sábado, 15 de setembro de 2012

MAU FEITIO


Não é sociável com pessoas e não gosta dos outros cães, com exceção da Pipoca e do Ferrão, o cão dos Bombeiros Municipais. É a Seara, a outra cadela que trouxe do Barroso há quatro meses. Cruzámo-nos uma manhã quando, no habitual passeio matinal com a Pipoca (e todos os outros cães da vizinhança que vinham atrás de nós) pelas margens da Barragem dos Pisões, em Penedones, a encontrei no meio do mato. Tentou morder-me e aos outros cães. Na manhã seguinte, encontrei-a novamente. Veio atrás de mim e, a cada passo, tentava abocanhar-me os tornozelos, desta vez sem agressividade. Acompanhou-me até casa e engoliu uma bacia de comida. Ao fim de alguns dias a ser alimentada, passou a pedir para entrar em casa, mas depois tinha medo de cruzar a porta. As noites eram um gelo e coloquei-lhe uma caixa de cartão no exterior para ela ficar mais confortável. Uma noite, ganhou coragem e passou a dormir na sala. Era agressiva com todas as pessoas que se aproximavam, ladrando mas fugindo sempre. Levei-a ao veterinário e dei-lhe nome. O nome de uma das aldeias do Barroso onde não me importava de viver. No dia em que me vim embora lá de cima, passei uma manhã inteira a tentar apanhá-la para a trazer. Não consegui. Foi um desespero. Deixei um saco de comida que daria para alimentá-la até eu voltar dali a 15 dias. A Sofia, que tomava conta das casas de Penedones, deu-lhe comida todos os dias. Mas não a podia proteger da neve que caiu durante esse tempo. No dia em que voltei a Penedones, para terminar o projeto, ia convencida que a Seara já não existia. Pelo frio ou pela canalhice dos vizinhos que lhe atiravam paus e pedras. Mas ela estava lá. Mordeu-me as mãos e os braços quando me viu. E entrou em casa à noite para dormir, mais depressa do que se eu lhe tivesse mostrado um bife. E, dessa vez, consegui trazê-la.
Veio doente. Entre vomitados, diarreias com sangue e perda quase total de pêlo, eu convenci-me que não se safava. Alimentava-se deitada e tinha que lhe meter a comida na boca. Se conseguisse enfiar-lhe duas colheres de sopa de carne já me dava por satisfeita. Andou assim uma semana. Até que, um dia, desatou a comer como um alarve. 
Nas primeiras semanas não aceitava festas e olhava-nos com um ar de facínora. Depois, quando estava frustrada ou contente, invariavelmente, mordia-me as pernas e os braços. Colecionei nódoas negras.  
Não sei em que dia se deu a mudança. Mas, inesperadamente, passou a aceitar festas, a dar lambidelas, mudou a forma de nos olhar, passou a brincar. Ganhou confiança. Continua a ter mau feitio. Mas os muitos mimos que recebeu (e continua a receber) devem ter feito a diferença.

4 comentários:

  1. She is beautiful. I rescued a little cat, he had to have a leg amputated. I learnt he has FIVS.It's an immune problem like AIDS for cats. He could still live a longish life. He has attitude, being a bit of a outdoor, semi wild c But he is has a great personality. I'm so please you rescued your little dog, do keep us up to date about her progress;) Have a great week.

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  2. Thank you Jane for your words.I'hope your cat is better now :)

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  3. Uma barrosã linda e,tal como os barrosões,e as amizades duradouras,difícil de conquistar.

    Cordial abraço,

    mário

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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