Aproveitei a viagem destinada a estabelecer dois novos contactos e hoje à tarde fui a Salto dar mimos de pão. Bom, eu gosto de fazer a comida que ofereço. Estando desprovida (por enquanto, por dias...) dos equipamentos necessários à confeção da mais saborosa tarte de frutos silvestres e do melhor arroz doce do mundo, tenho de me contentar em ofertar comida feita por mãos alheias.
E como a produção artesanal de manteiga é um dos temas do projeto, aproveitei para fotografar, desta vez com calma e detalhe, o respetivo acervo que há no Pólo de Salto do Ecomuseu. Às formas que se usavam para marcar as bicas de manteiga, Benta chama-lhes cornas. Vamos ver que nomes lhes dão as outras mulheres que irei entrevistar.
(Formas para marcar as bicas de manteiga)
Não ia com o objetivo de entrevistar D. Benta sobre o tema. Apenas fazer-lhe uma visita, ofertar o pão e saber dela. Mas como em casa da mãe se fazia manteiga, a conversa acabou por surgir naturalmente.
Começa por se deitar o leite num panelo de barro e pô-lo num sítio quente para que o leite comece a coalhar o que normalmente sucede de um dia para o outro. Tira-se a coroa do leite, e que é a nata, e deita-se essa nata num outro panelo e deixa-se aí a repousar. Havendo leite suficiente, em dois ou três dias é possível juntar a nata para fazer uma ou duas bicas de manteiga. De seguida, bate-se a manteiga com a mão que tem que ser fechada por conta de não romper as unhas porque se rompe as unhas fica sangue no fundo do panelo. À medida que se vai batendo, vão-se formando uns esgadeirinhos. O tempo que demora a formar-se a manteiga varia de pessoa para pessoa. Depende, conforme os nervos da pessoa e o jeito da pessoa. Mas é processo para durar entre uma hora e uma hora e meia. Lentamente, começa-se a formar uma bola de manteiga que se retira, ficando no panelo o leite massado.
Antigamente, para pesar a manteiga, havia quem usasse dois fios postos em cruz a envolver a bola de manteiga e uma balança de ganchos.
A operação seguinte consiste em amassar essa bola no prato de madeira. A gente faz a bolinha redondinha e depois pega na manteiga e tum, tum, tum, no próprio prato. Bota-se um bocadinho de água fresca que é para a manteiga bicar. Bicar, como uma bica. Sabe como é a bica de pão, compridinha? Ela faz uma barriguinha assim para ali e ali assim também. Primeiro bate-se assim e fica mais larguinha. Depois bate-se do outro lado e fica larga também. E depois pega-se na manteiga, com as mãos muito lavadinhas, e bica-se assim, bate-se assim de bico e depois bate-se do outro lado e fica mais aguçadinha.
Depois, marcava-se a bica com a corna, punha-se num prato mais largo para não entortar, cobria-se com um pano de linho e guardava-se num sítio fresco. Para vender ou consumir em casa.
(Pote de bater a manteiga e prato de amassar a manteiga)
Não se punha sal, ela já vem com o tempero. Já vem do próprio leite. Porque há vacas que dão leite bom, mais gordo. Nem todas as vacas servem para fazer manteiga. A gente tinha uma vaca que dava manteiga para a casa toda e para vender e tínhamos as outras todas que nenhuma delas dava manteiga. Era o leite mais gordo. Porque aquilo é a gordura do leite. Era um amarelinho canário, uma maravilha. Não é a que se compra.
(Frasco de bater manteiga. Solução mecânica que veio substituir a operação manual)
Agora é esperar para ouvir o que me vai contar a D. Rosinha sobre a manteiga.
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