quarta-feira, 20 de junho de 2012

A PRIMEIRA


Foi feita há 36 anos quando eu tinha seis anos. A minha avó Jesuína, que passou a vida a bordar e a fazer crochet, achou por bem ensinar a uma neta maria rapaz as artes femininas. Sugeriu que eu fizesse a almofada para o Dia da Mãe. Todas as tardes, durante algumas semanas, na loja de tecidos do meu pai, ficávamos as duas atrás do balcão, eu a ensaiar agulha e linhas e ela, pacientemente, a ensinar-me os pontos mais rudimentares. 
Tenho, estranhamente, porque a minha memória é tão consistente como espuma do mar, lembranças muito sólidas dessas tardes e desses ensinamentos.
Ponto pé-de-flor. Fez-me treinar o ponto vezes e vezes sem conta. Não sei se contou com a minha teimosia em querer fazer as coisas bem feitas e até ao fim. 
Anos mais tarde, no 8º ano, em trabalhos manuais, mataram-me a vocação. As duas professores designaram que cada aluno fizesse um trabalho de tecelagem/bordado, com total liberdade para escolher a técnica e os materiais. Eu quis fazer seis. Ponto cruz, ponto de arraiolos, ponto de esmirna e mais uns quantos que, entretanto, se perderam. No final, resultado de um conflito com uma das professoras que eu questionei por não ter tido um comportamento correto para com os outros colegas, não me deram a nota máxima. Nunca mais peguei numa agulha para bordar. Embora me apeteça.


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