terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CARVOADAS II

Neste fim de semana, em Gralhas, andámos às carvoadas. Dois dias a recordar como era há 50 anos. João Bengalas, D. Celeste e Bento lembraram as vezes que foram ao monte apanhar os torgos de urze para fazer carvão. 
Há uma ciência para fazer a cova. Não é preciso cavar muito fundo. Mas é obrigatório cobrir o fundo com carqueja e urze para o lume pegar. Vão-se deitando os torgos na cova e vai-se chiscando fogo. Só quando os torgos de cima já estão a arder é que se pode começar a cobrir a cova. Primeiro com pedras lascadas, depois com torrões de terra e, finalmente, com terra solta. 





No dia seguinte volta-se e destapa-se a cova na qual se fez o sinal da cruz para o diabo não vir por ela. Colhe-se o carvão à mão. E, se fosse há 50 anos, carregavam-se os burros e ia-se a Chaves vendê-lo:
Já tínhamos as freguesas. Vendíamos para as senhoras que cozinhavam. Tinham aqueles fogões grandes a carvão, cozinheiras como eu lhe chamava, ainda tive uma dessas. Não era nada para revenda. Vendíamos às sacas e havia pessoas que ficavam com duas. As duas sacas nem davam 20 escudos. Nem 20 escudos eu fazia nas quatro sacas que levava. Aquilo era uma miséria! (Maria, 22-7-2011).
Era frequente as freguesas indagarem da qualidade do carvão. Aquele que esperrinchava, ou espirrava, era o carvão que tinha sido molhado para poder ser colhido sem queimar as mãos.:
Vinham as senhoras à janela: Ó minha senhora, o carvão é do que esperrincha? É de urze? (Fátima, 13-7-2011). 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Acerca de mim

A minha foto
Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
Instagram

Seguidores