas esse senhor tenho de ter no mapa ;)

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  3. Essa é a tal que tanto tira i frio no Inverno como o calor no Verão.
    Quando for para essas bandas irei procurar o Sr. Constantino para me ensinar a fazer,não essas são muito complicadas,as outras para cobrir os cortiços.

    Cordial abraço,
    mário

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  4. voltei para olhar outra vez para as imagens. É como se o senhor fosse o barbeiro da seara, a meio de um belo penteado...

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  5. se necessitares de juncos é só dizer
    Fotos excelentes como sempre!

    http://emporioideal.blogspot.com

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  6. Obrigada a todos pelas vossas palavras. Rosa, que responsabilidade! :)

    Mário, na aldeia de Fafião, quando descemos com a vezeira, vimos um apiário com cortiços. Se a memória não me falha, é o próprio dono do apiário que faz essas croças para os cortiços.

    Zé???!!! Baby :)

    A croça II segue dentro de momentos :)

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  7. Boas o meu nome é Manuel Gaspar e gostava de saber se vende uma croça ?

    Cumprimentos .

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    Respostas
    1. Olá Manuel
      Como creio ser explícito nesta postagem eu não vendo croças. Não as faço nem as comercializo. O Sr. Constantino (referido nesta postagem) é o artesão responsável pelas croças que fotografei e que aparecem no blogue. Se estiver interessado em adquirir uma croça, sugeria-lhe que me enviasse um mail (niniaraujo@gmail.com) para que eu lhe possa passar o contacto do Sr. Constantino. Obrigada!

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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