quarta-feira, 21 de setembro de 2011

TOSQUIA NA REBOREDA

Depois de termos passado a manhã a conhecer o interior de alguns dos edifícios das Minas da Borralha que irão ser musealizados, iniciámos a tarde em casa da D. Benta para ver a tosquia das ovelhas.

Em maio os últimos, em setembro os primeiros. A tosquia no mês de maio deve ser feita nos últimos dias e a de setembro nos primeiros. Já vamos no dia 21, mas as obras em casa da D. Benta impediram que o trabalho se fizesse nos primeiros dias.

Em maio para urdume, em setembro para teçumeA tosquia do São Miguel é para tecer e a do maio para urdir. Fica o burel mais tapadinho. Esta lã é mais curtinha, é para o teçume. A outra é mais comprida, é para o urdume. Prende melhor e esta enche melhor porque a gente fia mais grossa para tapar o pano, fica mais grossinha. Para tosquiar, fiar, tecer e levar ao pisão era dia e noite a trabalhar.

Ajudámos, à falta de homens na casa, a pôr as ovelhas mais pesadas em cima da mesa e a tirá-las quando o trabalho estava terminado. Havia sempre dois homens. Os homens ajudavam a tirar o gado, a tosquiar a lã no peito das ovelhas, mas quem fazia o trabalho eram as mulheres.
A lã no peito das ovelhas é cortada antes de se atarem as patas dos animais. É uma lã que não se aproveita por ser demasiado áspera e tem de ser cortada bem rente porque quando faz muito calor a ovelha tem tendência a esfregar-se no chão para arrefecer e suja-se e fere-se com mais facilidade.
A tesoura usada tem mais de 20 anos. Foi trazida da França por um velho amigo criado em casa dos pais de D. Benta. Uma tesoura multiusos que serve também para a costura. Unta-se de azeite quando começa a ficar cheia de ludro e a prender na lã.

Não há rabos para tosquiar. O rabo cortado tem toda a vantagem. De inverno o rabo comprido, quando chove muito e neva, até congela, a lã está cheia de água e está gelada e bate nas pernas das ovelhas e elas chegam à corte a sangrar e os bitchos não se sentem bem, elas de rabo não prestam para nada. Com o rabo curto, de inverno, as ovelhas tornam-se mais fortes, andam mais limpas porque fazem pelo rabo abaixo. Corta-se o rabo e elas medram que eu sei lá. No verão andam mais frescas. Corto o rabo a todas. Com três meses, em sendo tenras pequeninas, nem chegam a botar sangue, meto um baraço, corto com a tesoura da poda. Medram que eu sei lá. E enquanto se tosquia o rabo, tosquia-se o resto da ovelha. Demora muito tempo. A bitcarada do chão sobe pelo rabo. É uma lã cheia de porcaria e não se aproveita.


Terminado o trabalho, tem que se lavar as mãos na mesma bacia por que se diz que por conta de não se lavar as mãos na mesma bacia que as ovelhas que se desvendam. Cada uma irá para seu lado. Uma forma de garantir que nem as ovelhas, nem as pessoas que trabalharam em conjunto se separem. É improvável que venha a acontecer connosco :)

4 comentários:

  1. esta D. Benta deve ser uma delícia :-)
    já a vi, também, num vídeo da Alice.
    ai, os borreguitos a espreitar - lindos

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  2. Imagens lindas, plenas de encanto. Até apetece meter as mãos pelo ecran para afagar a lã e a ovelha!!

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  3. *Suspiro*, que lindeza de post, Daniela. E como parecem delicados os gestos da D. Benta a comparar com os dos tosquiadores da serra da estrela com as suas máquinas eléctricas (onde não se cortam os rabos às ovelhas "porque parece mal").

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