terça-feira, 30 de agosto de 2011

O TENDAL

Tenho um lençol de estopa muito antigo que a minha avó Jesuína me deu quando eu era ainda uma adolescente. Nunca o bordei, embora fosse essa a esperança dela.
Quando era ainda muito miúda, talvez com seis anos, passava as minhas tardes na loja do meu pai e na companhia da minha avó a aprender a bordar. Ponto pé de flor e ponto cheio. Terei aprendido outros pontos. Mas é destes dois que ainda guardo a memória técnica.
Foram muitas as tardes a bordar uma almofada para oferecer à minha mãe no Dia da Mãe. Uma almofada da qual ainda hoje me orgulho. Pela simplicidade que só é permitida a uma criança de seis anos. Os lavores de agulha retomei-os mais tarde, no 9º ano, quando nas aulas de Trabalhos Manuais desenvolvemos trabalhos de tecelagem. Em vez de um trabalho obrigatório, fiz cinco. Mas talvez porque tenha tido a inconsciência de dizer a uma das professoras que ela era uma má profissional (pela rudeza com que nos tratava e por não incentivar os que tinham mais dificuldades) fui penalizada na nota e passei muitos anos até voltar a pegar numa agulha.
O lençol de estopa que a minha avó me deu já esteve para ser transformado em muita coisa. Mas permanece, ainda, preservado de intervenções. Gosto da sua textura grossa. E do frio que sentimos nas pontas dos dedos quando lhe tocamos.



Quando a D. Teresa em Paredes do Rio, por ocasião da Malhada, desenrolou o tendal para impedir que os bagos de centeio voassem para fora da eira, lembrei-me do lençol que a minha avó me deu. Um tendal feito de panos tecidos no tear de D. Teresa. Cheio de memórias de muitas malhadas. Os objetos sem as memórias das pessoas parece que ficam sem alma.

Eu só podia tecer o linho no mês de março porque eram os dias mais grandes e não estava muito calor. O tear é muito puxado. Mas é muito bonito. Até criei piolhos quando deixei de tecer. Os piolhos vêm com o desgosto. Deixei de tecer há 5 ou 6 anos. O tear está novinho. Não tem nada, mas está posto, não tem é teia. (D. Teresa)


2 comentários:

  1. Aqui, por estas terras onde outrora também se plantava linho, ainda guardamos alguns sacos de estopa usados antigamente para forrar os colchões de palha. Alguns dos lençóis de linho mais finos transformaram-se em toalhas de mesas ou noutras peças de adorno mais pequenas, tentando preservar essa memória dos tempos antigos, ainda que re-inventados os usos. O linho, esse já não se cultiva.

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  2. Guida

    E eu julgava que por aí tinha sido sempre só arroz :)
    Ok, quando for aí abaixo, mostras-me esses sacos de estopa
    bj

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