Quando abordei a D. Benta levava na mão um par de meiotes que tinha comprado na loja do pólo de Salto do Ecomuseu de Barroso. Ela tricotava uma meia. Sorriu ao ver o que vinha nas minhas mãos. Não é que precisasse do artifício para lhe soltar a língua. Ela gosta de falar.
Em Reboreda só há este rebanho que é meu. Antes cada casa tinha o seu rebanho de ovelhas. Havia umas 40 casas e todas elas tinham ovelhas. Quando andávamos no monte com elas era quando a gente aprendia a fazer a meia. No monte, com as ovelhas entretidas. A gente começava em casa e depois treinava no monte. Não havia fábricas como agora que há meias aos sacos. Naquele tempo não havia. E cada casa tinha 14, 15, 16 pessoas. Havia muita meia para fazer. Agora há uma pessoa em cada casa.
D. Benta chama meias àquelas que sobem até à coxa (como a da primeira imagem). Fá-las de algodão para os ranchos. Os meiotes ficam pelo meio da canela ou por baixo do joelho. Também faz meiotes de lã: As de lã são para as pessoas da terra, para ter os pés quentinhos.
Começou muito cedo a fazer meias: Aprendi pequenina com a minha avó. Com seis anos já fazia meia para os meus irmãos, para a minha mãezinha. Primeiro fiz uma tirinha com duas agulhas. Usávamos agulhas de trochos de urzeira. Só com duas agulhas a gente ia fazendo e estas agulhas eram caras na altura (refere-se às agulhas de metal que está a usar). E não havia dinheiro. Tínhamos de arranjar as de urzeira e faziam-lhes um ganchinho. Mesmo que as perdessem eram de urzeira. Eram trochos de urzeira. Um pauzinho. Eu nunca trabalhei com elas, porque o meu pai fazia-as com as hastes dos guarda-sóis. Ainda tenho ali um par delas.
A existência dos ranchos folclóricos e da tauromaquia, tanto quanto me tenho apercebido, são a principal razão pela qual ainda há quem faça meias rendadas. E que lindas que são as da D. Benta!
ResponderEliminarRosa
ResponderEliminarBenta diz que já fez mais de 300 pares de meias para os ranchos. Trazem-lhe o algodão em meadas, a mãe dela, que tem 86 anos, doba-lhe o algodão e Benta aproveita todos os momentos livres para fazer as meias. Começou a fazer meias para os ranchos há cerca de 20 anos. Na altura, havia três mulheres na aldeia que o faziam. Hoje, só resta D. Benta. São dela as meias de algodão, de criança e de adulto, que estão à venda no Pólo do Ecomuseu em Salto. Já vi aqui algumas meninas, mas muito poucas, usando este tipo de meias.
Benta diz que todas as meninas começavam por aprender a fazer a "manta do cuco" ou "calças do cuco", isto é, um "bocadinho de pano", com o mesmo ponto (ainda não tive oportunidade de ver que ponto é; mas já está agendado para a próxima entrevista).
Sobre as meias de algodão que faz, ela diz isto: "Aprendi tudo, o que estou a fazer hoje, fazia de pequena. Estes pontos aprendi agora, faço um ponto qualquer. Isto não é nada por livros, é pela minha cabeça. Tento fazer o feitio. A minha mãe fazia liso. Os feitios já vêm mais da gente ver agora na televisão"