No Verão de 1988, eu e mais três amigas, fomos trabalhar para um campo de morangos em Inglaterra. Queríamos ganhar dinheiro para quando, um par de meses depois, entrássemos na universidade. A Guida, a Raquel e eu viajámos de camião TIR até Calais. Depois apanhámos o barco e, de seguida, o comboio até Londres. É capaz de ter sido a viagem mais surreal das nossas vidas! Horas e horas enfiadas na cabine de um TIR (na verdade foram dois, já que em Paris mudámos para outro camião e viajámos com um motorista que os nossos pais não conheciam).
Aprendemos para que servia o paninho que os camionistas levam (levavam?) amarrado aos espelhos retrovisores (a deslocação do ar faz mover o pano e assim se limpa a porcaria que se acumula no espelho) e os truques usados para avisar os outros motoristas da presença da polícia. Mas a parte que mais nos fascinava era quando o motorista abria a caixa exterior, situada ao lado das rodas, e de lá tirava tudo o que se possa imaginar: bacalhau, batatas, garrafões de azeite, latas de conservas, fogão e mil e uma coisas. O homem levava a cozinha e a despensa com ele!
Chegadas a Londres, estivemos, já com a quarta amiga, um par de dias em casa dos familiares de uma colega do liceu e percorremos a cidade com a curiosidade e inocência típicas dos 17-18 anos. Éramos tão totós!
Depois seguimos para uma localidade costeira, da qual sou incapaz de recordar o nome (mas alguém há-de vir aqui relembrar-me!) e passámos um mês inteirinho a apanhar morangos. Como achávamos que a comida era caríssima no Reino Unido levávamos as mochilas carregadas de víveres. Tínhamos definido um menu semanal que iríamos repetir à exaustão. Pacotes de arroz, pacotes de esparguete, latas de atum e embalagens de soja granulada. E outras coisas das quais não me recordo. Fruta, pão, leite e hortaliças compraríamos no local.
Ao contrário das nossas expectativas, a comida tinha preços muito semelhantes ao que era praticado em Portugal. Bem nos apeteceu variar o menu, mas éramos poupadas e havia que gastar a comida que tínhamos levado. Durante meses não pudemos olhar para a soja e para o atum! Na verdade, nos anos seguintes foram pouquíssimas as vezes que voltei a comer soja granulada. Recordo-me que havia quem substituísse, na confecção de rolo de carne ou na bolonhesa, metade da carne por soja granulada. Que mistela execrável aquilo devia ser....Soja granulada sempre me soube a borracha. Nem afogada em especiarias conseguia tornar aquilo comestível. Enfim, o tempo passou e não voltei a comer PST.
Há algum tempo, começaram a surgir artigos sobre os prejuízos da soja para a saúde (nem vou entrar na questão do impacto ambiental, mas este artigo, do antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, é elucidativa qb e fornece uma outra leitura sobre o assunto). As opiniões não são consensuais, mas parece haver, aí sim, alguma concordância, sobre os benefícios do consumo dos produtos fermentados da soja como o tempeh, o miso ou o molho de soja.
Eu gosto especialmente de tempeh. Não apenas do tempeh de soja. Já provei outros tempehs feitos com base noutros ingredientes como o milho e adorei o sabor...dúvida existencial: será que lhes podemos chamar tempeh?!
Não aprecio o tempeh em farripos disfarçados no meio de massa ou de arroz, como se de um elemento de menor importância se tratasse. O produto é o resultado de um processo delicado e tem nobreza para ser o protagonista no prato. Gosto do tempeh cortado em generosos pedaços, previamente cozidos, para lhes amaciar o gosto e a textura, e depois salteados em azeite ou óleo de coco. Estes, da imagem, foram salteados num fio de azeite e salpicados, muito levemente, com flor de sal.
Acompanham com fideos de massa de arroz e quinoa (sem glúten) que, depois de cozidos em abundante água, foram escorridos e salteados em óleo de coco até ganharem crosta. Estes fideos ficam com uma agradável textura"chewy"; se os saltearmos em lume forte com uma gordura como o óleo de coco o contraste que se obtém é muito bom. Para completar fiz um coulis de pimento vermelho e usei talos de aipo cortados em fatias finas.
OlÁ ;) Estou com a cabeça atarantada, achei que tinha comentado neste post! Essas fotos estão muito El Bulli, já disse que gosto de pratos assim, à base de arroz, alguma proteína, um molinho, vegetais, é a minha comfort food :)
ResponderEliminarBeijinhos!
Olá Dani :)
EliminarEsta é uma das minhas combinações favoritas: tempeh, massa de arroz e vegetais (acabaram por ser muito mais que os da foto!)
Mas comida de conforto, para mim e neste momento, são as dezenas de ameixas do quintal que a minha mãe mandou para mim e que chegaram hoje! Ah, estou tão satisfeitinha! :))))
Beijinhos