sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A BARRACA DA AMÉRICA

América Pereira tem 81 anos e foi testemunha direta de um pedaço da história das Minas da Borralha. Trabalhou como farrista aos 12 anos (apanhava volfrâmio sem licença), ia com as ovelhas para o monte quando ainda era miúda, criou 12 filhos e cozia pão para os mineiros.
O pai era marchante, vendia carne. Comprava vitelas, matava-as e vendia-as. Tinha uns ganchos muito grandes de pendurar as vitelas. Eu tenho memórias de ver ali as vitelas dependuradas, pela garganta, outras vezes por baixo para o sangue sair.
A mãe fazia comidas em grandes potes de ferro e servia-as aos trabalhadores das Minas. A maré dela era fazer sopa e arroz de feijão e sardinhas e vender aos mineiros. Homens, que a Barraca era um espaço masculino. Os potes de ferro já desapareceram. O forno de cozer o pão, dentro de casa, também foi destruído. Mas América guarda ainda as badejas que usava para moldar o pão e a pá do forno.

 
(De cima para baixo: detalhe da fachada da Barraca, badejas, América e a pá do forno e detalhe da pá)
 

5 comentários:

  1. Badejas! Não sabia que havia um nome para estes utensílios! Eu andei à procurar na feira de bacias de madeira assim pequenas para moldar o meu pão.."ah menina já não se faz disso". É que para deixar levedar o pão em bacias de plástico não dá, porque se libertam compostos químicos prejudiciais e as maceiras de madeira são muito grandes para a minha produção caseira..vou continuar à procura. Estou em "maré" de fazer pão. Obrigada pelas deliciosas descobertas. C. sofia

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  2. Sofia: também já ouvi chamarem-lhes bandejas :)
    Penso que agora se encontram versões mais estilizadas, o que não significa que se destinem à mesma função. O mais difícil é depois ter acesso a um forno a sério, daqueles que são capazes de conferir ao pão um gosto especial :)

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  3. É muito interessante ver no sul de Portugal amassarem o pão em bacias de barro. Na Beira Alta, amassam na masseira de madeira e tendem nela. Optei para uma bandeja de barro. É mais fácil para mim porque estou sozinha na tarefa de cozer o pão. Mas gostei muito destas "badejas":)

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  4. Nas Donas, Fundão, terra da minha avó materna, amassam o pão e os bolos de azeite na masseira de madeira. Depois da primeira levedação, cortam a massa na masseira e, depois, no tabuleiro, nos "favos" do tendal, colocam a massa para a segunda fermentação. Fiz, há muitos anos, a observação e o registo do modo de fazer os bolos de azeite (os folares) pela última padeira da aldeia. Os favos feitos com o lençol branco pareciam ser moldados sem dificuldade e ter o tamanho exato para os pedaços de massa que neles eram depositados.
    Por aqui, no concelho de Montalegre, também usam a expressão "manejar o pão" antes de o meter ao forno.
    Tenho a esperança que estas badejas venham a integrar o futuro pólo do Ecomuseu que vai surgir com a musealização das Minas da Borralha.
    Mais, ainda, tenho a sensação que ando, no caso concreto das Minas, a fazer uma etnografia de urgência. Estas pessoas têm todas para mais de 80 anos e se partirem antes das suas memórias estarem registadas, a comunidade perde uma parte importante da sua memória coletiva.

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  5. Eu já aprendi a manejar o pão antes de ir para o forno: é fazer girar o pão nas mãos para lhe dar aquela forma, é divertido, quase como se fosse massa de pizza. Ainda quero aprender muito sobre os modos de fazer o pão aqui por Montalegre mas, não tem sido fácil, parece-me que todos guardam muito o que sabem, ou não encontrei eu as pessoas certas. Por isso estou a aprender também com as recolhas que a Daniela tem feito! C.sofia (masseiras, claro)

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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