Oitenta e dois anos de memórias. Conheci-a, no sábado, em Gralhas. Viúva do alfaiate da aldeia, tornou-se incontornável voltar a falar com ela. Tinha as capas e a capuchinha guardadas numa arca. Mostrou-me capas de um burel escuro, escuro, feitas de dois panos e com as costuras praticamente invisíveis. Capas com muitos anos mas muito bem preservadas. Mostrou-me uma capa de burel, da cor dos caramelos, mais antiga, mais usada e, por essa razão, com a cor comida pelo tempo.
E mostrou-me esta capuchinha, feita de pedaços de burel sobrados de outras capas.
(Rosa Cipa usando uma capuchinha)
Capas e capuchinha feitas com a lã fiada por ela, das ovelhas do seu rebanho. Já não tem a roca com que fiava a lã. Esta, feita de cana, serve apenas para enfeitar uma das paredes azuis da sala. E para virar as tripas dos porcos quando se fazem as matanças.
(Roca)
Rosa diz que o marido talhou muitas capas para as mulheres da aldeia e de Meixedo. E que talhava fatos para os homens e, por vezes, casacos de fazenda para as mulheres. Ainda antes de se casarem fez-lhe um casaco de pelúcia trazida da Galiza.
Costumava ir a casa dos clientes e quando o trabalho era muito passava dias e dias fora de casa.
(Detalhe de uma das réguas de alfaiataria do marido)
Rosa não aprendeu o ofício do marido. Mas nunca se esqueceu de como se fia, embora já não o faça há anos. A casa dela está cheia de memórias de lã.
(Fusos para fazer meias e cobertores)
Nos fusos diferentes que eram usados para fiar a lã para fazer as meias (com a ponta mais fina) e para fazer os cobertores (com a ponta mais grossa). E nos vários cobertores pesadíssimos, que já não são usados, e que se descobrem, como tesouros há muito guardados, quando se abrem as tampas das arcas.
(Rosa Cipa mostrando um dos cobertores com lã fiada por ela)
é difícil não nos emocionarmos com relatos destes :-)
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