quarta-feira, 14 de setembro de 2011

BORRALHA

Acordar às 6.35h. Assim tenho tempo, antes de arrancar para Salto, para ir até à barragem dar o meu passeio matinal. Aqui, para se chegar até à água, basta descer o caminho pejado de castanheiros. E silvas que estão carregadinhas de amoras. Hoje, não valia a pena apanhá-las pois ontem, dos campos do sr. Jaime, trouxe quase 1/2 quilo delas.
Sumo de cenoura e laranja e uma taça com amoras, pólen, mel e mascarpone. Porque o dia ia ser longo.


O sr. Rita foi o químico das Minas da Borralha, em Salto. Tem 75 anos e um sentido de justiça e de memória que são raros de encontrar. Estive quase 4h à conversa com ele. Com direito a uma visita ao seu museu privado. Onde guarda objetos e documentos únicos.
Já tinha tido, com o sr. Manuel Baqueiro, algumas informações sobre o que os mineiros levavam para o interior das minas para comer, mas ontem fiquei a saber muito mais.

Por exemplo, que a primeira estrutura de fornecimento de comida que surgiu nas Minas foi a padaria (eventualmente, em 1912) que recebia também farinha vinda de Paris e onde se vendiam os bijus, as bicas, as sêmeas e, mais tarde, os cacetes. Os operários compravam o pão com senhas, como as que aparecem numa das imagens.
Em 1938 formavam-se bichas para receber o pão, eu tenho ali senhas. O pão servia para os operários e contavam quantos filhos tinham para receberem as senhas. Também se podia comprar. Eu cheguei a levar pão para uns senhores alentejanos que trabalhavam aqui na barragem. Mas os lavradores daqui coziam pão milho e pão centeio nos fornos em pedra. Mas não se falava em trigo nesse tempo. Trigo só na padaria.

Mais tarde, instala-se uma mercearia onde os trabalhadores das Minas se podiam abastecer. Não havia mercearias aqui em Salto. Não havia nada. Vinham coisas de Paris e tudo. Tinha batata, tinha feijão, bacalhau, tinha carnes.

Será no início dos anos 1948/49 que o refeitório começa a funcionar. Para todos os funcionários e suas famílias.  Chamavam a pensão, que era de pensar o pessoal.
Ao pequeno-almoço os encarregados das Minas comiam leite com cevada e pão com manteiga. As bicas de manteiga trazidas em cestos e toalhas de linho branco. Os operários comiam o que se chamava água quente ou água de cebola, uma sopa que era feita com água, cebola, sal e azeite e comia-se com trigo. Servida em pratos de alumínio.
Os almoços servidos no refeitório foi pouco tempo. Foi enquanto não havia alternativas para os trabalhadores. E porque havia muitos homens solteiros. Uma sopa com massa de terceira. Tinha legumes, aqui havia muita coisa. E azeite. No princípio era só a sopa. Era bom. Depois é que era uma sopa e um prato. Para dentro das Minas levavam frango, sardinha, arroz ou massa porque a batata ficava ensebada e a comida que sabe melhor em frio é a massa e o arroz. A batata é boa quente.  Para dentro das minhas levavam presunto, chouriço, uma garrafa pequenina de vinho, de cerveja. À noite eram os capatazes que comiam na pensão.



E, no final do dia, ainda deu para rever o sr. Manuel Baqueiro, o Jaca e um vitelinho nascido umas horas antes.

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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