quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

LÁ EM BAIXO

 Gasómetro

Os mineiros da Borralha usavam os gasómetros para se alumiarem. Havia muitas poeiras e a empresa, depois do 25 de abril, passou a fornecer leite, como recorda Mário:

O nosso camião ia buscar semanalmente o leite Agros. No princípio começaram a impor que fosse dado o leite ao início do turno mas as pessoas não ficaram recetivas porque tinham acabado de tomar o seu pequeno almoço. Uns poderiam tomar, mas a outros davam-lhes problemas no intestino. Isso passou por mim porque eu era o presidente da comissão de trabalhadores e então achámos por muito bem que o leite não fosse distribuído a essa hora. Depois, o contrato foi mais explícito e já indicava uma quantidade exata, um litro. Repare que antes não se dava um litro e era muito complicado dar um copo de leite. Depois quando foi instituído o protocolo em que se distribuía o leite, foi a melhor coisa que se fez, porque davam de manhã e as pessoas levavam e bebiam se queriam ou poderiam levar para casa. Contudo, fazer com que o trabalhador fosse tomando o leite no percurso não dava por questões práticas. Por isso mesmo chegou-se à conclusão de que seria melhor entregar o litro de leite no término do trabalho. Dava para a alimentação deles ou dos filhos e no outro dia traziam o termo com o café se entendessem.

Mas havia quem preferisse guardar esse leite e dá-lo aos filhos. Era o que fazia Manuel Baqueiro, quando, depois de passar anos a guardar as vacas e como capataz na florestação da Serra da Cabreira, trabalhou nas Minas como picheleiro:
A minha arte era boa mas perigosa. Picheleiro, ar é água. Nas minas era ar e água também, não andava nos escombros. Era consertar mangueiras, meter mangueiras. Não podiam ir trabalhar sem regar os escombros, como botavam fogo, ficava aquele tufo. Já morreu quase tudo quem andava lá comigo. Era dar o litro de leite a cada um. Mas leite frio, lá na mina, como é que se podia, não prestava para nada. Deixava-o cá fora e trazia-o para casa. O meu não o levo para a mina. Metia-o cá fora e à vinda metia-o à saca e vinha para casa. Tive seis filhos e três filhas! Foi trabalhar! 

Não era a única bebida que se levava lá para baixo. No gato levavam o vinho para acompanhar as merendas feitas de pão e posta de bacalhau frito.




Gato

3 comentários:

  1. Também desci à mina,queria ver as condições em que trabalhava aquela gente.
    Desci acompanhado pelo Engº. Portugal.Uma parte de elevador depois,bem,depois escadas sem fim até perto dos 600 metros.
    Ainda recordo a cara do sicerone quando lhe disse,-lá em baixo,se acontece qualquer coisa,não há nada que nos salve.
    Respondeu :-depois de passar os dois ou três metros,tanto faz ter dez como seiscentos metros de terra em cima.
    Cordial abraço,
    mário

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  2. Mário, já agora e por curiosidade, em que poço foi?
    Sobre o de Santa Helena, já me contaram algumas histórias, mas sobre os outros ainda pouco sei.
    abraço

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  3. Minha cara amiga

    Já lá vão uns 35 anos,sei lá eu,era aquele a que se tinha acesso pelo elevador principal.
    Bem,depois apareceu um falso na rocha e tiveram de fazer uma espécie de poço em betão.Foi na fase de consolidação,por isso,tivemos de descer pelas escadas.

    Cordial abraço,

    mário

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