Já aqui falei na D. Lúcia e da casa filhoeira onde foi criada. Uma casa onde a mãe fazia filhós todo o ano porque o pai era muito filhoeiro. Na primeira entrevista que lhe fiz, já há largos meses, combinámos que eu acompanharia todo o processo de confeção das filhós lêvedas. E, ontem, cumpriu-se o prometido.
Peneirou-se a farinha milha. Sete quilos e meio. Anda-se de roda com a farinha, mas não com a peneira. Assim se garante que o farelo fica todo retido na malha. Farelo que é, depois, deitado à fazenda.
Para sete quilos e meio de farinha milha, bota-se um quilo de farinha triga. Mas antigamente, sem trigo disponível, usava-se centeio. Sal, uma presa de sal, ou seja, uma mão cheia. Fermento de padeiro, água e muitos, muitos ovos. Bate-se com a mão firme que abre e fecha dentro da massa até esta ter a consistência desejada. Como se fosse a massa de um bolo.
Também não pode faltar ciência na fogueira que se faz para aquecer a sertã. Um lume certinho, a lenha disposta de modo uniforme para que não se queimem as filhós.
Unta-se a sertã com o pinzel (também há quem lhe chame pinzelo) feito com uma cana e um pedacinho de algodão que é atado numa das pontas. Mergulha-se na gordura e unta-se de cada vez que se bota uma nova leva de filhós na sertã.
D. Lúcia faz quatro de cada vez. Já tem a mão treinada para fazer correr, com uma concha, a quantidade de massa que é certa.
A minha avó fazia de gerimu.
ResponderEliminarParecem deliciosas.
Cordial abraço,
mário
Soberba descrição, senti-me a cheirar o fumo da lareira misturado com o odor das filhós.
ResponderEliminar"Feliz o homem que come do trabalho das suas mãos" como descrevem os textos judaicos.
Estou a ficar siderado por esta enciclopédia nostálgica que vai ficar registada para os nossos filhos...
Ni: estou muito agradecido.
Mário: Dessas de abóbora, na Figueira da Foz a minha avó chamava-lhes bilharacos. Comi umas este natal, compradas numa pastelaria de lá, mas não eram mesmo nada parecidas.
ResponderEliminarVicente: Eu é que agradeço o seu apreço. E o mérito não é meu; é da D. Lúcia.