segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A CROÇA IV

À quinta entrevista, esclareci termos. Um dos erros que cometemos no terreno é o da antecipação. Às vezes, não vale a pena perguntar o nome das coisas ou sugerir termos quando nenhum nos é dito. Basta esperar que, de uma forma natural, as pessoas refiram as palavras certas. No tempo certo.

Pano - corresponde ao forro da croça, isto é, aos juncos que estão voltados para o interior da croça
Mechas - conjuntos de juncos que vão sendo incorporados, ponto por ponto, na croça
Medas - conjuntos de juncos acabados de serem colhidos no juncal (e atados com os baraços)
Madas - conjuntos mais pequenos de juncos que são delubados e massados
Tranças - correspondem às cordas de segurança
Tranças horizontais - correspondem às cordas que vão atando as mechas de juncos

Na construção da segunda carreira, a croça aumenta 14 pontos e ganha amplitude. A segunda carreira é construída a oito-nove centímetros de distância da primeira carreira. A técnica é a mesma que é utilizada na construção da primeira carreira: o croceiro usa simultaneamente duas mechas e duas tranças horizontais.

Como mostrei no post anterior, na primeira carreira, de três em três pontos faz-se uma trança. Isto significa que entre duas tranças existem dois pontos.
Nesta segunda carreira é preciso aumentar um ponto por cada dois. Deste modo, entre duas tranças, passam a existir três pontos. Na Imagem 1 pode ver-se, claramente, como na primeira carreira os dois pontos passam a três na segunda carreira.

Imagem 1

Para fazer a segunda carreira é necessário, em cada ponto, separar os juncos que formam o pano da croça daqueles que constituem a sua camada exterior (Imagem 2). Apenas aqueles que formam o pano da croça serão entrançados nas tranças horizontais.

Imagem 2

Vamos considerar uma sequência de uma trança e dois pontos (da primeira carreira). Começa por se separar, num ponto, a trança dos juncos que ficarão voltados para o exterior da croça (Imagem 3).

Imagem 3

De seguida, à corda junta-se uma mecha de juncos, ficando os pés dos juncos voltados para cima e as flores dos juncos para baixo (Imagem 4).
 
Imagem 4

Depois, há que torcer as duas tranças horizontais fazendo-as passar (primeiro a da esquerda e depois a da direita sobre a esquerda) por cima do conjunto de juncos formado pela trança e pela mecha de juncos que se juntou à trança. A Imagem 5 mostra esta operação embora não seja executada no ponto da trança.

Imagem 5

A operação seguinte consiste em passar a mecha do ponto anterior torcendo-a sobre si mesma e por trás da mecha do ponto que se está a trabalhar, fazendo-a descer (Imagem 6 e 7).

Imagem 6

(Imagem 7)

Nos dois pontos seguintes da primeira carreira, separar os juncos que constituem o pano daqueles que formam o exterior da croça. Dos juncos que formam o pano da croça, separar em três conjuntos de forma a obter os três pontos da segunda carreira (Imagem 8).

 
 
(Imagem 8)

No primeiro conjunto, juntar uma mecha de juncos (como se fez com o ponto da trança) e repetir as operações, isto é, torcer as duas tranças horizontais fazendo-as passar (primeiro a da esquerda e depois a da direita sobre a esquerda) por cima do conjunto formado pelos juncos correspondentes ao ponto da primeira carreira e à mecha de juncos que se juntou a esse ponto. Depois, passar a mecha do ponto anterior torcendo-a sobre si mesma e por trás da mecha do ponto que se está a trabalhar, fazendo-a descer. Repetir a operação para os dois conjuntos seguintes (Imagens 9 a 12). Assim se transformam dois pontos em três pontos.


Imagem 9

Imagem 10

Imagem 11
 
Imagem 12


3 comentários:

  1. Merecia ser editado.

    Cordial abraço,
    mário

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  2. Maria
    Creio que o mais complicado ainda está para vir. Não em termos dos pontos, cuja técnica se repete sempre, mas em relação ao modo como as diferentes camadas da croça se combinam. Ainda falta chegar à parte das abanetas, "uma espécie" de colete dentro da croça que se liga, em algumas partes, às camadas da croça. O estudo de uma croça em miniatura, feita pelo sr. Constantino, tem-me permitido entender melhor a estrutura interior da peça.

    Mário
    O objetivo deste projeto é mesmo esse. Não apenas para este tema, mas também para os restantes temas. Infelizmente, em relação a alguns ofícios já não há ninguém que os pratique o que obriga a desenvolver outro tipo de abordagem mais centrada na memória dos mesmos. Noutros casos, infelizmente, não se consegue convencer as pessoas a falarem das suas técnicas, mesmo quando são as últimas representantes das mesmas. Tenta-se. Mas se as recusas se mantêm também é preciso saber respeitar.

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