quarta-feira, 10 de agosto de 2011

MATÉRIA PRIMA

Colchões de palha e cobertores de papa são, na minha memória de criança, temas recorrentes nas conversas entre as mulheres da família. Do lado materno.
O cobertor de lã (que não é um cobertor de papa) que herdei da minha avó Susana continua a ser o meu favorito. Não sei se este favoritismo é por ter aquela cor que me faz lembrar o leite creme, se é pelo peso aconchegante ou se é por ter a costura ao meio que me permite imaginar mais facilmente como terá sido tecê-lo num tear de uma casa da aldeia das Donas (terá sido nas Donas?).

Talvez tenham sido estas memórias que, muitos anos mais tarde, me fizeram andar a pesquisar sobre materiais e equipamentos mais saudáveis para dormir. Cheguei a comprar um colchão com recheio de algodão (o mesmo recheio do meu tapete de yoga), mas não foi uma boa compra. Desconfortável e com tendência para criar humidade.
Ficou-me, no entanto, este interesse por esse tipo de materiais e equipamentos. Bom, admito que a leitura dos muitos livros de naturismo que havia em casa dos meus pais deve ter tido alguma influência. Não é à toa que prefiro dormir de janela aberta :)
Poucas semanas depois de ter chegado a Montalegre, em conversa com a D. Benta, falámos na possibilidade de se aproveitar a lã para rechear edredons, almofadas e mesmo uma ou outra peça de vestuário.
Lembrei-me desta conversa quando, há uns dias, ao ler a Rosa, descobri esta Associação que tem vindo a desenvolver um trabalho fantástico com a lã, valorizando-a pela via do artesanato e pela sua utilização como isolador na bioconstrução.
Por aqui, ainda não consegui perceber o que acontece à lã. Aqueles(as) que ainda fiam, aproveitam-na, mas já me foi dito que muita da lã resultante das tosquias de maio é vendida ao desbarato. Porque não sabem o que hã-de fazer com ela. O certo é que, também, os rebanhos de ovelhas vão escasseando...
Ainda se consegue encontrar lã tosquiada. Como em casa da D. Maria em Tourém. E mulheres dispostas a ensinar o que sabem a quem quer aprender.

Por vezes, as melhores soluções estão mesmo à frente de cada um de nós. As energias que se gastam nos lamentos seriam melhor usadas a aprender a ouvir quem tem algo para nos ensinar e a aprender a ver, verdadeiramente, o que nos rodeia.





2 comentários:

  1. Descobri o seu blog através da Ervilhacorderosa, há poucos dias.
    Guardei-o para um dia em que tivesse tempo para mergulhar nele com vagar. Ontem e hoje não tenho feito outra coisa... tenho-o lido do início ao fim com deleite... rio-me sozinha, entristeço-me com algumas passagens, viajo sentada nesta cadeira e aprendo. tem sido um prazer. Já está planeada uma viajem a montalegre...
    Espero continuar a acompanhar estas aprendizagens... promete muito mais
    Obrigada pela partilha
    Bom trabalho
    Bárbara

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  2. Bárbara
    Interrogo-me, muitas vezes, sobre quem são as pessoas que passam por este blogue. E sobre o que pensam das coisas que escrevo. Das coisas mais intimistas, das coisas disparatadas que às vezes me ocorre contar ou dos registos mais sérios sobre o trabalho que desenvolvo aqui em Montalegre.
    E ler o seu comentário tão bonito, tão gentil e tão pessoal fez-me sorrir :)
    Por isso, eu é que lhe agradeço o estar desse lado a ler-me.
    Espero que visite esta região tão bela com gente tão bonita. Eu estarei cá para a receber :)

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Sou uma antropóloga que só pensa em comida...
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